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Em entrevista ao Papelpop, Yungblud diz: “O que te faz ser punk é a liberdade”
Yungblud é o rockstar da geração Z. O cantor inglês, que tem como nome de batismo Dominic Harrison, tem conquistado o coração de quem curte o bom e velho pop-rock. Aos 22 anos o artista traz em suas canções temas relacionados à liberdade individual, tema que ganhou ainda mais camadas em seu mais recente lançamento, o single “Weird!”, lançado em abril.
A canção, o primeiro single do segundo álbum de estúdio do artista (ainda sem nome ou data de lançamento), é sobre entender que por mais que mundo esteja uma bagunça, é importante saber que tudo vai ficar bem. A sensação é esquisita, mas tá tudo certo. Ao Papelpop ele falou mais a respeito da faixa, explicando que a composição é sobre “olhar pra trás e pensar ‘esse foi um momento muito, muito estranho da minha vida'”. Não deixa de fazer alusão ao atual contexto de distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19.
O artista também comentou entre outras coisas sobre quem são os artistas que mudaram sua visão de mundo, suas impressões sobre a cultura punk na era da internet e seu relacionamento com Halsey – com quem namorou por alguns meses em 2019.
Papelpop: Você já comentou em entrevistas que ouve bastante The Cure. E acho que seu cabelo entrega isso um pouco, né? O Robert Smith é uma inspiração pro seu look?
YUNGBLUD: Com certeza! Robert Smith é uma das razões pelas quais tenho esse visual. Sempre fui obcecado por essa androginia que ele tinha, que eu nunca tinha visto. Venho de uma cidade operária no norte da Inglaterra, chamada Doncaster. E tudo lá parece bem masculino, folgado, chuvoso e industrial. Aí eu vi o Robert Smith pela primeira vez, com o cabelo e a maquiagem dele, e me fez pensar que eu poderia ser um garoto feminino. A gente não tem que ser categorizado numa caixa. Eu poderia só ser quem eu era, sabe?
Estou obcecado com “Weird” nesses últimos dias, especialmente porque sinto que ela fala de algumas coisas que nos são impostas como naturais, mas que na verdade não nos fazem bem, como produtividade ao máximo e até a heteronormatividade. Esses pensamentos têm a ver com a inspiração que você teve para a música?
Queria que essa fosse uma canção sobre a vida da nossa geração, em termos de sexualidade, identificação, saúde mental e como a gente se sente. E sobre quando você sente que o chão vai ruir debaixo de seus pés, porque o mundo ao redor parece tão estranho, opressivo e assustador, porque você só está sentindo coisas e o mundo não entende, mas saber que tudo vai ficar bem no fim. E que não importa o quão obscuro ou frustrante isso seja pra você, o tempo vai passar e você vai olhar pra trás e pensar “esse foi um momento muito, muito estranho da minha vida”. Foi o momento antes de eu entender, antes de eu superar minha ansiedade, ou antes de eu dizer às pessoas que eu não queria mais na minha vida que elas estavam me fazendo questionar a mim mesmo a todo momento… ou o momento antes de eu me assumir pros meus pais, ou um pouco antes de eu perceber que meu melhor amigo precisava da minha ajuda. Eu queria colocar todas essas situações numa música e declarar às pessoas que os tempos serão esquisitos e bizarros, mas tudo vai ficar bem no fim, eu prometo.
Você parece muito autêntico no que mostra ao mundo. E isso requere bastante autoconfiança, né? Porque a achar sua autenticidade às vezes faz a gente sentir que está ficando doido, por questionar tantas “verdades” do mundo. Você se sente assim também?
Acho que é doido como na maior parte do tempo é difícil [ser quem você é], porque o mundo e a cultura já estão bem definidos. E eu e minha comunidade, a gente fala muito alto. Então algumas pessoas no topo e no controle não gostam que sejamos tão abertos. Tudo que eu queria como um artista era ser real e fazer as coisas não por agenda, mas porque eu acredito nelas, assim como os que estão ao meu redor. Acho que muita coisa por aí sendo feita com um propósito. E com minha base de fãs, eu não quero estar acima deles, num pedestal. Eu quero ser um deles, porque eu sou igual a você. E a gente está nessa coisa estranha junto. Odeio como alguns de nós [artistas] são tão preso aos títulos e são tão inalcançáveis. Pra mim, isso faz essas pessoas serem cantores, não artistas. Pessoalmente, eu só quero continuar em contato com meus fãs. Isso que é o importante pra mim.
Muito especial saber disso. E você frequentemente é chamado de um rockstar dos tempos atuais. E isso se conecta muito com o que você acabou de falar, né? Ser rockstar pra você é sobre isso de se colocar no mesmo nível dos fãs?
Com certeza! É completamente isso. Lembro que a Patti Smith, uma grande inspiração pra mim, disse que o punk e o rock ’n’ roll não é sobre a música que você está tocando, ou tocar seus instrumentos com força e “blé” [mostrando o dedo médio das duas mãos com cara de deboche]. Isso não é punk. Isso é bobagem que acreditam que as pessoas no punk fazem. Tocar meus instrumentos com mais força, ou ouvir uma música específica vai me fazer ser punk, não. O que te faz de fato ser punk é a liberdade. A liberdade de poder se expressar. Não importa como você o faça. E meus fãs me fazem sentir livre, que eu posso respirar, correr e ser eu mesmo. E isso é punk pra caralho. E eu olho pra galera nos meus shows, todo mundo se expressando, e eu penso “vocês são punk pra caralho”. Eles são muito rock ’n’ roll, porque eles são apenas eles mesmos. Eles são livres e não se importam com a impressão que as pessoas vão ter. Eu vejo a magia no rosto deles e eu só quero apertar aquelas carinhas, sabe?
Que interessante você ter citado Patti Smith, porque ela foi uma das pessoas que me fizeram ler a realidade de outra forma. Quais são os artistas que também tiveram esse efeito em você?
Eu era obcecado pela Lady Gaga, porque ela é igual. Eu era obcecado pelo Marilyn Manson, David Bowie, Patti Smith, Iggy Pop… eu amo Eminem, amo uma garota do Reino Unido chamada Beabadoobee, ela é incrível e muito cool. Amo Frank Ocean, Tyler, The Creator, Billie Eilish… todos esses artistas que são genuinamente falando do tempo deles, sabe? É um tempo muito massa pra música.
Ainda sobre o que você comentou sobre ser punk hoje em dia, como você vê essa relação no contexto atual, do distanciamento social pela pandemia do Covid-19? Porque lá nos anos 70, o punk foi definido pela troca dada em pequenas casas de show, como o CBGB. Mas hoje a gente não pode mais fazer isso, né? Como transportar essa lógica pra internet?
É sobre pensar fora da caixa. E tem muito a ver com meu maior medo. Isso é louco, mas a gente começou como uma pequena comunidade. A gente queria se divertir pra caramba e falar de nossas situações. Aí entrei nesse jogo, nesse sistema, no qual tudo é super hypado, e é terrível. Quando você começa a crescer e crescer, talvez vá se tornando parte daquela máquina… então minha maior tarefa, por mais engraçado que pareça, é entender como crescer e manter as conexões. O tempo todo. É por isso que, todas as vezes que eu faço um FaceTime com alguns fãs. Aliás, família. Que se foda a palavra “fãs”. Eu faço FaceTime com eles, porque eu quero continuar conectado com eles. Todos esses números e blá-blá-blá não são importantes pra mim. É sobre sentir que estamos fazendo a diferença, fazendo um ao outro respirar. E chegar agora a outras pessoas no mundo inteiro e dizer “você sente que você não tem o direito de ser quem é ou dizer o que quer? Saiba que você tem uma voz e algo a dizer”. Você pode dizer isso pra mim e a gente vai te apoiar.
A próxima pergunta vai parecer que é sobre algo pessoal, mas juro que não é. Sua música com a Halsey, “11 Minutes”, é sensacional. Você acha que colaborar com alguém que você conhece bem é mais fácil ou mais difícil? E você pretendem fazer mais música juntos?
Somos melhores amigos. Quando você cria com alguém que você ama e por quem se importa, é a melhor coisa do mundo. É uma coisa muito mágica quando você escreve uma canção que você ama com alguém que você ama e essa pessoa também te ama de volta, sabe? É a mesma coisa quando trabalho com o Gun Machine Kelly. Quando você trabalha com seus amigos, você vê pra além da música e do trabalho. É tipo “uau”, todo mundo fica um pouco arrepiado. É incrível.
E falando do seu processo de criação, como ele tem mudado dadas o contexto de distanciamento social? Você já estava acostumado a gravar coisas em casa?
A gente tem feito um programa [para o YouTube] chamado The Yungblud Show, fazendo capas e gravando… então estamos mais ocupados do que nunca. A gente tem tentado trabalhar o máximo que podemos. Vai ser doido. As músicas vieram muito rápido. O álbum está pronto e mais músicas vão ser lançadas. “Weird” foi um catalisador pra esse projeto. Escrevi ela e depois as canções começaram a vir, porque tive a identidade de como seria o próximo álbum. E estamos lançando um documentário, que mostra o que temos feito semanalmente na quarentena. Estou todo acabado nos vídeos, sem cabelo arrumado. Sem censura, sem maquiagem e sem insegurança.
E esse álbum chegou a ser inspirado pela quarentena, ou tem outros temas?
Não, eu diria que esse disco é sobre a vida. Sobre descoberta e maturidade. Não necessariamente sobre crescer, porque você pode amadurecer com… 72 anos, sabe? É sobre essas experiências. Como eu disse, começou por “Weird”, então o álbum é sobre liberdade sexual, descobrir drogas, se apaixonar, ter seu coração partido, querer ser desejado, masculinidade, saúde, identidade de identidade e de quem você é, ou até sobre seus relacionamentos familiares. O álbum é sobre a vida, porque eu vivi muito desde meu último disco. Eu tinha 19 anos quando lancei meu trabalho anterior. E agora tenho 22 e deu pra viver muita coisa nesses três anos. É doido! E estou muito animado pra ir ao Brasil. Vai ser louco!
Enquanto o disco não chega, vem ouvir “Weird!” com a gente: