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Leandra Leal fala sobre “Aruanas”, que estreia na TV aberta: “Pagamos um preço pela nossa não ação”
Um grupo de quatro mulheres, todas membros de uma ONG ambiental, decide ir até a Amazônia. As ações feitas à distância pela Aruanas, na Grande São Paulo, não têm sido suficientes para barrar as investidas de grileiros e garimpeiros que buscam a qualquer custo explorar a terra.
Para salvar uma importante reserva no coração da selva elas se estabelecem em uma cidade do interior. Vão até o problema, que tempos depois percebem ser mais complexos do que se imagina. A narrativa da primeira temporada de “Aruanas“, exibida na TV aberta quase um ano após seu lançamento na Globoplay, não se restringe apenas a isso. Em seu desenrolar somos apresentados também aos conflitos internos das protagonistas Clara (Thainá Duarte), Verônica (Taís Araújo), Natalie (Débora Falabella) e Luiza (Leandra Leal).
Produzido pela Maria Farinha Filmes em parceria técnica com o grupo Greenpeace, esse thriller ambiental chega ao grande público em um momento delicado, mas não menos oportuno. Dados divulgados no fim de abril pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que os alertas de desmatamento na Amazônia bateram um recorde histórico. No primeiro trimestre de 2020 houve um incremento de 19,9% nas emissões de alerta, se comparado ao mesmo período dos últimos anos.
“Acho um tanto essencial que a série seja exibida agora. Com tudo o que estamos vivendo talvez as pessoas consigam olhar com outros olhos para essas informações que estão lá”, diz Leandra Leal, que interpreta a destemida Luiza. À frente de uma estante de livros, ela fala da sala de casa em uma videochamada com jornalistas.
Sobre os dias de distanciamento social, a atriz conta que tem preferido passar o tempo vendo séries mais leves. “‘Aruanas’ tem uma coisa que vai ao encontro desse momento, porque no fim conseguimos imaginar um futuro feliz e é importante mentalizar isso. Amo ‘The Handmaids Tale’, ‘Years and Years’, mas não conseguiria ver agora”.
A personagem de Leal, inspirada em grande parte na personalidade de uma amiga íntima, e composta ao som de músicas de Patti Smith, outra lenda do ativismo ecológico, enfrenta emblemas que vão além da truculência dos ditos “barões da terra”. O machismo e as dificuldades de se criar um filho estando em uma profissão de risco também são inimigos.
Como um todo, sua história reflete a realidade de quem vive no ativismo: um relatório publicado pela ONG Global Witness em julho de 2019 mostra que o Brasil é o quarto país que mais mata ativistas do ecossistema no mundo. Em 2018 foram pelo menos 20 vítimas.
Ainda que o tom do discurso negacionista tenha subido na gestão atual do governo federal e pautas como a reforma agrária e a demarcação de terras indígenas sejam postas em segundo plano, a atriz diz enxergar pluralidade no debate ecológico. Questionada sobre o que seria necessário para que o assunto não caia no esquecimento, ela atribuiu esse dever ao jornalismo sério e fez críticas à gestão do presidente Jair Bolsonaro.
“Em 2019 tivemos uma mobilização internacional, com as queimadas na Amazônia, e a pauta ambiental é totalmente horizontal, porque não tem polarização”, ela explica. “Não é de direita, esquerda ou de centro, vejo pessoas de diferentes ideologias discutindo isso, mas acho que a gente demorou muito tempo para identificar um desenvolvimento sustentável. Nosso governo atual tem uma política contrária ao meio-ambiente e cabe a vocês, mídia, manter isso sendo discutido”.
Leandra também destacou a importância de uma ampla cobertura midiática, que seja capaz de apresentar o assunto em diferentes esferas e com uma linguagem acessível – especialmente em meio à crise do coronavírus. “Todo mundo fala da Covid-19 agora, e com razão, mas estamos vivenciando outras coisas ao mesmo tempo. Funcionários do Ibama têm sido exonerados, a derrubada das árvores cresce na surdina”, ela denuncia. “Ter no ar uma série que põe em foco esses assuntos e que nos mostra uma responsabilidade, sendo didática sobre o ambientalismo, destaca o poder da ação coletiva”.
Citando a ativista sueca Greta Thundberg, uma das principais vozes na luta contra a crise do clima, Leal falou sobre o papel de jovens empoderados no achatamento da curva dos números do desmatamento. Definindo-os como parte de “um fenômeno”, ela os colocou no centro de uma caminhada para um futuro que descreveu como “precário”. “Por isso é preciso ver as coisas como eles têm visto, como sendo conectadas, e a forma com que somos impactados”.
Em outro frame da tela, mais tímida, estava a atriz Thainá Duarte. Peça-chave da narrativa, ela interpreta a jovem estagiária Clara, que vem do Norte do país, sem grandes perspectivas, em busca de um emprego na Aruanas. É por meio dela que o espectador faz seu contato mais íntimo com o funcionamento de uma ONG de grande atuação, como o Greenpeace. “Ela vai chegando, entendendo as funções de cada um, e assim o público também entende como funciona o processo. Participar desse projeto foi incrível”, conta Thainá.
Sua personagem, ao fim da temporada, talvez seja a que mais sofra mudanças de comportamento. Vítima de um relacionamento abusivo e de exploração sexual no passado, ela lança luz sobre outras problemáticas delicadas que permeiam a história de cada uma das quatro protagonistas e garantem sua profundidade. “São temas pesados, pesquisei bastante antes porque eu sabia que não seria fácil no set, mas a gente se presta a um serviço. Existe um propósito de fazer essa cena e eu saía do set me sentindo realizada”.
“Aruanas” vai ao ar todas as terças-feiras, após a edição especial de “Fina Estampa”. A temporada completa já está disponível na Globoplay.