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Liniker diz ao Papelpop que adoraria fazer dueto com Jorja Smith no Lollapalooza
Na tarde da última segunda-feira (18) nós pudemos ouvir “Goela Abaixo”, segundo álbum de estúdio de Liniker e os Caramelows. O que dá para adiantar é que o disco é grandioso como um todo e lembra um sol de verão, que ilumina e faz todas as canções orbitarem ao seu redor.
Essa nova fase surgiu ainda enquanto eles colhiam os frutos do bem sucedido “Remonta”, álbum de estreia lançado em 2016. Na época em que as primeiras ideias para o projeto apareceram, o grupo rodava o mundo em uma turnê que passou por mais de vinte países.
Naturalmente, a estrada se tornou um ambiente inspirador e confortável o bastante para a criação. O resultado desses meses de imersão em estúdio, seja em Araraquara, interior paulista, seja em Berlim, capital alemã, chega às plataformas no próximo dia 22, sexta-feira.
Pra saber mais sobre esse processo de descoberta, nós quisemos conversar com a banda. Quem atendeu a gente foi a própria Liniker e o músico Rafael Barone, que assina a produção de “Goela Abaixo”. Juntos com o restante da trupe, formada ainda por Renata Éssis, Marja Lenski, Éder Araújo, Fernando TRZ, Péricles Zuanon, Márcio Bortoloti e William Zaharanski, eles retornam um ano depois ao palco do festival Lollapalooza.
Após os problemas enfrentados em 2018 que impediram sua apresentação de continuar, a cantora se disse feliz com o que vem preparando e falou sobre a significância de suas novas canções. Por último, mas não menos importante, Liniker também pediu a nossa ajuda: ela quer um dueto com a Jorja Smith!!! hahahaha
Ajuda aí, Lolla! Vem ler esse papo!
Papelpop: Antes de mais nada, parabéns pelo disco! Ouvi todas as canções e percebi que esse trabalho vem na contramão do “Remonta”. Tô certo?
Liniker: Obrigada! É muito importante pra gente esse retorno. E sim. Eu acho que o processo é bem diferente, até porque ao meu ver, o “Remonta” é um disco mais plástico. Lá a sujeira é uma coisa mais viva.
Sempre ouço as pessoas dizendo que o “Remonta” é um disco muito especial, porque as faixas acabam assumindo novos significados com o passar do tempo. Pra vocês também foi assim?
Liniker: Sim! Eu acho que isso também se deve ao fato de ter sido um processo longo também. A gente ficou muito tempo na estrada com essas canções, foi o primeiro disco de estúdio após o lançamento de “Cru”, que é nosso primeiro EP e primeira aparição. Então é um trabalho que ganha vida conforme vai sendo tocado e levado pra estrada. Aos poucos fomos entendendo o que era mais adequado. “Remonta”, aliás é fundamental em essência para nós, por dar base a vários outros, a várias pessoas. Isso rende muito assunto, reverbera, e eu sinto que só entramos nesses lugares porque tem coisa que precisa ser dita e entendida.
Parte das gravações de “Goela Abaixo” foi feita na Europa e vocês acabaram concebendo o projeto na estrada. Foram mais de vinte países nesse meio tempo… De que maneira isso foi inspirador?
Liniker: A gente decidiu que gravaria já durante a turnê. Você ouviu e pode perceber que o Barone fez um trabalho minucioso de captar o som e a essência desses lugares. Ter passado pela Europa, gravar em Berlim, Lisboa, ou mesmo na casa do batera, na minha casa… tudo isso trouxe uma vida diferente da que o projeto teria ganhado se simplesmente tivéssemos ido ao estúdio. Esse disco tem uma alma adulta e livre que caminha por si só e isso agregou muito ao processo de produção.
Barone: Isso. A gente gravou em dez espaços diferentes, e eu digo isso porque alguns lugares não eram estúdios. Foi algo bem orgânico. Começamos a pensar o projeto do disco em 2017, aqui mesmo em São Paulo. Aí tivemos um hiato no final do ano e quando voltamos, a Lini já tinha várias canções prontas pra gente começar a trabalhar. Na sequência surgiram oportunidades na Alemanha e vimos que existia a possibilidade de aproveitarmos três dias lá. Em Lisboa aconteceu a mesma coisa. Estávamos em contato com a Mallu (Magalhães) e o Marcelo Camelo, então gravamos no Estúdio da Estrela, que é deles… Foi rolando naturalmente. Aliás, as duas músicas mais intimistas do disco, “Claridades” e “Intimidade”, tem uma base muito forte de piano. A Liniker tem um desses instrumentos no hall da casa dela…
Liniker: …Um piano roubado da Céu (risos).
Barone: …e ele tem uma sonoridade muito específica. Trabalhamos ali mesmo e isso sintetiza essa escolha nossa de sair ocupando diversos espaços. O maior desafio mesmo foi lidar com esse cronograma maluco. Mas a sorte é que eu tenho ascendente em Virgem e amo planilhas!
O som é uma questão interessante, porque conversa com as nossas origens. Existem referências africanas e latino-americanas muito claras, seja pelo uso de alguns instrumentos ou pela presença da Florence e da Lizzy, duas cantoras de Gana. De onde surgiu a ideia de resgatar isso?
Barone: Ah, vem muito das nossas pesquisas individuais. Temos um grupo com todo mundo da banda no WhatsApp e é lá onde trocamos muitas referências. Além dessa bagagem, passamos a ouvir muita coisa juntos. Esse fio condutor é, na verdade, vários fios em paralelo. A música africana é uma base geral, porque todos os ritmos tem raiz lá, de certa forma. A música latina, por sua vez, vem daqui, de onde nascemos e vivemos. E a soul music, por sua vez, é a nossa grande cama, o nosso maior norte inspirador. A Marja Lenski, nossa percussionista, tem um trabalho sobre música centro-americana bem forte. Nessa troca, geralmente a Lini traz a ideia central da música e a gente começa a pensar junto como isso vai ser desenvolvido, tentamos, fazemos uma mistura e isso acaba originando uma coisa muito nossa. Nesse disco especialmente tentamos explorar ao máximo o ponto de vista de produção ao captar roupagens e texturas que tivessem uma base nos anos 1960, seja pela timbragem, pelos tipos de baterias e pratas, ou mesmo pelas guitarras e microfones usados.
Uma das faixas que mais me chamou a atenção foi “Goela”, que além de faixa título, acaba sendo a síntese desse álbum. Existe um coral de mulheres, como foi trabalhar com elas?
Liniker: Foi muito legal porque eu acho que o “Goela” é um disco onde as essências feminina, transgressora e libertária estão muito nítidas e vívidas, de fato. Quando penso no “Remonta”, vejo várias projeções amorosas e carinhos que não aconteciam. Agora, as músicas novas estão no presente, no agora, focadas em vivencias reais que estão aqui e que não são idealizadas. Convidamos Linn da Quebrada, Mel Gonçalves, Juliana Strassacapa, Ayiosha Avellar, Natália Nery, Grasielli Gontijo, Tássia Reis, Lina Pereira, Josyara e a Renata, que é nossa integrante. Esse coro todo de mulheres que eu admiro muito trouxe uma vida mt forte. É um disco de vida, de vivencias, de potência.
Também tem featuring com a Mahmundi em “Bem Bom”, que pelo que eu andei lendo, é uma das que o público anda mais curioso…
Liniker: Ah, esse namoro com a Mahmundi acontece há um bom tempo. Eu admiro muito o trabalho dela, é uma querida e tem se tornado cada vez mais presente na minha vida. Compomos essa faixa naturalmente. Ela tava em São Paulo e temos um casal de amigos em comum, o Danilo e a Raquel. Um dia, conversando com eles sobre as viagens e as experiencias que eu tive, ela pegou o violão e deu a nota. Eu disse “mmmm”. Na mesma hora ela me convidou. “Pretinha, vamos gravar uma musica no disco?”. Escrevemos e então ela e o Barone fizeram uma produção conjunta. Quando a gente chegou no estúdio foi lindo! Eu fico feliz demais em poder gravar com alguém dessa geração que agrega tanto e tem coisas tão bonitas feitas ao longo da carreira. É foda!
As composições falam de temas como expectativa, entrega, tempo e desejo e pensando nisso, Vocês acham que a música, quando tratada de uma forma tão intensa, é capaz de deixar as pessoas sensíveis com mais facilidade?
Lini: Eu acho que a música tem o dom de tocar um lado sensorial das pessoas. Quando a gente compõe e canta, tenta arrancar o que tá lá dentro, trazer isso pra fora. Eu acho muito legal quando a partir de uma faixa as pessoas sentem o que você quis expor, seja cantando ou através de um riff, um baixo, uma bateria mais swingada. Isso tudo está muito linkado, existe uma sintonia entre o que é som e o que é desejo, sensação. Esse disco novo fala muito dos processos de ansiedade, de crises que a gente se vê por se cobrar o tempo inteiro e querer dar respostas que supram tudo. É preciso ficar mais tranquilo, na paz e deixar as nossas projeções serem mais fluidas mesmo.
Barone: Eu concordo super com a Lini, existem algumas questões muito subjetivas e acho que a musica tem esse lugar de fala especial, de conseguir ir além do objetivo de uma primeira vista, trazer uma coisa que para você vai fazer sentindo em uma segunda ou terceira escuta. Essas camadas, algumas pensadas, outras não, são traduzidas em tantos momentos. Eu acredito super nesse potencial, nessa importância…
Em abril vocês tocam no Lolla e o line-up veio cheio de artistas maravilhosas. Da música brasileira mesmo tem Salma Jô, Iza, Duda Beat e Letrux e isso me lembrou do “Acorda, Amor!”, espetáculo que você participou ano passado. Esse show traz pautas muito pertinentes e eu gostaria de saber se o projeto já foi encerrado ou ainda podem acontecer algumas apresentações no futuro.
Liniker: Nossa, foi muito importante pra gente enquanto união dessas cantoras tão diferentes que se juntaram pra falar de temas comuns e necessários. Por enquanto não temos dito nada, mas quando tivermos tempo na agenda a gente pode fazer. É ótimo estar em parceria. Nesse começo de ano, eu sigo bem focada na banda, no processo de lançamento do “Goela” e na turnê. Mas só por estarmos em movimento já me sinto unida com as demais. Cada uma projeta o seu trabalho pra se sentir unida enquanto linguagem e estrutura. E sobre o Lolla, a gente tá bem feliz em poder retornar depois do ano passado. Tivemos algumas dificuldades e vamos voltar. Vai ser lindo ver esse palco tão diverso, com tantas propostas interessantes de música e, claro, essa possibilidade de troca com essa galera.
Esta era justamente a minha próxima pergunta. Em 2018 o seu show no festival precisou ser encerrado antes da hora, foi muito chato. Como tá esse ano, Liniker? Vocês falaram com a organização, vai ser pra arrasar? A gente nunca espera menos!
Liniker: Sempre é! A gente nunca faz pouco. Vai ser bem especial, vamos reunir algumas coisas do “Goela”, do “Remonta”… tanto o que o público já gosta de ouvir, quanto essas novas músicas.
A propósito, vocês tocam, mas também precisam curtir. Qual das apresentações vocês querem muito ver?
Liniker: Eu na verdade queria uma participação especial e quero pedir ajuda ao Papelpop. Eu quero cantar com a Jorja Smith. Me ajudem, por favor, façam isso acontecer!!! Mas, de verdade, além dela, que é minha maior expectativa sem dúvida, quero assistir St. Vincent, Kendrick Lamar… e Letrux.
Barone: Eu tô com Lini, quero muito ver a Jorja. Ela é incrível!
“Goela Abaixo”, novo álbum de Liniker e os Caramelows, chega às plataformas nos primeiros minutos do dia 22, próxima sexta. Mal podemos esperar!