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Eutanásia e crise climática: como é “O Quarto Ao Lado”, filme de Almodóvar que estreia hoje (24)

Os lançamentos feitos pelo cineasta Pedro Almodóvar são sempre aguardados com grande expectativa. Desta vez, talvez, há uma série de motivos que tornam “O Quarto Ao Lado” um tanto quanto especial.

Mais do que isso, digno de ter recebido 17 minutos de aplausos no Festival Internacional de Cinema de Veneza, na Itália, e que estreia, nesta quarta-feira (24), no circuito comercial de cinemas aqui no Brasil.

Neste drama, somos apresentados à complexa relação entre uma mãe (repórter de guerra, interpretada por Tilda Swinton) e sua filha. Elas brigam por uma questão íntima enquanto uma escritora e amiga da família, por sua vez vivida por Julianne Moore, busca intervir.

As gravações tiveram como locações as cidades de Madrid e Nova York e, claro, como pano de fundo as tradicionais cores responsáveis por consagrar a filmografia do cineasta espanhol.

Abaixo, listamos para você alguns motivos que fazem desta estreia uma das mais importantes da carreira de Almodóvar — para além do fato de o mesmo ter levado para casa o Leão de Ouro, no festival de Cannes 2024. Vem com a gente!

Elenco e idioma

Como já explicamos, “O Quarto Ao Lado” é protagonizado por suas lendas do cinema internacional.

Além de Tilda Swinton, considerada por muitos uma das atrizes mais talentosas de sua geração; a obra também divide os holofotes com Julianne Moore, um ícone da dramaturgia.

As duas receberam a missão importante de conduzir o primeiro longa de Pedro Almodóvar rodado totalmente em inglês. 

O feito adiciona outras camadas à sua filmografia, que em 2022 já tinha feito um ensaio desse movimento, veja só, através do curta “A Vida Humana”. Tratava-se de um monólogo de Jean Cocteau, adaptado unicamente por Swinton.

É possível assistir à obra no Globoplay e entender as aproximações feitas por Almodóvar, percebendo ao fim que ali atrás já havia um interesse em expandir seu universo.

O resultado, quatro anos depois, é uma obra sensível e que se calca em fortes sentimentos, como veremos a seguir nas palavras do próprio autor.

Conflitos familiares e mundo afora

“Esta foi uma gravação muito emocionante e, de certa forma, abençoada. As pessoas falam muito em meus filmes.

Entre todos os elementos narrativos (todos importantes e nos quais estou incondicionalmente envolvido), são os atores que realmente contam a história”, explicou Almodóvar à equipe de comunicação do Festival de Veneza.

Foi difícil segurar as lágrimas vendo essas duas lendas em cena, de modo que, ainda nas palavras do realizador, “as protagonistas de ‘O Quarto Ao Lado’ carregam o peso total desse filme em seus ombros, e elas são um espetáculo”. Não resta dúvida!

(Foto: Divulgação/El Deseo)

A personagem de Tilda Swinton também deve expor marcas de seu período como correspondente de guerra, levantando questões pertinentes ao presente com pelo menos duas grandes guerras em andamento, com especiais destaques para o conflito entre Ucrânia e Rússia, bem como o genocídio promovido por Israel em Gaza.

Fica difícil não ressoar, através do cinema, o que acontece nesses lugares, mostrando a atemporalidade e a presença do discurso almodovariano.

Direito à eutanásia

O desejo de Pedro Almodóvar em abordar temas sensíveis não é uma novidade: em obras anteriores, como por exemplo “Volver” (2007), o cineasta já havia falado sobre abuso sexual. Em “Tudo Sobre Minha Mãe”, abordou o drama da epidemia de AIDS.

Já em “A Pele Que Habito”, falou sobre mudança de gênero. Um dos temas que mais chamou a atenção nas críticas já publicadas sobre “O Quarto Ao Lado” foi a eutanásia. 

(Foto: Divulgação/El Deseo)

“[A eutanásia] É algo que eu admiro na personagem de Tilda, ela decide que dar um basta no câncer só pode ser algo alcançado através dessa escolha. ‘Se eu me antecipar, o câncer não vai me vencer’, ela diz em uma das cenas. Então, ela encontra um jeito de fazer isso com a ajuda de uma amiga, mas elas tem que se comportar como se fossem criminosas”, explicou, em entrevista coletiva (via Variety).

Na mesma ocasião, o cineasta comentou que este “deveria ser um direito de todos” e que ele próprio “não tem medo da morte”. “Acho que toda a jornada para aceitar a morte pode ser longa para algumas pessoas, mas, por algum motivo, devido a certas experiências na minha vida, eu me tornei consciente mais cedo. Eu sei que está chegando”, disse.

Mudanças climáticas

Não para por aí e nosso papi parece obstinado a abrir os olhos do mundo. No embalo, a obra também se centra na ansiedade provocada pelas mudanças climáticas. Um dos personagens, segundo a BBC, oferece palestras niilistas sobre o tema, decepcionando os que estão à sua volta.

O filme, nas palavras do próprio Almodóvar, reflete “o estado do planeta e o estado das pessoas”. Fica claro que, uma vez disponível nos cinemas, “O Quarto Ao Lado” será um marco na vindoura temporada de premiações.

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