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(Foto: Divulgação)
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cinema

“Queer”: como é o livro do filme que traz romance entre Daniel Craig e Drew Starkey

“Quando eu vivia na Cidade do México no final dos anos 1940, era uma cidade com um milhão de habitantes, com um ar claro e cintilante e um céu daquela tonalidade especial de azul que combina tão bem com abutres circulantes, sangue e areia—o cru e ameaçador azul mexicano. Eu gostei da Cidade do México desde o primeiro dia da minha primeira visita. Em 1949, era um lugar barato para se viver, com uma grande colônia de estrangeiros, bordéis e restaurantes fabulosos, rinhas de galo e touradas, e toda diversão imaginável. Um homem solteiro podia viver bem ali por dois dólares por dia. Um incidente me envolvendo em Nova Orleans, por posse de heroína e maconha, parecia tão despromissor que decidi não comparecer à data do julgamento, e aluguei um apartamento em um bairro tranquilo e de classe média da Cidade do México”.

Esta é a introdução do livro “Queer”, obra do escritor norte-americano William Burroughs que chega, em breve, aos cinemas e estreia no Festival de Cinema de Veneza, em curso na Itália.

Adaptado por Luca Guadagnino, celebrado cineasta italiano que vem conquistando uma enorme atenção por parte de público e crítica através de filmes como “Me Chame Pelo Seu Nome” (2018) e “Rivais” (2024), o filme em questão terá como protagonistas os atores Drew Starkey e Daniel Craig, que interpreta William Lee, um ex-patriado norte-americano que decide ir ao México após se encrencar com drogas.

É nesse ambiente marginal que o personagem se esbarra com Allerton (Drew Starkey), um rapaz viciado em drogas e que, justamente por isso, foi expulso da Marinha. Allerton passa a ceder aos encantos de Lee só para vê-lo obcecado por si — uma escolha que pode provocar desdobramentos catastróficos. B

em, por ora o longa ainda não tem data para chegar aos cinemas do Brasil, mas já há grande expectativa. Vamos repassar alguns pontos essenciais antes de assisti-lo?

Quem foi o autor

Reportagem | William Burroughs | Biblioteca Pública do Paraná

Foto: Reprodução

William Burroughs, que estudou literatura em Harvard e depois medicina em Viena, na Áustria, só chegou ao Brasil quando as editoras Brasiliense e L&PM traduziram diversas obras da chamada literatura beat. Seu primeiro volume a ocupar as prateleiras foi “Cartas ao Yage”, uma seleção de correspondências do autor com Allen Ginsberg, outro nome famoso no gênero literário, em que tratavam essencialmente sobre a procura de um chá alucinógeno. Eles falavam de ayahuasca, bebida capaz de provocar alterações na consciência.

Homossexual, destemido e aberto às novidades, ele nasceu em em Saint Louis, no Missouri (EUA), e passou por um evento trágico definidor de sua trajetória: casado duas vezes com mulheres, o autor era fascinado por armas de fogo. Em uma brincadeira, matou a última das esposas por acidente, em 1952. Foi o ponto de partida para que decidisse mudar a rota e explorar o submundo de grandes cidades como Nova York, mas também em lugares como a América do Sul, a França e o Marrocos, onde aliás chegou a morar. Ainda que seus últimos 15 anos de vida tenham sido quietos, a literatura marcou para sempre seu interesse por temas e situações pulsantes.

Ainda hoje, seu legado é celebrado como sendo um ícone disruptivo, responsável por inspirar gerações mesmo 27 anos após sua morte. Em resumo, ele sintetiza um famoso ditado, com as devidas adaptações: “William Burroughs não nasceu e, sim, estreou”.

A história e as drogas

Em “Queer”, conseguimos vislumbrar um pouco da própria relação do autor com as drogas, uma vez que foi dependente químico por décadas. Primeiro, da morfina. Depois, aderiu a outros opiáceos como heroína, dilaudid, oxicodona e codeína, além de psicoativos.

“A guerra contra as drogas é um pretexto sujo para reforçar o aparato policial em cima dos indivíduos”, chegou a criticar o escritor em entrevista à Folha de S.Paulo, em 1994.

Mas, em 1952, quando escreveu “Queer” (só publicado mais de 30 anos depois), Burroughs decidiu se jogar na criação de um alterego que, você já deve imaginar, é William Lee. Ele também vai estrelar os romances “Junky” e “Almoço Nu” e surge, justamente, durante uma crise de abstinência em que tenta superar, através do álcool, uma paixão obsessiva.

Ele próprio haveria de explicar, no prólogo da primeira edição, lançada em 1985:

“Minhas motivações para escrever esse livro eram mais complexas e não estão claras para mim no momento. Por que eu deveria querer registrar tão cuidadosamente essas memórias extremamente dolorosas, desagradáveis e dilacerantes? Embora eu tenha escrito coisas similares em “Junky”, sinto que o principal estava sendo escrito em “Queer”. Também estava me esforçando para garantir uma escrita futura, para corrigir os registros: escrever como uma forma de inoculação. Assim que algo é escrito, perde o poder de surpresa, assim como um vírus perde sua vantagem quando um vírus enfraquecido criou anticorpos alertas. Assim, consegui uma certa imunidade contra novos empreendimentos perigosos nesse sentido ao registrar minha experiência”.

O autor nos ajuda, também, a ter uma ideia do que esperar do elogiadíssimo papel de Daniel Craig. Segundo as palavras do Burroughs, ele deve servir drama e emoções.

“Um viciado tem pouco cuidado com sua imagem. Ele usa as roupas mais sujas e desgastadas e não sente necessidade de chamar atenção para si mesmo. Essa desintegração da autoimagem frequentemente resulta em uma fome indiscriminada por imagem. Em ‘Queer’, Lee está desintegrado, desesperadamente necessitado de contato, completamente inseguro de si mesmo e de seu propósito (…). Mas, sob efeito da heroína, ele está coberto, protegido e também severamente limitado. A heroína não só interrompe o desejo sexual, mas também atenua as reações emocionais até o ponto de desaparecimento, dependendo da dosagem”.

O que estão dizendo por aí

Nos Estados Unidos, a prèmiere acontece no Festival de Cinema de Nova York, que em sua 62ª edição ocorre a partir de 7 de outubro. Em conversa com a revista Vanity Fair, bem antes, o diretor do Festival de Cinema de Veneza, o crítico e curador Alberto Barbera, afirmou que o novo projeto do cineasta Luca Guadagnino é, até o momento, “seu melhor filme”.

(Foto: Divulgação)

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“É um filme muito pessoal, muito original, lindo do ponto de vista visual. E todas as performances são absolutamente extraordinárias”, argumentou, também fazendo novos elogios à atuação de Craig.

“Ele interpreta um homem gay de uma maneira muito direta e corajosa, incluindo algumas cenas de sexo que são bastante intensas. Acho que é a melhor performance da carreira dele até agora. O mesmo para Joaquin Phoenix em ‘Coringa: Delírio a Dois’. São duas atuações realmente marcantes.”

Como pouquíssimas pessoas assistiram, a expectativa fica nas alturas. Até o presente momento, aguardamos mais detalhes sobre a data de estreia no circuito internacional. Quantos minutos de aplausos você aposta que a obra terá?

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