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Fernanda Torres no cinema: um passeio pela carreira da estrela de “Ainda Estou Aqui”

O novo filme do cineasta brasileiro Walter Salles, “Ainda Estou Aqui“, foi coroado com o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cinema de Veneza, na Itália.

A mostra, que teve início na última semana, abrigou a primeira exibição que se encerrou tanto com Salles quanto Fernanda Torres ovacionados por mais de dez minutos.

A obra é inspirada no livro de Marcelo Rubens Paiva que trata sobre a relação da clã Paiva com o desaparecimento do patriarca, morto pela ditadura militar.

Fernanda Montenegro vive Eunice, a mãe do escritor, já no fim da vida, enquanto convive com a Doença de Alzheimer. Além de Torres, o elenco tem ainda Selton Mello, Marjorie Estiano, Antonio Saboia, Olivia Torres, Humberto Carrão, Maeve Jinkings e mais.

Em sua análise, a revista norte-americana Variety ressaltou como o diretor construiu um retrato “profundamente comovente da memória sensorial de uma família e uma nação rompidas”. O texto também foi direto ao ponto quanto à mensagem de Salles sobre possíveis ameaças antidemocráticas no país.

“O fato de o filme terminar com o clã agora ainda mais ampliado de Eunice reunido novamente em um jardim arejado para uma fotografia familiar sorridente transforma-o em uma história de advertência, endereçada às forças no Brasil e além, que buscam um retorno à repressão e ao governo pelo medo. (…) O povo que vocês tentam oprimir viverá para ver vocês sendo desaprovados e rejeitados pela história, enquanto aqueles que resistem terão canções e histórias escritas sobre eles. Eles inspirarão música e arte em celebração de suas vidas e terão filmes tão comoventes e belos quanto “Ainda Estou Aqui” feitos em sua honra”.

O trabalho de Fernanda Torres, que dá vida à protagonista, não poderia ter sido mais elogiado. É nesse embalo que ela, eventualmente, vem ganhando destaque e mostrando que a possibilidade de disputar os mesmos prêmios que sua mãe — a dama da dramaturgia, Fernanda Montenegro, que concorreu nos anos finais da década de 1990 com “Central do Brasil” — é cada vez mais tangível.

É pensando nesse panorama que o Papelpop decidiu revisitar a carreira de Torres no cinema. Além de escritora e atriz de TV, ela construiu ao longo dos últimos anos uma filmografia digna de orgulho, que vai do drama à comédia.

“Inocência” (1983)

Onde ver: Globoplay

Estreia de Fernanda Torres nos cinemas, esta obra nos conduz até o Brasil imperial para acompanhar o romance de um médico itinerante com uma jovem adoecida por malária.

Os dois não podem mais esconder o que sentem um pelo outro, mas o pai da moça, seguindo as normas da época, já havia prometido sua mãe a um rico latifundiário. Cirino, que é interpretado pelo jovem Edson Celulari, e Inocência, vivida por Torres, precisarão lutar para consumar esse amor, dirigido e roteirizado por Walter Lima Junior.

“Eu Sei Que Vou Te Amar” (1986)

Onde ver: MUBI 

Um novo casal protagoniza este drama de Arnaldo Jabor, que foi indicado à Palma de Ouro em Cannes (FR) e deu a Fernanda Torres a vitória do troféu de Melhor Interpretação Feminina no mesmo festival. Ao lado de Thales Pan Chacon, ela resolve encarar um jogo da verdade que se desenrola sob o manto da psicanálise, entre gargalhadas e lágrimas.

Pais de um filho e separados, os personagens se reencontram para falar sobre tudo o que aconteceu nos meses em que ficaram longe um do outro. O resultado é um confronto de ideias e pensamentos registrado frente às câmeras como poucas vezes se viu no cinema brasileiro.

“Terra Estrangeira” (1995)

Onde ver: Netflix 

Amor e política se misturam neste filme que marca a primeira parceria de Fernanda Torres e Walter Salles. “Terra Estrangeira”, ambientado em meados da década de 1990, repassa os dramas e mazelas deixados pelo governo Collor (1990-1992).

Sem qualquer perspectiva, o jovem Paco decide ir a Portugal para levar uma encomenda misteriosa. Lá, ele se encontra com a brasileira Alex e o marido, Miguel. O que nenhum deles espera é que o esquema faz parte de uma quadrilha de contrabando que tornará as vidas de todos um verdadeiro inferno.

A obra foi eleita, em novembro de 2015, como um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos, de acordo com a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine).

“O Que É Isso, Companheiro?” (1997)

Onde ver: Globoplay

Em plena ditadura militar (1964-1988), os amigos Fernando e César decidem ingressar na luta armada. É fim dos anos 1960, período de maior repressão. Neste contexto difícil, eles decidem fazer parte de um grupo guerrilheiro de esquerda e, em uma das ações, César acaba se ferindo e capturado.

Como moeda de troca, Fernando planeja sequestrar o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, a fim de negociar sua liberdade. Eletrizante, a obra narra o episódio baseada na história de Fernando Gabeira, retrada em livro homônimo — ainda que com as devidas licenças poéticas. Em 1998, a obra concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro naquele ano.

“Casa de Areia” (2005)

Onde ver: YouTube

Fernanda Torres e a mãe, Fernanda Montenegro, dividiram a tela de maneira ainda mais explícita em 2005, no longa “Casa de Areia”. A parceria, que se estendeu a séries de TV e produções de teatro, teve a direção de Andrucha Waddington, atual marido de Torres, e conta como, em 1910, o português Vasco leva a esposa grávida, Áurea, e a sogra, Maria, em busca de uma vida em terras prósperas.

O sonho se esfacela quando estes descobrem, ao longo de uma caravana, que o lugar é na verdade inóspito. Com a morte do marido, Áurea decide ficar até que sua filha nasça — uma tarefa que pode custar caro, uma vez que a areia as cerca por todos os lados e pode soterrar a casa a qualquer momento.

“Os Normais: o filme” (2003)

Onde ver: Filme indisponível em streaming/Série completa no Globoplay.

Um clássico da TV, “Os Normais”, escrito pelo casal Fernanda Young e Alexandre Machado, ganhou também um filme. A ideia do longa, que destaca a brilhante parceria de Fernanda Torres e Luís Fernando Guimarães como Vani e Rui, é mostrar como ambos se conheceram.

Para isso, desemboca na coincidência de seus casamentos que ocorreriam no mesmo dia, na mesma sacristia, mas com parceiros diferentes. O encontro provoca confusões a perder de vista e o surgimento de uma relação que, duradoura, transformaria suas vidas em uma permanente gargalhada.

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