Chegou ao streaming no fim de agosto, com o patrocínio da Natura Musical, o disco “EPIFANIA”. É estreia da cantora gaúcha Cristal, que se inspira em nomes como Tim Maia, Cassiano e Sandra de Sá para fazer, no presente, um som capaz de reinventar um gênero já moderníssimo lá atrás: o soul.
Entre questões como amor, orgulho, negritude e irmandade, a artista subverte imaginários pré-concebidos da música sulista tradicional. Na companhia de nomes como Drik Barbosa, Paulo Dionísio e Bira Mattos, além das irmãs Kenia e Quinara, suas backing vocals, ela constrói um LP intenso e que propõe ao ouvinte uma jornada sonora.
“Eu sou isso: uma mistura de memórias, pedaços meus e histórias que me contaram. Sou um pouco de cada gosto dos meus tios, da minha mãe, dos meus primos, da minha avó. E percebi que até os familiares que já se foram se faziam presentes por meio dos discos que ouvia”, diz ela, que revisita o passado para construir sua própria identidade.
Na entrevista a seguir, Cristal apresenta o novo LP e aquilo que a guia enquanto artista. Fazer música é, mais do que nunca, uma necessidade.
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PAPELPOP: O título do álbum é “EPIFANIA”, uma palavra solitária, profunda, cheia de sentidos. Para você, enquanto artista, o que ela significa?
Cristal: Eu fiquei um tempo sem lançar nenhum projeto ”sólido”, como EP ou Mixtape. Então eu sentia que estava na hora de lançar meu primeiro álbum, mas não queria que fosse nada simples, ou óbvio. Queria uma construção, uma história. Eu parei de ”forçar” a resposta e mergulhei em pesquisas, só curtindo músicas que já estavam no meu universo familiar. Quando percebi que meus olhos brilhavam ao ouvir, (dessa vez com outra percepção agora como artista e não mais criança) eu pensei ”Cara, é isso!”. São essas vozes (Tim Maia, Cassiano, Sandra de Sá…) que me acompanham a vida toda. Foi um estalo, um xeque-mate, uma EPIFANIA! A partir do momento que me projetei fora das expectativas do público, me abriram mil portas, mil ideias. E eu procurei uma palavra que pudesse traduzir essa ”descoberta”. E estava lá: ”Revelação a partir de algo inesperado; percepção intuitiva: aquela ideia genial resultou de uma epifania”. E entre tantos significados em cada área: religião, psicologia, literatura. Todas contemplavam o sentimento.
Você diz que o projeto surge a partir de um momento de introspecção, em que memórias, sonhos e sentimentos se tornaram mais fortes. Como lida com a nostalgia enquanto ferramenta de criação?
O produto sempre é emocionante quando o processo é dolorido. Retomar histórias e a partida do meu Tio Doni, grande inspiração para todo esse projeto acontecer, não foi tão fácil. Eu não cheguei a conhecê-lo em vida, mas de forma espiritual ele sempre se fez muito presente. Quis dar continuidade aos sonhos de jovem artista, criativo e poeta de Daniel. Ao mesmo tempo que era dolorido, entre lágrimas, tinha muita alegria nas histórias contadas. Como meus tios se divertiam nas festas, quais músicas, artistas meu Tio Doni gostava, como era o jeito dele… Eu entendi que minha missão como artista é eternizar a vida das pessoas, eternizar a minha vida na arte. Então não consigo não entregar um pouco de mim em cada trabalho. Eu vivo música, eu vivo arte o tempo todo, tudo vira poesia, tudo vira aprendizado, eu ouço uma música que me aconselha sobre algo, eu vejo um quadro que me diz algo, eu vejo um filme que me emociona. Eu não consigo, não ser eu. E eu sou isso, feita de lembranças, de perdas, de saudade! De curiosidade, de insegurança, de confiança, de medo e coragem. Sou eu, e minha música não consegue mentir.
A sonoridade do seu álbum é muito rica. Como foi a pesquisa para descobrir a direção desses sons, os caminhos de cada instrumental do LP?
Eu digo que ”Viajei por todos esses vinis”, e foi literalmente uma imersão, não só de forma teórica e pesquisa, mas de sentir o que eu estava ouvindo. De me tornar presente e entender tudo e todo elemento que as músicas me traziam. Fiz um guia criativo para cada faixa, começou com 10 faixas e terminamos em 11. Cada faixa tinha uma direção com referências,e palavras-chave que queria passar. Junto com MDN Beatz (meu primo e produtor) construí a direção musical do álbum com base nesse guia criativo. Não queria que fosse uma cópia das obras, queria que fosse meu e que desse pra identificar de onde vem essa inspiração.
Em paralelo ao álbum, uma animação de 20 minutos traz a história da personagem “Soul” em busca do ritmo de guia desta nova fase. Que relação você tem com a animação? Tem o hábito de assisti-las, ou mesmo tem séries ou filmes favoritos?
Eu amo animações, em filmes, em séries… Eu amo! Desde criança essa paixão me acompanha, e realizei um sonho de poder fazer a minha. Queria poder ilustrar meu processo criativo e de construção como nova artista, queria que o público pudesse fazer parte disso. A ”Soul” me conecta com o público pra contar essa jornada, e o seu mentor ”Doni” representa e homenageia meu Tio Doni. O filme tem um pouco de ”MIDNIGHT GOSPEL”, ”Alice No País das Maravilhas” e ”ENTERGALATIC”.
O disco também se atravessa pela dicotomia de conselhos e respostas. É importante pra você que o artista esteja sempre se questionando?
Sempre! Como disse a Nina Simone: ” Ser artista é refletir os tempos.” E quando eu sinto que começo a estagnar no âmbito criativo, eu paro e tento refrescar minha mente, absorver novas ideias, conhecer outros artistas, outras obras. Preciso me reinventar, não consigo ficar a mesma sempre. Eu mesma já tô me segurando, já tenho uns projetos escritos pro futuro. Eu preciso de mudanças!
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“EPIFANIA”, o álbum de estreia de Cristal, está em todos os tocadores!
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