Para Baco Exu do Blues, a música é como uma isca. A ideia por trás de cada letra e melodia é convocar o público a se debruçar sobre os temas cantados, mesmo quando parecem ser apenas amor e sexo em seus sentidos mais ordinários e carnais.
“Eu tenho muito mais camadas do que as pessoas acham que tenho”, explica o rapper de 28 anos, natural de Salvador, em entrevista concedida para o Papelpop, ao ser questionado sobre o fato de tratar muito sobre estes dois temas.
Em “Fetiche”, EP lançado na última quarta-feira (26), ele comprova sua proposta e incita os ouvintes a mergulharem na origem da hipersexualização dos corpos negros. Ao resgatar a palavra “fetiche”, ele pretende denunciar como os colonizadores associaram a falta de moral e a selvageria aos povos africanos.
Ele entende e dispensa o bom físico e, consequentemente, o sexo como únicas qualidades atribuídas à população preta pelos brancos, decidindo subverter. Fala sobre desejo, é claro, mas não de um lugar incumbido de irracionalidade.
“É sexo? Sim, mas, dessa forma que estou fazendo e vindo desse contexto, representa muito mais. Representa a liberdade de um lugar de hipersexualização e mostra que sou muito mais que só um corpo, que eu tenho outras armas e qualidades além do desejo”, afirma Baco.
Com seu propósito bem definido, ele não se abala com as eventuais críticas que recebe: “Se as pessoas não aceitam isso, elas estão em uma narrativa criada por três estruturas: ciência, filosofia e religião. E aí é um problema delas, não meu”.
“Tem uma coisa que acontece com todo trabalho meu: depois de um tempo, as pessoas começam a entender certas coisas. Às vezes, elas só não entenderam, não pararam para olhar o geral, e vão falar o que tiverem que falar”, acrescenta.
O conceito ganha ainda mais vida em um curta-metragem dirigido por Camila Cornelsen e rodado em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte. No filme, Baco é o desejo pulsante no imaginário de uma mulher branca.
“O que [Camila] fez foi absurdo. Ela teve a sensibilidade para, mesmo com o fio narrativo na minha voz e tudo debochando dessa garota branca, deixar você terminar com uma dúvida: ‘Qual foi a dessa menina?’”, elogia o artista.
Ele celebra a parceria não só com a diretora, mas também com Liniker e Young Piva. A cantora paulista empresta seus vocais à faixa “Pausa da sua Tristeza”. Já o rapper baiano, também de Salvador, participa de “Limão Siciliano”.
“Se não fossem eles dois, não ia ser mais ninguém. Acredito muito no que as músicas pedem e essas músicas precisavam deles. Acho que ninguém faria o que eles fizeram para se tornar aquilo ali. Tinha que ser eles”, conta Baco.
Enquanto divulga “Fetiche”, o cantor e compositor também se dedica à produção de seu novo álbum. O aguardado sucessor de “Quantas Vezes Você Já Foi Amado?”, lançado em 2022, está em desenvolvimento e com estreia prevista para 2025.
“O f*da é que todo mundo fala: ‘Ah, meu melhor trabalho etc e tal’. Mas, de fato, acho que esse vai ser o trabalho mais bonito, pesado e pessoal de todos. Meus trabalhos são muito pessoais, mas acho que esse consegue ser mais ainda”, adianta.
Segundo ele, o disco bebe um pouco do conceito do EP, mas é muito mais “visceral” e “musicalmente diferente” de qualquer projeto anterior de seu catálogo. “Acho que as pessoas vão se surpreender bastante com esse álbum. Estou com uma expectativa muito grande”, conclui.
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