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“Ninguém Sai Vivo Daqui”: tudo o que você precisa saber sobre o filme do holocausto brasileiro

Em 2013, a jornalista Daniela Arbex compartilhou os frutos de uma pesquisa empreendida sobre os maus-tratos ocorridos no Hospital Psiquiátrico Colônia, localizado em Barbacena, Minas Gerais. A investigação deu origem ao livro-reportagem “Holocausto Brasileiro“, eleito Melhor Livro Reportagem de 2014, de acordo com a Associação Paulista de Críticos de Arte, bem como o segundo colocado na mesma categoria do Prêmio Jabuti daquele ano.

Posteriormente usado como base para séries de ficção e documentários, a estreia leva agora aos cinemas “Ninguém Sai Vivo Daqui“, filme com roteiro da própria autora, em parceria com Rita Gloria Curvo. Sob a direção de André Ristum, o público pode conhecer a história do local através da personagem Elisa.

Ela tem sua trajetória marcada por uma internação injustificada e à qual foi submetida pelo próprio pai, ainda na década de 1970. Hostil e nada agradável, o local a expõe a diversos abusos — situação que, no enredo, provocará indignação em colegas que, em busca da liberdade, lutarão com todas as forças para se rebelar e fugir desse hospício infernal.

Contexto

Embora agora estejamos diante de uma obra de ficção, as representações desse ambiente opressivo compartilham características e regras próximas à realidade do que acontecia em Barbacena. O Hospital Psiquiátrico Colônia recebia não apenas pacientes com diagnóstico de doença mental, mas também pessoas marginalizadas como homossexuais, prostitutas, epiléticos, mães solteiras, meninas ‘problemáticas’, mulheres engravidadas pelos patrões, moças que haviam perdido a virgindade antes do casamento, mendigos, alcoólatras, melancólicos e tímidos. Dentre estes, 70% não tinham histórico de doença mental.

Em resumo, o espaço abrigava contra a própria vontade todos aqueles considerados “fora dos padrões sociais”, em geral enviados pelas próprias famílias — como é o caso da protagonista — e, posteriormente, suscetíveis a formas variadas de maus tratos. Não raro eram também registrados homicídios, que sem julgamentos acabavam sendo amplamente legitimados pelo Estado, médicos, funcionários e sociedade civil.

Com cenas em preto e branco, o longa busca retratar a “falta de cor” existente na vida dos residentes. Quem conseguiu escapar é, mais do que tudo, um sobrevivente. Estima-se que entre os 80 anos em que permaneceu em atividade, cerca de 60 mil pessoas tenha morrido no local, já que os pacientes eram vítimas de métodos inadequados de tratamento psíquico. Entre as técnicas utilizadas estavam abusos físicos e psicológicos envolvendo fome e frio, além de terapias de choque.

Série e documentário

O longa em questão é um projeto derivado da série original “Colônia“, lançada pelo Canal Brasil em 2021. A obra inspira um novo recorte audiovisual de ficção, apresentando, inclusive, cenas inéditas. No total, são dez episódios que mostram como os desafios se intensificam enquanto a gravidez da protagonista avança.

Do lado de fora, personagens como Pedro também travam batalhas — em seu caso, a fim de descobrir o paradeiro da amada. Suas tentativas de fuga são acompanhadas com grande expectativa e, como não haveria de ser diferente, angústia, uma vez que as coisas saem do controle.

Para construir o livro, Daniela Arbex se dedicou a entrevistar ex-funcionários e sobreviventes de Colônia, com a finalidade de detalhar as histórias de quem viveu de perto o processo de limpeza social e seus consequentes horrores. Logo, seria imprescindível que a autora estivesse envolvida em outros projetos relacionados, a fim de garantir uma maior conexão entre ambos e preservar seu status de marco do jornalismo investigativo brasileiro.

No documentário lançado pela HBO, a própria Daniela é quem conduz a narrativa com sua voz em off.

Elenco

Além de Fernanda Marques, responsável por dar vida à personagem Elisa, fazem parte do elenco nomes conhecidos da teledramaturgia brasileira. Destaca-se as atrizes Rejane Faria (Wanda), estrela do longa “Marte Um”, e Andréia Horta. Ela dá vida à prostituta Valeska, que tinha um caso com o prefeito de Barbacena. Além das já citadas, fazem parte Rafaela Mandelli (Antonieta), Eduardo Moscovis (Major Carvalho), Nicola Siri (Padre João), Ana Kutner (Rosana), Samuel de Assis (Ricardo), Christian Malheiros (Eduardo) e Bukassa Kabengele (Raimundo).

“Era fundamental falar daquilo. Eu tava com vontade de experimentar e trabalhar com autores que ainda não conhecia. Contar uma história dessas me interessava muito colocar uma voz ali”, contou Horta, em entrevista ao próprio Canal Brasil. Ela também deu detalhes sobre as gravações, que ocorreram em junho de 2019.

“Foi maravilhoso fazer. A gente alugou um casarão muito antigo no bairro Ipiranga, em SP, e lá ficamos na preparação pra aquela atmosfera super barra pesada. Ali construímos personagens, todo mundo muito junto, no frio. O que a gente tinha de figurino era só um vestidinho, a gente sentiu o osso gelando. Foi um trabalho importante de fazer”, relembrou.

Nova temporada

Em março deste ano (via O Globo), foi confirmada uma nova temporada da produção pelos produtores Caio e Fabiano Gullane. Por enquanto, ainda não se sabe quando o material deve chegar às telas.

A autora

Após essa jornada, é interessante saber mais sobre a autora, Daniela Arbex, que é hoje uma das principais jornalistas do Brasil. Após o sucesso de “Holocausto Brasileiro”, ela dedicou esforços a outro projeto do gênero, “Cova 312”. Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Livro-reportagem, a obra conta como as Forças Armadas mataram, sob tortura, um jovem militante político e em seguida forjaram seu suicídio, jogando o corpo em uma vala comum.

Já em 2018, foi a vez de escrever “Todo dia a mesma noite”, livro que narra a história não contada da Boate Kiss. Em seu currículo, estão 20 prêmios nacionais e internacionais, entre os quais o norte-americano Knight International Journalism Award.

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