televisão

Gabi Prioli, que estreia programa “Sábia Ignorância” no GNT: “O diferente nos ensina”

Após deixar o programa “Saia Justa“, uma das maiores atrações do canal GNT, em junho deste ano, Gabriela Prioli voltou às telas.

Ela passou a comandar, desde o último dia 22 de julho, um programa chamado “Sábia Ignorância“. No ar às segundas-feiras, sempre às 21h45, a ideia é juntar, em cada um dos vinte episódios que compõem a primeira temporada, uma dupla.

Uma celebridade e um especialista, escolhidos a partir de sua relação com temas contemporâneos, deverão dialogar sobre tópicos como maternidade, uso de inteligências artificiais, crise climática e gênero, e entre outros.

Na lista de convidados estão nomes como Rafa Kalimann, Duda Beat, Pepita, Isis Valverde e Dani Calabresa.

“No episódio de estreia, começamos com uma pergunta intrigante: ‘somos todos ignorantes?’. Recebi a apresentadora Giovanna Ewbank e o psicanalista Christian Dunker. Como uma das personalidades mais influentes da internet, constantemente cobrada por opiniões, e Dunker, conhecido por sua vasta erudição”, comentou Prioli, que ajuda a traçar um panorama da proposta.

“Meu sonho de unir entretenimento e aprendizado está se realizando. Nosso programa é uma mistura única de entrevistas, onde conversamos tanto sobre questões pessoais quanto temas de interesse geral. Afinal, todos temos muitos assuntos para discutir”, prosseguiu.

Em entrevista ao Papelpop, realizada por telefone dias antes da estreia, a artista falou sobre a expectativa de retornar ao campo das batalhas pelo diálogo.

Além de comentar sua própria visão de temas como o desconhecimento, ela diz evitar previsões sobre o futuro político, além de permitir-se o benefício da dúvida para alcançar e, consequentemente, abrir-se ao saber.

***

PAPELPOP – O episódio piloto gira em torno do questionamento se seríamos todos ignorantes. Que lugar esse aspecto assume dentro das nossas vidas hoje, em um contexto de contemporaneidade?

Gabi Prioli – A ignorância declarada me parece ter virado uma marca de vergonha, quando na verdade deveria ser o oposto. Porque quanto mais a gente aprende, mais a gente percebe que tem muito pra aprender. Então, se a gente acha que sabe tudo, a gente tá vivendo uma ilusão. Por isso somos todos ignorantes. Dizer “Eu não sei” não deveria ser visto com maus olhos, ao contrário. A gente deveria dizer isso com orgulho, é assim que se pergunta, que se conhece pessoas e se abre para o novo. É o que nos permite crescer, escutar e viabilizar o diálogo a partir do que o outro pode nos acrescentar. Negar que não precisa disso te coloca em um lugar de saber absoluto, onde não tem porquê se abrir, ser tolerante, escutar. A frase ‘Eu não sei’, como um pressuposto da ignorância, é o primeiro passo para voltar a dialogar, aprender e evoluir.

PP – O que é ignorância pra você?

GP – A possibilidade das novas descobertas.

PP – Duda Beat, Rafa Kalimann, Pepita e Dani Calabresa são algumas das convidadas que vão dialogar com especialistas sobre o tema escolhido em cada episódio. Como foi essa seleção, houve um critério específico?

GP – São vinte episódios e o que a gente pensou foi na possibilidade de formar feats. legais, escolhendo famosos que tinham conexões ou interesses pelo assunto em questão, ocupando não só um papel de curioso, de quem faz perguntas, mas também daquele que fale sob uma perspectiva muito única. Ouvir o ponto de vista de todos engrandece a nossa conversa. Aí o especialista vem para deixar a conversa intrigante. É curioso porque os convidados saem trocando telefone toda vez (risos). A troca é genuína e espero que esse seja também o resultado do programa em quem assiste, que todos se sintam motivados a trocar, buscar mais, conversar mais. Que o que vivenciamos ali extrapole a tela e se materialize na vida das pessoas. Tentamos montar o melhor clima. Quero que todos desfrutem de uma mesa de jantar bem montada.

PP – Ainda acredita que exista algum tipo de ignorância positiva?

GP – Olha, a ignorância soberba não é positiva. A ignorância que se percebe vítima da ilusão, das imagens que se projetam na parede e não enfrentam o desconforto da realidade, que nega a realidade de forma arrogante, essa ‘ignorância soberba’ – termo do Christian Dunker [psicanalista e professor da Universidade de São Paulo] – é negativa. Mas, a ignorância do sentido de não totalidade, essa consciência da ignorância que é socrática também… Na “Apologia de Sócrates”, Platão diz que “Se sou mais sábio que as outras pessoas é porque sei que nada sei, porque tenho consciência da minha ignorância, que vejo projeções na parede. Meus olhos doem, a luz me cega, mas vou enfrentar esta dor para conhecer a verdade. Mas, para sair dessa caverna da ignorância, como na alegoria, preciso reconhecer que eu ignoro o mundo lá fora. Aí eu vou enfrentar a dor dessa luz que cega, quando acho que o que tem lá fora vale a pena conhecer.

Créditos: Kelly Fuzaro/Divulgação

PP – Você diz que o programa nasce também da vontade de promover o diálogo. Não é cansativo sempre estar nessa tentativa para com “os prisioneiros da caverna”?

GP – Acho. Mas acho também que muitas coisas que valem a pena nas nossas vidas são cansativas. A gente não precisa tentar estabelecer essas pontes o tempo inteiro, em detrimento da nossa saúde mental, em detrimento do nosso bem-estar de modo geral. Mas, na medida do possível, precisamos dialogar – algo que nem sempre será agradável. É importante que a gente não olhe para todo mundo que não tenha a mesma visão que a nossa como prisioneiros da caverna. Nem todo mundo está preso. É possível que nós estejamos libertos e tenhamos visões distintas sobre um mesmo problema, que sejamos pessoas boas e instruídas e tenhamos posições distintas sobre uma mesma questão. O diferente nos ensina, seja a mudar nossa opinião ou fortalecer argumentos a respeito do que acredito.

PP – A cobrança constante por posicionamento que você sofre também impactou nesse processo?

GP – Acho que influencia, claro. Tudo que a gente vive acaba aparecendo nas coisas que a gente faz. Este é um programa que vai além das minhas vivências. Temos uma equipe enorme com experiências e particularidades e que se envolvem nesse produto. Desde que eu apareci na comunicação, presto muita atenção, embora nem sempre seja bem-sucedida, de não me deixar pressionar por essa expectativa por posicionamentos a respeito de todos os assuntos e em todos os momentos. Não sei falar sobre todos os assuntos e em todos os momentos, não tenho tempo. Não ceder a essa pressão também faz parte do meu posicionamento. Já que você cita influência, é assim que eu influencio as pessoas a terem responsabilidade naquilo que compartilham. O que falamos pode ter um impacto significativo na vida das pessoas, tenho sempre o máximo de cuidado que puder. Sou diligente, cuidadosa, penso com responsabilidade sobre tudo o que eu vou fazer.

Créditos: Kelly Fuzaro/Divulgação

Maternidade, envelhecimento, gênero e relacionamentos são alguns dos temas escolhidos para discussão no seu programa. Tratar essas pautas com leveza, mas sob o entendimento de que também são temas profundamente políticos, é uma responsabilidade hoje enquanto seres sociais?

Acho que talvez ela cresça à medida do amadurecimento da nossa consciência. É difícil pra mim dizer que ela cresce porque acho que sempre deveríamos ter tido tais responsabilidades. Adianta pouco olhar pra trás e pensar o que poderíamos ou deveríamos ter sido. Era importante que a nossa consciência sobre a relevância do discurso antirracista, por exemplo, tivesse surgido antes. Mas vamos lidar com o que a gente tem… Penso que existem espaços para todos os tipos de discurso, haverá conversas duras, leves, em ambientes acadêmicos, descontraídos. Precisamos ter espaços para todas elas e esta é a proposta do meu programa. Não estou dizendo que é o melhor, mas a gente precisa chegar aos ouvidos diferentes e colocar os assuntos em pauta. Isso é o que mais importa.

O mundo assiste com curiosidade a desistência da candidatura de Joe Biden pelo partido democrata, nos Estados Unidos. Há uma apreensão em torno do nome que deve assumir, do futuro da campanha e dos impactos que a possível eleição de Donald Trump terá na América do Sul. Tem acompanhado?

Sim, e tem muitas variáveis. Neste momento, duas coisas me chamam a atenção: primeiro, precisamos de uma reflexão sobre os impactos da cobrança pela idade a partir dessa desistência. Temos que ter cuidado ao analisar a desistência de Biden como a desistência de um candidato à presidência dos Estados Unidos, e não ampliar isso para uma visão preconceituosa sobre a velhice de um modo geral. Isso é muito importante, porque vivemos em uma sociedade centrada na juventude, embora o etarismo não seja só isso.

Além do mais, me interessa a possibilidade de ter Kamala Harris como presidenta. É provável que haja uma reação misógina. Como as pessoas lidarão, outra vez, com uma mulher pleiteando uma posição de poder como esta, sendo que temos uma sociedade que se organiza a partir da concepção de homens no comando? Quero observar como isso vai se desenrolar. O momento tem suas questões, mas também podemos vislumbrar pontos positivos: isso abafa a convenção republicana, chama a atenção para a campanha democrata… Vamos ter que ir analisando semana a semana. Não faço muitas projeções longas.

***

“Sábia Ignorância”, o novo programa de Gabriela Prioli, vai ao ar sempre às segundas-feiras, às 21h45, no canal GNT.

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