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“Ainda Estou Aqui”: curiosidades e tudo o que você precisa saber sobre o novo filme de Walter Salles
O ano era 1995 e o longa “Terra Estrangeira” chegava aos cinemas. A obra, vencedora do prêmio de Melhor Roteiro pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) no ano seguinte, marcou a primeira colaboração entre a atriz Fernanda Torres e o cineasta Walter Salles. Além disso, pavimentou a relação frutífera que, anos mais tarde, o mesmo estabeleceria com a mãe da artista, a também Fernanda, por sua vez Montenegro.
Agora, em 2024, os três se reúnem pela primeira vez em um filme que conjuga significados. “Ainda Estou Aqui”, previsto para chegar aos cinemas no segundo semestre, tem ainda no elenco outro nome bastante conhecido pelo cinéfilo brasileiro: Selton Mello.
Fruto de uma co-produção entre o Brasil e a França, a obra, o primeiro filme Original Globoplay, tem roteiro de Mutilo Hauser e Heitor Lorega e nos convida a vislumbrar, em uma mesma narrativa, passado e presente através daqueles que sofrem uma perda em um regime de exceção.
A seguir, elencamos tudo o que você precisa saber a respeito da obra + algumas curiosidades!
O enredo
Em “Ainda Estou Aqui” somos apresentados a uma história de drama, ambientada na década de 1970. Fruto do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o enredo descreve como os atos de violência impostos pela ditadura militar mudaram a história da família Paiva para sempre. A própria mãe, Eunice, é interpretada pelas Fernandas Torres e Montenegro, e vê sua vida perpassada tanto pela atuação política, uma vez que era ativista dos direitos humanos, quanto pela luta contra o Alzheimer.
Após a morte do marido, que foi preso e torturado por agentes militares, Eunice se torna advogada. Rubens Paiva, pai de Marcelo, era suspeito de manter ligações com clandestinos do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e saiu escoltado de casa, no Leblon. Ele nunca mais foi visto. A história oficial diz que ele teria fugido com os comunistas. Extraoficialmente, soube-se que foi torturado até a morte na madrugada seguinte à prisão.
Logo, será através da atuação dessa esposa sobrevivente que passado e presente hão de convergir, ressaltando o poder da memória.
O autor
“Ao longo do tempo, percebi que a grande heroína desta história é minha mãe”, afirmou Marcelo, durante entrevista para a revista Época, em 2015. “Agora que ela está com Alzheimer, pensei que é hora de guardar essas memórias”.
O autor tem uma carreira prolífica na literatura, de modo que seu primeiro livro, “Feliz Ano Velho”, tornou-se a obra brasileira mais vendida da década de 1980 — além, claro, de ser vencedora do Prêmio Jabuti, o mais importante em termos literários no país.
“Ainda Estou Aqui” é, também, uma obra sobre a permanência, que se constrói através dos desabafos e forma uma espécie de segundo capítulo autobiográfico em sua trajetória.
Como o próprio Paiva afirma: “Em livros, uso a ficção para falar de mim. Agora achei que estava na hora de atualizar essa história do desaparecimento do meu pai, contá-la com as informações que a gente tem. Em 1982, data do ‘Feliz Ano Velho’, ainda vivíamos num regime militar. A gente não sabia o que tinha acontecido. As informações vieram depois da abertura política. Especialmente, com a Comissão da Verdade de 2014”.
Entre os títulos mais famosos do escritor estão títulos como “Blecaute” (1986), “Bala na Agulha” (1992), “As Fêmeas” (1994) e “O Homem Que Conhecia As Mulheres” (2006).
“Ter um livro adaptado por Walter Salles, que conheceu minha família e viveu aquele período como testemunha, honra a nossa família”, diz.
Montenegro e Salles, juntos novamente
“O livro e o filme podem ser vistos como um relato sobre a reconstrução de uma memória individual conduzida por essa mulher, que se sobrepõe à busca pela reconstrução da memória de um país, o Brasil. Essa sobreposição entre o pessoal e o coletivo é uma das razões pelas quais quis fazer este filme. A busca da família Paiva se confunde com a luta pela redemocratização do Brasil”, afirma Salles.
De mulheres fortes e reconstrução do Brasil podemos dizer que o divo entende. Em 1999, firmou uma importante colaboração com Montenegro, para quem ofereceu a personagem Dora no longa “Central do Brasil”.
Na trama, uma amargurada professora ganha a vida escrevendo cartas para pessoas analfabetas em uma estação. Sem postar as cartas, embolsa o dinheiro até o dia em que um menino de nove anos de idade chamado Josué a procura com a mãe. Após a morte da mesma em um acidente de ônibus, acaba sozinho. Mesmo relutando em ficar com ele, Dora entende a complexidade da situação e topa embarcar com o pequeno em direção ao interior do Nordeste, onde vive seu pai que nunca conheceu.
A obra rendeu um Urso de Ouro no Festival de Berlim e, a Salles, uma indicação ao Oscar de Melhor Filme. Montenegro, por sua vez, foi derrotada por Gwyneth Paltrow na categoria Melhor Atriz – um trauma para os brasileiros que ainda não superaram o lobby de Harvey Weinstein. Foi a primeira vez que uma atriz brasileira emplacou seu nome na disputa por um prêmio tão importante… Aquele Oscar era dela.
Torres e Mello nas telas
O rosto de Torres nunca deixou de figurar com protagonismo em grandes produções. Além de estrelar peças de teatro, séries de TV e filmes, a nepobaby mais amada e talentosa do Brasil também tem uma carreira prolífica na literatura. Recentemente, a série “Fim”, baseada no livro homônimo de sua autoria, foi adaptada a pedido do Globoplay.
Ela também obteve sucesso com a publicação de “A Glória e Seu Cortejo de Horrores”. Ambos foram lançados pela Companhia das Letras. Seu trabalho mais recente no audiovisual, entretanto, foi “Os Outros“, produção da mesma plataforma ambientada em condomínio com casas de luxos — e muitas, muitas tretas.
Atualmente, ela se prepara (conforme informações de bastidores) para viver a vilã Odete Roitman no remake da novela “Vale Tudo“. Já sabemos que, se confirmada, a atriz vai emocionar.
Já Mello, que em “Ainda Estou Aqui” interpreta Rubens, o pai desaparecido de Marcelo, se prepara para reprisar no fim do ano seu papel como Chicó no longa “O Auto da Compadecida 2”. Baseado no livro de mesmo nome de Ariano Suassuna, o projeto original, a título de curiosidade, teve Nossa Senhora Aparecida eternizada por Montenegro. Disponibilizada como série e filme, a produção chegou no ano 2000 e está disponível no Globoplay.
As estreias em Veneza e Toronto
A estreia internacional de “Ainda Estou Aqui” acontecerá em duas etapas. Primeiro, o longa chegará à Europa, através do Festival de Cinema de Veneza.
A 81ª edição do evento acontece entre os dias 28 de agosto e 7 de setembro prometendo uma batalha acirrada, já que entre os selecionados para concorrer ao principal prêmio da noite, o Leão de Ouro, estão filmes do espanhol Pedro Almodóvar (“O Quarto Ao Lado”), do norte-americano Todd Phillips (“Coringa: Delírio a Dois) e do italiano Luca Guadagnino (“Queer”), entre outros.
“Estamos felizes de ir a Veneza com um filme tão pessoal. O livro de Marcelo me marcou profundamente, e nos convida a olhar essa história do ponto de vista de sua mãe, Eunice. No centro desse relato há uma mulher que teve que se reinventar e romper com os laços patriarcais das famílias brasileiras. Eunice, em sua contenção, traça uma forma de resistência incomum”, comentou Salles.
Depois, é a vez de chegar ao Canadá através do Festival Internacional de Cinema de Toronto, o TIFF, em setembro. A expectativa é que o Brasil receba a obra em suas salas um pouco depois disso. Por ora, resta aguardar.