Gloria Groove está ciente das críticas ao seu recém-lançado projeto de pagode, “Serenata da GG”, incluindo as que alegam uma vontade sua de agradar o público heterossexual ao invés da comunidade LGBTQIA+. Ela, no entanto, não se abala.
“[Certa vez,] eu respondi: ‘O hétero que eu queria agradar era o seu pai’. Eu gostaria de retirar o que eu disse. Me perdoa, gente. Eu gostaria de dizer que, além de agradar o seu pai, também quero agradar o seu irmão. Vai ser uma delícia, um prazer”, brincou a drag queen em uma coletiva de imprensa, via videochamada, na tarde desta quarta-feira (12).
Com mais seriedade, ela refletiu sobre a importância de debater se um estilo musical realmente pertence a um determinado recorte de gênero e sexualidade: “Quando essas discussões começam a acontecer, trazem o pé do artista para o chão e falam: ‘Você ainda está no planeta Terra e as pessoas ainda têm questões muito pífias, muito primárias’”.
Para GG, é preciso quebrar paradigmas. “Gosto da sensação de movimentar pauta, gerar conversa e fazer alguém falar: ‘P*rra, meu pai era o cara mais homofóbico do mundo, mas, agora, ele te acha muito f*da e já desmantelou um pouco do preconceito aqui e ali’. Acho que facilitar a existência do outro é uma coisa que, poxa, todo artista deveria mirar em fazer”.
Ela acredita que “o tempo vai mostrando que é claro que existem as gays, sapatão e trans pagodeiras” e que projetos como “Numanice”, feito pela amiga Ludmilla, oferecem um espaço para essas pessoas aproveitarem em segurança.
“Ver como aquilo criou um lugar seguro para a nossa galera viver, levar sua família e curtir numa boa, sem medo de alguém olhar torto ou falar alguma coisa… são coisas muito simbólicas que a arte pode fazer. Eu gosto quando a arte foca mais nos pontos de convergência, mostrar mais as coisas que nos unem do que as coisas que nos diferenciam e nos separam”, disse.
A conexão da própria Gloria com o pagode é muito forte, já que sua mãe, Gina Garcia, foi backing vocal do grupo Raça Negra. “Foi ali que eu nasci, foi ali que tive meus primeiros contatos com grandes músicos e vozes”, contou.
“Claro que meu interesse foi se construindo no pop, mas lembro que o pagode foi uma grande vertente que me levou para o canto romântico, para o R&B, para o estilo de cantores de Raul Gil dos anos 2000”, explicou, entre risos. “Nessa época, existia uma convergência de estilos e gostos”.
Ela, então, vê o caminho até “Serenata da GG” como algo “natural” e se alegra de tê-lo feito com pessoas que foram e ainda são suas influências no ritmo. Além de cantar com a mãe no medley “Meu Anjo/Incondicional”, presente no volume 1 do disco, divide os vocais com Belo na faixa “Eu Era Feliz”.
“Belo é um cara importante não só como participação em uma música muito linda desse álbum, mas também como referência. A gente mencionava o nome dele no processo de composição o tempo todo, falando de comportamento, de conceito artístico, de como ele é o príncipe do amor”, afirmou.
Outra grande estrela convidada para a primeira etapa do projeto é Alcione, com quem Gloria se delicia em um cover de “A Loba”. Ela gostou tanto de cantar a música no “Música Boa Ao Vivo”, programa do canal Multishow, junto com Juliette em 2022, que decidiu colocá-la no repertório.
Já a coragem para chamar a Marrom chegou após o Prêmio da Música Brasileira de 2023. “Aceitei a missão de cantar com Maria Bethânia para Alcione e, depois, sentei ao lado dela na premiação. Ela foi muito carinhosa e isso me marcou. Unindo os pontos, eu falei: ‘Ah, vou tentar [um feat]”, lembrou Gloria.
O registro em vídeo da performance ao vivo das duas sai em breve, assim como o volume 2 de “Serenata da GG”. A futura leva de faixas, já gravada, promete parcerias com Thiaguinho, Mumuzinho, Menos é Mais, Ana Carolina e Sampa Crew.
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