Nascido em São Sebastião da Pedreira, região de Lisboa com pouco mais de 6 mil habitantes, Pedro Mafama conquistou o país graças a sua autenticidade.
O artista ficou conhecido por misturar ritmos portugueses tradicionais como o fado, marchas e músicas de baile com o que há de mais contemporâneo na sonoridade global.
Em 2023, o cantor fez mais de 70 shows, teve a música mais escutada de Portugal, “Preço Certo”, e foi a segunda personalidade mais pesquisada no Google, ficando atrás apenas do primeiro-ministro português.
Agora, o Papelpop bate um papo breve para entender como ele teve contato com a música nacional e descobre que Pedro é um grande fã da obra de Cazuza, além de pensar (muito!) em fazer um feat com Gloria Groove e Pedro Sampaio.
Leia íntegra abaixo:
Papelpop – Essa matéria tem o intuito das pessoas daqui do Brasil te conhecerem melhor. Então, nos conte curiosidades aleatórias sobre você! Valendo!
Pedro Mafama – Antes de mais queria mandar um grande beijinho a toda a gente que nos está a ler, um forte abraço deste lado do mar. Vão os fatos: primeiro, sou um artista difícil de qualificar que mistura música tradicional com aquilo que acredito ser a música do futuro; segundo, acabei de lançar um videoclipe com um trator gigante Lamborghini, uma mão sem corpo a tocar num teclado KORG, um grupo coral feminino do futuro e um casal que dança forró num espaço branco infinito de quase ficção científica; terceiro, acredito que a música mais vanguardista e experimental de hoje em dia é a música popular, como o funk, brega funk ou o piseiro no Brasil; quarto, e por falar em música popular do Brasil, amo o fenômeno dos paredões e aparelhagens, acho muito interessante a forma como a música está a virar uma experiência corporal, onde música futurística faz tremer os nossos corpos até levitarmos, e com todas as luzes coloridas fica parecendo mesmo que uma nave espacial desceu à Terra e nos vai levar consigo; quinto, durante muito tempo, usei a minha unha do dedo mindinho com nail art, numa desconstrução da masculinidade: não sei se no Brasil sucede o mesmo, mas os machões portugueses usavam sempre essa unha comprida como sinal de “macheza”; sexto e último, acabo de ter um sucesso tremendo em Portugal com a música “Preço Certo” e estou cada vez mais motivado à procura de sonoridades novas e caminhos artísticos que quebrem os limites da arte.
PP – Você é um grande fã de Cazuza e de música brasileira. Como foi seu contato com a cultura daqui, morando em Portugal?
PM – Mais do que tudo, sou um admirador do espírito rebelde de Cazuza. Sinto que eu próprio também sou um “exagerado” e foi desafiante colocar a canção do Cazuza num ambiente que engloba muitos dos fenômenos musicais que acabei de descrever. Sou um grande admirador da música brasileira. É uma coisa que está tão próxima de nós aqui, em Portugal, que faz parte de nós. Todos os portugueses nascem e crescem a ouvir brasileira e estou muito grato por toda a poesia e beleza que ela traz ao mundo. No meu caso, a minha mãe ouvia coisas muito variadas como: Caetano Veloso, Gabriel o Pensador, Gilberto Gil e Chico Buarque, quando eu era pequeno. Os meus avós, também — talvez ainda mais. Se ouvir o “Alegria, alegria”, do Caetano, ainda choro toda a vez, assim como o “Tanto Mar”, do Chico, e muitas outras. Além desse contato pela música, moravam perto de mim muitos brasileiros, e sempre tive muitos amigos e amigas de todos os cantos. Inclusive já tive crushes brasileiros [risos]. E num tom um pouco mais triste, tive um grande amor que era do Brasil, com quem namorei e que infelizmente acabou falecendo em Belo Horizonte. A coisa bonita dentro desse desgosto foi que depois fiz uma música dedicada a ela, chama-se “Jazigo” e sempre achei muito lindo ter sido a primeira música que me tornou conhecido aqui em Portugal.
PP – Sua visão do pop que é feito aqui é qual?
PM – Sinto que é da melhor música que se faz no mundo, neste momento. Adoro o experimentalismo constante, o pop brasileira está sempre a mudar devido a toda a variedade gêneros e sub gêneros que nascem todos os dias nas cidades e periferias do Brasil. Sinto que a música brasileira tem sempre os olhos postos no futuro, nunca para. Musicalmente e esteticamente também acho muito óbvia a influência do Brasil no mundo atual, a música pop, urbana e eletrônica. Concretamente, acho que uma influência clara do funk para o pop atual é o uso do silêncio e do vazio na música, e a forma como as músicas se sustentam e brilham ainda mais se tiverem apenas dois ou três elementos. E também sempre admirei a forma como o funk mistura elementos acústicos, tradicionais e totalmente futurísticos com naturalidade. Um grave sintético convive na perfeição com um beatbox humano que tem como referência a percussão tradicional brasileira. Acho tudo isso sofisticadíssimo, mesmo.
PP – Quais artistas em atividade você admira e tem vontade de contribuir? Conhece algum?
PM – Amo o trabalho da Duda Beat, do Rico Dalasam, da Marina Sena, do João Gomes e da Gloria Groove, em especial o seu álbum “Futuro Fluxo”. O Dennis DJ tocou aqui em Portugal e fez um remix da minha música, “Preço Certo”, que gostei muito, e o Pedro Sampaio também passou a minha canção no show dele e mandou um elogio apaixonado — gosto muito do trabalho dos dois, também. É muito bom ver que o amor e admiração musical que tenho pelo Brasil é devolvido e é recíproco, e é um sinal de que algo pode acontecer. Quero muito trabalhar com alguns destes artistas.
PP – Depois dessa releitura do Cazuza, me conta o que você vai lançar de música!
PM – A minha reinterpretação de “Exagerado”, do Cazuza, foi uma primeira experiência na sonoridade do brega funk que quero muito explorar, assim como outros ritmos brasileiros atuais. Acabo neste momento de lançar uma nova música que se chama “Sem Ti” com um videoclipe que é mesmo uma viagem intergalática, juntamente com uma música nova chamada “Abismo” que tem uma parte de bossa nova, bonita e simples mas também bastante apocalíptica. As duas integram a edição Deluxe do meu álbum que se chama “Estava No Abismo Mas Dei Um Passo Em Frente”, uma frase célebre da nossa cultura popular, que para mim tem uma grande profundidade escondida por trás do seu lado cômico e leve. É uma frase alegre e triste, leve e pesada, banal mas profunda, e isso penso que isso caracteriza bastante o meu trabalho.
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