Sam, é verdade que você estava pronta para escalar Marisa, mesmo sabendo que ela aparentemente não sabia cantar?
Sam: Sim, mas não era que ela não sabia cantar. Ela me disse: “Eu não sou cantora”. Então, rolou a ideia de correr um risco, mas também sabendo que tínhamos a voz musical de Amy [como alternativa]. Senti que Marisa deveria seguir e treinar para cantar, mesmo que fosse só para mostrar como a boca e o maxilar funcionavam, para parecer convincente no filme, caso precisássemos – de acordo com a minha mente naquela época – dublar. Marisa treinou e treinou e treinou, nos encontramos com ela no estúdio Abbey Road, com Giles Martin, nosso produtor musical. Ela também aprendeu a tocar guitarra, sentou-se e cantou uma música. Foi aí que pensei… ‘Acho que ela pode fazer isso’.
E você não sabia que ela estava se aprimorando tanto?
Sam: Eu tinha uma sensação de que ela estava fazendo isso, mas não sabia até que ponto. Tinha também aquele momento de que ‘Sim, ela pode cantar, mas talvez vamos preferir a dublagem… Mas Marisa, realmente, conseguiu. Lembro de ter pensado: “Uau. Encontramos ouro.”
Marisa Abela stars as Amy Winehouse in director Sam Taylor-Johnson’s BACK TO BLACK, a Focus Features release. Credit : Courtesy of Dean Rogers/Focus Features
Aprender a cantar é uma coisa. Aprender a cantar com a voz única de Amy, aquele jazz clássico dos anos 1990, famoso em Camden, é outra totalmente diferente. Quão difíceis foram, Marisa, aqueles meses de pré-produção em que você estava tentando ajustar esses detalhes da melhor maneira possível?
Marisa: Contei com a ajuda de uma professora de canto incrível, Anne-Marie Speed. Ela trabalha na Royal Academy, de Londres e me ajudou nessa descoberta como cantora, antes de qualquer coisa. Speed é uma daquelas mulheres que acredita muito na ideia de que qualquer pessoa pode cantar. Não existe isso de que alguém não pode fazê-lo. A perspectiva dela é: se você pode falar, você pode cantar. Então, eu aprendi a dominar minha própria voz primeiro. Depois, meio que aprendi a cantar jazz – quero dizer, eu não diria “aprendi a cantar jazz”, mas eu estava ouvindo as pessoas que inspiraram Amy. Era como dizer ‘Temos a sua voz agora. Mas em vez de ir direto para uma imitação de Amy, vamos ouvir quem a inspirou e explorar isso, entender por que ela cantava do jeito que cantava’.
Podemos citar nesse processo cantoras como Dinah Washington…
Marisa: Sim. Dinah Washington, Ella Fitzgerald, mas também Lauryn Hill. E pessoas que influenciaram [o álbum de estreia] Frank, e em seguida Back To Black. The Ronettes, The Shangri-Las… Me dispus a ouvir essas pessoas e a maneira como elas modificam suas vozes, prestando atenção nos ritmos, coisas assim. Me aproximei de Amy sem realmente focar diretamente nela, através de suas inspirações. Depois é que entramos mais nas modificações das vogais e na colocação do maxilar, as coisas realmente técnicas que iam me ajudar a soar um pouco mais como ela. E as ressonâncias. Uma das coisas legais sobre Amy é que nenhuma performance é igual à outra. Então, decidir como seria [em cena] foi fundamental. Claro, há também as gravações de Back To Black, mas a maioria das coisas que estamos fazendo são performances. Então, contanto que seja lúdico, e você esteja usando as técnicas que ela usava, seja aquela forte nasalidade, ou a voz de peito – ou apenas jogando coisas fora e sendo muito engraçada… Muitos dos nossos primeiros shows, muitas das coisas de Frank, me pareceram mais como um show de stand-up do que uma performance. Foi uma experiência realmente incrível e a guitarra ajudou muito, os objetos físicos como um todo. Fiquei obcecada, assistindo e observando tudo o que podia durante essa fase.
O quão foi importante para a sua pesquisa mergulhar fundo em todos esses vídeos disponíveis no YouTube?
Marisa: No roteiro, toda performance, ou seja, isso aconteceu de verdade, acabou se tornando meu ponto de partida para os estudos que desenvolvi junto ao professor de movimentos: “Quero emular isso exatamente como aconteceu”, pensava. Então, quando dei de cara com a performance do festival de Glastonbury, em 2008, em que ela pede para descer [para o fosso dos fotógrafos] e corre para cima e para baixo, pensei: “Não há possibilidade no mundo de fazer isso exatamente como foi.” Foquei em aprender cada movimento, até mesmo os movimentos dos olhos e coisas assim. Então, se em algum dia, Sam decidisse que queria fazer algo um pouco mais sonhador ou suave para o nosso filme, poderíamos reproduzir isso. Se quiséssemos fazer exatamente como tinha acontecido, eu tinha as ferramentas para executar. O mesmo rolou com a performance do Grammy [transmitida via satélite, em 2008]. Tive que estudar cada movimento. Nos momentos que não são exatos, você deve reparar, eu estava meio que colando trechos de performances que foram gravadas, desde [os primeiros shows em pubs no] Torrington Arms e Dublin Castle.
Leave a Comment