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Marisa Abela, que fez Amy Winehouse no cinema: “Foi a alma dela que me trouxe até aqui”

A atriz Marisa Abela não sabia muito bem como cantar quando se inscreveu na primeira rodada de testes para interpretar Amy Winehouse. Ela também decidiu dispensar o delineador e o tradicional penteado adotado pela artista, morta em 2011 — uma ideia que a destacou entre as demais candidatas.

Uma vez lançado nos cinemas, o filme “Back to Black”, que chegou às telas na última sexta-feira (17), pode finalmente mostrar as diversas nuances de sua interpretação. Com direção de Sam Taylor-Johnson, o longa faz um recorte da trajetória da musa, centrando-se no momento em que Amy ascende mundialmente com o disco “Back To Black” (2006), em detrimento de suas tragédias pessoais.

“Quando comecei a fazer o filme e estava conversando com Matt Greenhalgh – que também escreveu “Nowhere Boy” – ele e eu falamos sobre como a melhor abordagem seria, de fato, entrar na mente dela. E para fazer isso, tivemos que focar em um período de tempo e não tentar fazer a expansão total de uma cinebiografia”, explicou a diretora, em material enviado em primeira mão ao Papelpop.

“Foi então que escolhemos o período que compreende a gravação e divulgação desse álbum como recorte, por assim dizer. Isso nos levou diretamente às particularidades mentais dela ao criar aquele álbum, que é fruto da história de amor e dor vivida com Blake [Fielder-Civil]”, prossegue.

Na entrevista a seguir dada com exclusividade ao site no Brasil, atriz e diretora falam sobre particularidades da protagonista, da relação que estabeleceram com a música de Amy, além de contar histórias dos bastidores.

Sam, o que te motivou a querer contar a história de Amy Winehouse?

Sam Taylor-Johnson: A música. Quando Alison Owen, a produtora, me perguntou se eu estaria interessada e me chamou para conversar sobre isso, rolou uma sensação parecida com a que tive com “Nowhere Boy”. Era, simplesmente, óbvio que eu diria sim. Eu não estava planejando fazer nada assim, mas logo que a ideia surgiu, pensei que seria tão incrível… Então, a música foi realmente a estrela guia de toda a ideia e produção. Tudo era sobre ela, as letras… E isso nos conduziu ao processo.

Quais ou quantos encontros você teve com Amy?

Sam: Eu só a vi uma vez. Embora tivéssemos amigos em comum, nunca a conheci de fato. Mas eu a vi no Ronnie Scott’s em uma apresentação organizada para jovens cantores.

Marisa Abela: Que legal!

Sam: Sim. Eu estava sentada muito perto, quase tão perto quanto estou de você. Ela era tão tímida, e segurava o microfone bem baixo. Eu só lembro de pensar: “Uau, que voz.” Mas também pensava: “Ela é tão tímida – como poderia se transformar em uma persona que combinasse com essa voz?”. Não me lembro de mais ninguém daquela noite, só dela, um destaque total. E olha que isso foi antes de ela ser “Amy”.

(L to R) Actor Marisa Abela and director Sam Taylor-Johnson on the set of BACK TO BLACK, a Focus Features release. Credit: Courtesy of Dean Rogers/Focus Features

Sei que é uma pergunta ampla, mas o que te atraiu ao projeto, Marisa?

Marisa: Acho que, de forma semelhante, foi a própria figura de Amy. Só a ideia de se aproximar dela. Quanto mais e mais pesquisas eu fazia – e mesmo com base no que eu já sabia sobre ela na época – era como se eu tivesse a certeza de que só teria essa oportunidade para interpretar alguém tão cheio de vida, como a conhecemos. A razão pela qual ela se conectou com tantas pessoas é o talento raro, mas também a autenticidade, que a fez ser 100 pessoas diferentes em uma só. Então, que incrível como atriz poder disputar esse papel. Quanto mais eu aprendia a seu respeito, mais complicado se tornava. Normalmente, quando você assume um papel, sente que desbloqueia algo. “Ah, ótimo, encontrei isso sobre a personalidade dela, ou isso que pode torná-la mais fácil de entender”, eu volta e meia falava. Com Amy, você abria uma porta e estava, de repente, em um mundo completamente novo. Foi a alma dela que me trouxe até aqui.

Sam, você disse em outra ocasião que esta não é uma cinebiografia, e sim uma história de amor. Pode explicar isso melhor?

Sam: Veja bem, quando comecei a fazer o filme e estava conversando com Matt Greenhalgh – que também escreveu “Nowhere Boy” – ele e eu falamos sobre como a melhor abordagem seria, de fato, entrar na mente dela. E para fazer isso, tivemos que focar em um período de tempo e não tentar fazer a expansão total de uma cinebiografia. Então escolhemos o álbum “Back To Black” como nosso recorte, por assim dizer. Isso nos levou diretamente às particularidades mentais dela ao criar aquele álbum, que é fruto da história de amor e dor vivida com Blake [Fielder-Civil]. Isso nos deu uma estrutura tão forte para então focar em suas letras… Só assim acessamos sua história.

(L to R) Actor Marisa Abela and director Sam Taylor-Johnson on the set of BACK TO BLACK, a Focus Features release. Credit: Courtesy of Dean Rogers/Focus Features

Outras atrizes e possíveis intérpretes de Amy apareceram nas audições com penteados altos e maquiagem. Mas você, Marisa, não quis fazer isso. O que se lembra das audições?

Marisa: Meu objetivo ao tomar essa decisão, e também durante todo o processo de audição, era não parecer que eu estava tentando sair à frente de qualquer pessoa. Claro que, normalmente, quando você entra em uma seletiva – pelo menos eu faço isso –, estou ali tentando convencer todos de que sou a melhor pessoa para o papel. Mas, neste caso, eu não estava tentando fazer isso. Não queria chegar a um certo ponto das coisas e então me deparar com todos em dúvida. Então, para mim, foi provavelmente a audição mais honesta que já fiz. Isso também se deve a não fazer nada com meu cabelo e maquiagem. Se eu puder convencê-los de que Amy está aqui em algum lugar, apenas através dos meus olhos e do meu espírito, então temos algo a começar. Não houve truque envolvido. Foi como dizer para mim mesma: é assim que vejo a alma dela. Eu sei que Sam e eu estávamos alinhadas nesse sentido, de que era para ser uma espécie de emulação da essência de Amy, mas de forma alguma uma imitação. Eu sabia que minha primeira audição tinha sido boa. Sam é muito honesta – não é como, “entraremos em contato”, você pode perceber quando ela está animada. Então, depois que saí daquela primeira audição, lembro que disse ao meu namorado: “Vou começar a me preparar como se já tivesse conseguido esse trabalho.” Porque, se eu vou conseguir, prefiro ter um ano para me preparar, ou seis meses, ou oito meses, em vez de dois ou três ou sempre que decidirem me dar o sinal verde. Então, eu estava me preparando como se tivesse o trabalho desde abril [de 2022]. A cada audição que eu fazia, eu tinha mais bagagem. Mais conhecimento, mais pequenos sinais, maneirismos que eu estava captando mesmo naquela época. Houve uma audição só minha com Sam e [a diretora de elenco] Nina Gold, e depois uma leitura para sentir a química com Jack [O’Connell, que interpreta Fielder-Civil], algo que foi incrível. Depois, um teste de câmera e canto nos estúdios Abbey Road, que foi igualmente incrível. Novamente, não é algo que estava na minha lista de desejos. Por que estaria? Eu nunca fui cantora; nunca treinei antes. Mas depois, bem, ter estado em Abbey Road foi tão legal…

Sam, é verdade que você estava pronta para escalar Marisa, mesmo sabendo que ela aparentemente não sabia cantar?

Sam: Sim, mas não era que ela não sabia cantar. Ela me disse: “Eu não sou cantora”. Então, rolou a ideia de correr um risco, mas também sabendo que tínhamos a voz musical de Amy [como alternativa]. Senti que Marisa deveria seguir e treinar para cantar, mesmo que fosse só para mostrar como a boca e o maxilar funcionavam, para parecer convincente no filme, caso precisássemos – de acordo com a minha mente naquela época – dublar. Marisa treinou e treinou e treinou, nos encontramos com ela no estúdio Abbey Road, com Giles Martin, nosso produtor musical. Ela também aprendeu a tocar guitarra, sentou-se e cantou uma música. Foi aí que pensei… ‘Acho que ela pode fazer isso’.

E você não sabia que ela estava se aprimorando tanto?

Sam: Eu tinha uma sensação de que ela estava fazendo isso, mas não sabia até que ponto. Tinha também aquele momento de que ‘Sim, ela pode cantar, mas talvez vamos preferir a dublagem… Mas Marisa, realmente, conseguiu. Lembro de ter pensado: “Uau. Encontramos ouro.”

Marisa Abela stars as Amy Winehouse in director Sam Taylor-Johnson’s BACK TO BLACK, a Focus Features release. Credit : Courtesy of Dean Rogers/Focus Features

Aprender a cantar é uma coisa. Aprender a cantar com a voz única de Amy, aquele jazz clássico dos anos 1990, famoso em Camden, é outra totalmente diferente. Quão difíceis foram, Marisa, aqueles meses de pré-produção em que você estava tentando ajustar esses detalhes da melhor maneira possível?

Marisa: Contei com a ajuda de uma professora de canto incrível, Anne-Marie Speed. Ela trabalha na Royal Academy, de Londres e me ajudou nessa descoberta como cantora, antes de qualquer coisa. Speed é uma daquelas mulheres que acredita muito na ideia de que qualquer pessoa pode cantar. Não existe isso de que alguém não pode fazê-lo. A perspectiva dela é: se você pode falar, você pode cantar. Então, eu aprendi a dominar minha própria voz primeiro. Depois, meio que aprendi a cantar jazz – quero dizer, eu não diria “aprendi a cantar jazz”, mas eu estava ouvindo as pessoas que inspiraram Amy. Era como dizer ‘Temos a sua voz agora. Mas em vez de ir direto para uma imitação de Amy, vamos ouvir quem a inspirou e explorar isso, entender por que ela cantava do jeito que cantava’.

Podemos citar nesse processo cantoras como Dinah Washington…

Marisa: Sim. Dinah Washington, Ella Fitzgerald, mas também Lauryn Hill. E pessoas que influenciaram [o álbum de estreia] Frank, e em seguida Back To Black. The Ronettes, The Shangri-Las… Me dispus a ouvir essas pessoas e a maneira como elas modificam suas vozes, prestando atenção nos ritmos, coisas assim. Me aproximei de Amy sem realmente focar diretamente nela, através de suas inspirações. Depois é que entramos mais nas modificações das vogais e na colocação do maxilar, as coisas realmente técnicas que iam me ajudar a soar um pouco mais como ela. E as ressonâncias. Uma das coisas legais sobre Amy é que nenhuma performance é igual à outra. Então, decidir como seria [em cena] foi fundamental. Claro, há também as gravações de Back To Black, mas a maioria das coisas que estamos fazendo são performances. Então, contanto que seja lúdico, e você esteja usando as técnicas que ela usava, seja aquela forte nasalidade, ou a voz de peito – ou apenas jogando coisas fora e sendo muito engraçada… Muitos dos nossos primeiros shows, muitas das coisas de Frank, me pareceram mais como um show de stand-up do que uma performance. Foi uma experiência realmente incrível e a guitarra ajudou muito, os objetos físicos como um todo. Fiquei obcecada, assistindo e observando tudo o que podia durante essa fase.

O quão foi importante para a sua pesquisa mergulhar fundo em todos esses vídeos disponíveis no YouTube?

Marisa: No roteiro, toda performance, ou seja, isso aconteceu de verdade, acabou se tornando meu ponto de partida para os estudos que desenvolvi junto ao professor de movimentos: “Quero emular isso exatamente como aconteceu”, pensava. Então, quando dei de cara com a performance do festival de Glastonbury, em 2008, em que ela pede para descer [para o fosso dos fotógrafos] e corre para cima e para baixo, pensei: “Não há possibilidade no mundo de fazer isso exatamente como foi.” Foquei em aprender cada movimento, até mesmo os movimentos dos olhos e coisas assim. Então, se em algum dia, Sam decidisse que queria fazer algo um pouco mais sonhador ou suave para o nosso filme, poderíamos reproduzir isso. Se quiséssemos fazer exatamente como tinha acontecido, eu tinha as ferramentas para executar. O mesmo rolou com a performance do Grammy [transmitida via satélite, em 2008]. Tive que estudar cada movimento. Nos momentos que não são exatos, você deve reparar, eu estava meio que colando trechos de performances que foram gravadas, desde [os primeiros shows em pubs no] Torrington Arms e Dublin Castle.

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