Levou um ano para que o cantor norte-americano Omar Apollo cumprisse a promessa que fez de se apresentar no Brasil. Quebrando um ciclo de cancelamentos que parece chacoalhar, anualmente, o lineup do festival Lollapalooza, o artista subiu ao palco neste domingo (24) na companhia de três músicos, com quem apresentou as canções do disco “Ivory” (2022).
Celebrado entre os nomes de sua geração, Apollo trouxe ao país um show que teve como trunfo o apego pela música, a despeito da parafernália digital que circunda a obra de outros artistas estrangeiros. Com uma timidez que, por vezes, se confundiu com o charme, o cantor permitiu aos fãs acessar uma atmosfera intimista que destoava do restante do evento e remetia a uma boate antiga.
Sem resistência, a plateia se permitiu ser conduzida por entre divagações românticas. Baladas como “Petrified”, a sua vez tocada ao violão, soaram como a síntese de um pop dramático que impulsiona ao protagonismo a delicadeza dos arranjos.
“Tamo junto, galera. Amo vocês, amo São Paulo”, ensaiou o artista, em português, pouco antes de questionar quantos gays estavam na plateia. Apollo também reconheceu um fã que o recebeu no aeroporto com flores e, entre interações comedidas, se recusou a tirar a camisa. “Volto no ano que vem e faço isso, certamente mais forte”, provocou.
Se em estúdio, o artista parece muito mais alinhado aos aparatos eletrônicos e ao uso frequente do sintetizador, ao vivo seu show assume, inclusive do ponto de vista visual, uma postura rock ‘n’ roll. Ainda que as bases pré-gravadas continuem a marcar presença, a escolha de manter um grupo de músicos em cena trouxe um aporte significativo a canções como “UGOTME” e “Useless” que, diante da sincronia requerida pelos instrumentos, soaram ainda maiores do que em suas gravações originais.
“Frío”, a única faixa em espanhol escolhida para o repertório, colocou em evidência o ônus atribuído à herança hispânica do cantor e, por vezes, desperdiçado. Além disso, expôs uma postura que, em diversos momentos, emulava entre passos de dança e falsetes o rei do pop, Michael Jackson.
Foi talvez inspirado pelo performer que ganhou a confiança necessária para se soltar em cena, tal qual fez durante as músicas “Invincible” e “Tamagotchi”.
Fã de Arthur Verocai, figura curiosamente mais conhecida nos Estados Unidos do que em sua própria terra natal, Omar Apollo deixou o palco partindo em direção aos fãs e em meio à sensação de que o amor pode estar na esquina mais próxima. Basta saber senti-lo.
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