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Fernanda Torres fala sobre sucesso da Vani, de “Os Normais”: “Não seria mais possível”
Convidada do programa “Roda Viva“, exibido sempre às segundas-feiras pela TV Cultura, a atriz e escritora Fernanda Torres comentou personagens icônicas de seu repertório, citando, especificamente, duas delas: Vani, protagonista de “Os Normais”, e Fátima, estrela do seriado “Tapas & Beijos”. Quando questionada sobre sua relevância nas redes sociais, que a faz virar meme constantemente, Torres foi categórica:
“Elas são ótimas. ‘Os Normais’ eu olhei e me achei nova, super forte o que foi a Vani e o Rui. Mas hoje em dia fiquei olhando a Fátima. Achei aquilo uma obra prima, aquelas duas mulheres com aqueles problemas delas, aqueles homens. É incrível porque ‘Os Normais’ hoje não seria possível. Eles saíam e iam namorar, não tinha traição, iam encontrar o vizinho. Eram coisas de uma liberdade que esses jovens não têm mais”.
A jornalista Rita Lisauskas, do jornal O Estado de S. Paulo, quis saber, então, se a intérprete enxergava o presente como algo mais “careta”.
“Eu acho que quando eu era nova, a gente achava que a opinião pública era a zona Sul [do Rio]. Como era ditadura militar, a coisa mais importante que existia era a liberdade. Liberdade na escola, os filmes todos libertários, a droga era libertária. O ruim era proibir e crescemos com isso. Só que o mundo mudou muito, o que antes era droga libertária, lisérgica para abrir a mente virou uma indústria armamentista. O cara da zona Sul, libertário e que subia o morro, que era amigo do pessoal… Bem, de repente, o morro se armou e o consumo passa a ser uma coisa esquisita, alienado, de uma classe privilegiada e libertária às custas do outro”.
Foi então que Torres aproveitou a oportunidade para corrigir uma fala sua, em 1995, no mesmo programa em que dizia ter “preconceito contra crente”.
“Jamais repetiria isso hoje porque os evangélicos ocuparam o lugar em que o Estado faltou. Eu acho triste que demonizem as religiões de origem africana. Lutaria por uma igreja evangélica sincretista, eu amaria isso. Essas pessoas vieram com um discurso moral. Seus amigos podem beber e fazer tudo que não são presos. O intelectual libertário, hoje em dia, é privilégio de alienado. Não é que o mundo ficou mais careta, o mundo ficou mais violento, menos utópico”.
A atriz, ainda na mesma questão, fez elogios ao rapper e apresentador Mano Brown, além de lançar uma espécie de “mea culpa da branquitude”.
“Quem tá meio perdido hoje é esse branco libertário, pessoas como eu, e também do ponto de vista intelectual. Eu olho o programa do Mano Brown, ele sabe o que quer, o que está fazendo. O problema é que o intelectual branco, antes, era o porta-voz do povo, livre, superior. Hoje, o povo fala por si. O Mano Brown vai lá e faz aquele programa educativo, ouço o Silvio Almeida falar. Aí me pergunto: o que faço com a minha liberdade? Eles tão achados. Quem tá perdido somos nós”.
Assista!