“Se eu não tivesse aqui cantando, estaria aqui vendo. É o tipo de música que eu gosto. Afinal, somos todos a mesma coisa.” Marina Sena se conectou com os fãs (seja por essa fala ou por suas músicas) que a aguardavam para show pontual de uma hora, neste domingo (3) de Primavera Sound, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo
A voz mineira percorre o Brasil com a turnê do disco “Vício Inerente”, lançado em abril em que versa sobre amores, tesão e desilusões dentro de vários ritmos. O show no festival catalão seguiu a fórmula do que já se tem visto em apresentações desta fase musical de Sena. “Sonho Bom”, “Me Toca”, “Tudo Pra Amar Você”, “Me Ganhar” começam cadenciadas e perfeitamente desenvolvidas por Marina e seu balé.
“Dano Sarrada”, atual single em trabalho, ganhou um momento inédito e foi a surpresa desta tarde, para quem já viu a artista outras vezes. Marina ficou rodeada por bailarinas abaixadas, em cima de uma estrutura suspensa no centro do palco, numa espécie de releitura de “O Nascimento de Vênus”, de Botticelli. Um videomaker, então, invadiu o palco e filmou a cantora e quem a acompanhava, e as imagens assumiram o telão de fundo dando a sensação de um videoclipe sendo feito em tempo real. A prática tem sido comum em grandes turnês, como Rosalía e sua Motomami, fora daqui; e Ludmilla em show no festival The Town, no Brasil.
A apresentação seguiu, como o grande calor que faz na cidade, com “Por Supuesto”, “Olho no Gato”, “Partiu Capoeira” (sozinha no palco), “Ai que Delicia O Verao” em remix de piseiro, “Pelejei” e “Mande Um Sinal”, balada potente em que Marina senta no palco e faz um momento íntimo artista-fã, como se estivesse cantarolando numa mesa pós-almoço, rodeada de amigos, e com a barriga cheia.
Aliás, aqui vale um parênteses: Marina e seu corpo de bailarinos é uma das melhores adições que Vício Inerente trouxe para seu show atual, mas é quando sozinha no palco, seja sentada, de pé ou dançando à sua maneira, que ela mais brilha. Tem tudo ali.
Em certo momento, ela disse estar com saudade de cantar um “voz e violão”, antes de perguntar: “Cadê a Marina MPB?”. “Dizem que saí da MPB e fui pro pop, odeio que digam isso”, disparou a mineira, antes de enumerar faixas do “Vício Inerente”, que tem elementos musicais deste movimento. A fala de Marina pode ser entendida como uma resposta às críticas que vira e mexe ela recebe de fãs e seguidores de seu trabalho sobre o atual momento de sua carreira, após o lançamento do segundo álbum da carreira.
O bloco final do show contou “Mais de Mil” e “Que Tal”, parceria com Fleezus, duas das melhores do disco mais recente, além de “Voltei pra Mim”, uma grande música do álbum “De Primeira”, de 2021, que a alçou pro estrelato.
Se você parar para refletir, a resposta de Marina às críticas que recebe é quase que desnecessária quando é seguida de um bloco de boas músicas em que seu talento, sua voz e suas composições de ponta ganham o público, arrematando a apresentação de forma primorosa.
A maior resposta que Marina pode dar, afinal, é na música e no seu trabalho como artista. Fazendo música boa, coesa, atual, atenta aos novos movimentos e que leve uma mensagem que engaje. Nem sempre é preciso responder com 140 caracteres. A aba musical é mais importante.
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