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Duda Beat fala sobre fase loba na música, disco inédito e semelhança com Kylie Minogue

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(Foto: Divulgação)
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“O trabalho nunca para. Terminei o disco agora e já vou começar a fazer outras músicas.” Duda Beat é sagaz e, de fato, não para nunca. Seis meses após a estreia do LP “Te Amo Lá Fora” (2021), a artista já dava início aos trabalhos daquele que vem a ser seu terceiro álbum. Já finalizado, o projeto chegará às plataformas de música no ano que vem.

A primeira amostra, intitulada “Saudade de Você”, chegou nesta terça-feira (21) e conserva apenas no título a sofrência que a consagrou no fim da década passada.

Produzida pela dupla Lux & Troia, seus parceiros de longa data, a faixa a posiciona em um lugar de ousadia e dominação em que, plenamente consciente dos próprios desejos, ela se mostra pronta para reviver um amor. Por quanto tempo é que não se sabe e a decisão será unicamente da autora.

“Tenho sido muito prazeroso pra mim mostrar mais uma faceta em que abranjo mais ritmos, melodias, e outra persona também”, explica ao Papelpop, em entrevista via telefone em pleno feriado.

Na conversa, Duda falou de forma franca sobre os próximos passos da carreira, quebras de expectativa e até mesmo das polêmicas em que se envolveu.

A artista diz estar mais próxima do Miami bass, que segue fiel à sua verdade e lê as críticas, as construtivas, como um lembrete da responsabilidade que possui.

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Papelpop – É possível dizer que Duda Beat está se redescobrindo como loba?

Duda Beat – Dá, sim [risos]. Estou aprendendo a me curtir de uma outra forma e acho que isso se conecta muito com o que quero comunicar com esse terceiro disco. É muito louco também porque as circunstâncias em que esse trabalho surgiu não foram fáceis. E nem digo isso por falta de criatividade, ao contrário. A criatividade sempre veio em abundância pra mim, mas acho que esse sentimento é mais pela melancolia que me bateu durante a pandemia. Saímos meio arrasados. Agora, tô muito feliz e acho que esse lance da loba reflete bem… Sou uma mulher que gosta de explorar.

Papelpop – Muita gente estranhou as prévias e se questionou onde estaria aquela Duda Beat tradicional, mais dramática. Não acha que abordar um lado libertário é também parte do processo romântico? Quer dizer, finalmente chegar ao oposto total da dor?

Duda Beat – Total! Você acompanha minha discografia há bastante tempo e sabe que eu saio do amor romântico no primeiro LP e sigo em busca de algo mais solar no disco seguinte. Acho que esse terceiro capta um fim de tarde, talvez o início da noite. É um momentinho do dia que eu adoro. Vai ser aquele disco que você bota pra ouvir antes de sair. Ainda temos tempo pra mostrar outras coisas, ainda tem um álbum inteiro pela frente. Tá cedo [risos]. Existem músicas no álbum em que a noite chegou. Acho que, realmente, esse projeto vai dar pra ouvir numa festa, ouvir integralmente. Ele faz um set gostoso.

Papelpop – Aliás, quando não está a trabalho, Duda Beat prefere rolês que começam e acabam cedo?

Duda Beat – Depende, sabe? Na minha rotina normal, às 23h já estou na cama. Acordo cedo pra treinar, sou alguém muito do dia. Mas quando saio com as minhas amigas, estendemos até 4h, 5h da manhã.

Papelpop – Ouvindo esse single, sinto que você deixa um pouco de lado a estética de banda pra partir em direção ao eletrônico, a uma estética que contempla o garage e o Miami bass

Duda Beat – Sim. Na verdade, interpreto esse projeto como resultado de muita coisa que a gente escuta a vida toda. Eu tenho 36 anos, dos quais os primeiros 18 morei no Recife e os últimos 18 no Rio. As sonoridades de ambos os lugares me atravessaram de jeitos muito específicos. Quando cheguei aqui [RJ], em 2005, ouvia muita Perlla, DJ Marlboro, Latino. São coisas da minha infância. Eu era viciada em Top 10 da MTV, cresci ouvindo de rock, por causa do meu pai, mas também a MPB, ritmos populares como o axé. Me vejo envolvida por muitos ritmos.

No Recife, a gente tem o Carnaval multicultural, em que toca de tudo. A gente gosta de ouvir, de estar junto e conectado à novidade. Todos os meus trabalhos são resultado do que eu realmente gosto de ouvir. Sinto que eu e os meninos que criam comigo temos uma antena ligada, diferente. Fiquei feliz com o funk melody, com a coincidência de várias coisas voltando enquanto eu já tava criando com esse sexto sentido. Você vai ver garage e Miami bass agora, mas há mais por vir. O que eu preciso dizer é que tenho ouvido pouca coisa. Ouvi muito Anderson .Paak, é verdade. Mas pra não me contaminar, reconheço que saíram vários álbuns de artistas próximos e eu tentei me blindar até terminar o meu. O tempo é muito importante. Essa música, inclusive, está pronta há uns seis ou sete meses.

(Foto: Divulgação)

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Papelpop – As pessoas comentaram sobre o fato de você ter feito referência, na capa de “Saudade de Você”, à Kylie Minogue naquela apresentação do BRIT Awards 2002. Eu, particularmente, acho que não tem nada a ver [risos]. Pra você, foi isso mesmo? Faz sentido?

Duda Beat – Confesso que a Kylie não estava nas minhas referências [risos]. Te choquei?

Papelpop – Definitivamente, não. Quais eram elas?

Duda Beat – Claro, eu amo o trabalho de Kylie, é a nossa deusa da disco. Mas nunca tinha assistido àquela apresentação e só me mostraram depois que todo mundo comentou. Nas nossas referências, pensava muito em Debbie Harry, em Miley Cyrus, cantoras de quem sou muito fã. Aliás, não é novidade pra ninguém que sempre me disseram, desde criança, que eu era a cara da Debbie Harry. Agora, a Madonna foi meio onipresente, o clipe pega muita coisa daquela estética adotada por ela no início da carreira, uma coisa bem The Breakfast Club, cantora de banda alternativa de rock… Até as fotos dela pelada, que depois foram vendidas pra Playboy. Não percebia ninguém olhando pra isso no Brasil agora, queria sair um pouco da curva. Fico lisonjeada que pensem que a capa remeteu ao trabalho da Kylie. Referência boa é quando você é lembrada por algo, mas isso não se pretende igual, ou ainda quando você admite que está se inspirando no trabalho do outro. Isso é importante, dizer: ‘Pô, essa pessoa é minha referência’. Fingir que não viu é estranho.

Papelpop – O clipe acena várias vezes para o movimento pós-punk e à cena independente, que é, à sua vez, o lugar onde você permanece, apesar de ser uma cantora com alcance enorme. Essa transitoriedade, esse olhar que você lança pra esses lugares que estão tão distantes do mainstream, é também um sintoma dessa transformação que você propõe? A mensagem do momento é transformação?

Duda Beat – Absolutamente. Sinto que a minha mensagem sempre foi essa, na real. Saio de um lugar completamente iludida e romântica para uma postura mais pé no chão. Agora, no meu terceiro disco, quero liberdade, quero aproveitar. Hoje em dia, eu vivo um relacionamento correspondido, que é gostoso. Não posso negar também esse lado, apesar de que a sofrência sempre vai existir. Sofri muito tempo na minha vida, sempre que eu quiser escrever uma música sobre isso, vou ter pra onde correr…

Papelpop – Fico me perguntando se a gente para de sofrer em algum momento.

Duda Beat – Não para, mas os sentimentos mudam, o sofrimento muda, os personagens mudam. A criatividade dá espaço pra isso, pra gente ir ali e aqui. Então… é, sim, mais um momento de transformação minha.

Papelpop – As pessoas bateram bastante em você após associarem seu nome a duas polêmicas recentes. Uma delas diz respeito a uma denúncia de suposto plágio e a outra por ter acompanhado a sua amiga Luísa Sonza em um momento de extrema exposição na TV. Como você recebe essas críticas? Te afeta muito?

Duda Beat – Eu acho que sempre que as críticas são construtivas, a gente precisa parar pra prestar atenção. Mas tento não me entristecer e não me deixar atingir por saber, principalmente, quem eu sou. Sei que tenho princípios, que sou uma aliada das causas, e nisso meu coração fica tranquilo. No caso da Ana Maria Braga, eu tava lá, cantamos a música que tínhamos que cantar e eu foquei nisso. Depois foquei em estar ali como uma melhor amiga. Muitos amigos sempre disseram que eu fui uma grande melhor amiga. Meus fãs reconhecem isso através das minhas canções também porque é de verdade quando me coloco nesse lugar de vulnerabilidade. Em todas essas situações que você cita, o meu papel é fazer o bem e refletir, quando errada. As pessoas só não podem esquecer que somos seres humanos. A gente não pode errar, de acordo com a nossa responsabilidade adquirida ao ter essa voz e ser ouvida. Mas acho natural as pessoas criticarem, e tento aprender as lições que isso me traz. Nada vem por acaso na vida. Tento pensar dessa forma.

(Foto: Divulgação)

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Papelpop – Letras mais explícitas, com descrições de sexo, já são uma realidade no funk há algum tempo. Mas, quando isso vai pro pop mainstream, parece as pessoas ainda se chocam. Que leitura você faz desse movimento, pensando o novo single?

Duda Beat – Acho tão natural falar de sexo, é uma coisa que todos nós fazemos. Eu sou muito aquariana, pra mim, é natural. Acho maravilhoso que as mulheres se libertem e falem sobre o assunto, isso, sim, é uma verdadeira transformação. O machismo estrutural existe, é uma realidade nas nossas vidas, infelizmente. A gente vê mulheres que morrem todos os dias. A gente poder falar sobre liberdade e sexo de forma explícita é um jeito de se empoderar a falar sobre o que queremos, de ter a consciência de que temos os mesmos direitos. Nos sentimos inspiradas e fortalecidas a dizer ‘Não’, ou dizer ‘Sim’. Ouvia muito no início da minha carreira relatos de relacionamentos abusivos que acabaram depois de a pessoa ouvir as minhas músicas. Todo esse outro movimento é feito, da minha parte, pra fortalecer cada vez mais.

Papelpop – Você diz no texto de apresentação dessa faixa que nada é definitivo. Como essa frase se aplica ao seu trabalho hoje como compositora?

Duda Beat – Sou uma pessoa que tenta falar de todas as formas sobre o amor. Quando paro pra pensar no que somos, percebo que somos isso, um monte de coisa. A gente não é uma coisa só, não pensa uma coisa só. Tento ser o mais real possível nessa arte e que me compreendam por inteiro. Sou transparente, tenho posições políticas e nunca as escondi. Não tenho por que fazer isso e essa postura, inclusive, se relaciona com a pergunta anterior sobre críticas. O tio do Homem-Aranha diz: ‘Grandes poderes, grandes responsabilidades’ [risos]. Isso é totalmente compreensível e sei que tenho essa responsabilidade de ser 100% honesta com o meu público, mas em paralelo 101% comigo mesma. É isso o que vai fazer as coisas caminharem.

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“Saudade de Você”, o primeiro single do novo disco de Duda Beat, está disponível em todos os tocadores.

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