Um ícone da transgressão e da música pop, a cantora irlandesa Sinéad O’Connor morreu nesta quarta-feira (26). A informação é do jornal The Irish Times, que não revelou a causa.
Nascida em Dublin, em 8 de dezembro de 1966, ela tinha decidido fazer uma pausa na carreira depois de perder um filho de forma trágica, no fim de 2022. Shane O’Connor, fruto de seu relacionamento com o cantor de folk Donal Lunny, tinha 17 anos e foi encontrado morto na cidade de Wicklow, na Irlanda.
À ocasião, Sinéad afirmou que ele tinha “decidido encerrar sua luta eterna”, levantando suspeitas sobre suicídio. Ela ameaçou processar o hospital onde o garoto, diagnosticado com depressão, tinha sido internado.
A saúde mental vinha sendo uma pauta constante em seus discursos. Diagnosticada com transtorno bipolar e também vítima de duas tentativas de suicídio, ela teve uma infância difícil e sofreu com a separação dos pais.
Mais tarde, revelou ter sofrido abusos físicos da mãe, antes de ser enviada, aos 15 anos, para o Asilo de Madalena. A instituição, que funcionou entre o século XVIII e o fim do século XX, era regida por freiras e recebia meninas e jovens mulheres consideradas “perdidas”.
Adulta, a cantora ficou conhecida, internacionalmente, por uma gravação que fez do clássico “Nothing Compares 2 U”, em 1990. A faixa se tornou o single número #1 do mundo naquele ano, de acordo com a Billboard, e o disco “I Do Not Want What I Haven’t Got” é considerado um marco.
Antes disso, entretanto, já tinha sido aclamada pela crítica por seu álbum de estreia, o potente “Lion and the Cobra”, lançado três anos antes.
Com dez álbuns gravados, sua carreira enfrentou boicotes, sobretudo a partir da exibição de um episódio do programa Saturday Night Live em que rasgou uma fotografia do Papa João Paulo II. O ano era 1993 e ela decidiu cantar acapella uma versão de “War”, clássico de Bob Marley. Ao fim, disse em protesto: “Lute contra o real inimigo”.
À ocasião, ela protestava contra abusos sexuais cometidos contra crianças e encobertos pela Igreja Católica. A NBC registrou naquela noite mais de 4 mil ligações de espectadores furiosos.
A artista também se colocou ao lado de causas como a legalização do aborto, prática que revelou ter feito em seu livro de memórias, “Rememberings” (2021).
Do pop, e em meio às muitas críticas, ela fez incursões pelo jazz, que marcou o trabalho seguinte, “Am I Not Your Girl?” (1992); e no experimentalismo eletrônico de “Universal Mother” (1994). Outros dois discos viriam antes de “Theology”, trabalho que marca sua aproximação da religião.
Nos últimos anos, O’Connor mudou seu nome duas vezes, primeiro, para Magda Davitt. Depois de se converter ao islamismo, em 2018, passou a usar a hijab e assumiu nos documentos a identidade de Shuhada’ Davitt.
Em uma de suas últimas publicações feitas no Facebook, neste mês de julho, afirmou que voltou a viver em Londres após 23 anos afastada e que estava terminando as gravações de um disco. Os planos de lançamento previam para o próximo ano a chegada de novas faixas.
A artista também mencionava planos de entrar em turnê na Austrália e Nova Zelândia, além de percorrer lugares como a Europa e os Estados Unidos. Sinéad O’Connor deixa dois filhos.
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