Além de transformar o rock n roll ao fazer poesia com úteros e ovários, Rita Lee comandou alguns dos programas mais “subversivos” da TV brasileira. Sem medo, ela se jogou nos formatos, abordagens e temas mais distintos.
Após fazer uma incursão no rádio, ainda no fim da década de 1980, a artista foi convidada pela MTV para fazer o programa “TeLEEvisão” (1991). Com diferentes personagens, criou uma atração que misturava sátiras e entrevistas, sempre com um discurso sagaz e a companhia de figuras ilustres.
“Foi uma das coisas mais divertidas que fiz na vida”, relembrou Rita, em 2016, em sua autobiografia. “Caso um dia eu tenha estômago para ler, ver e ouvir algo que fiz no passado (sem querer me suicidar de constrangimento), começarei por ele”.
Essa “fagulha” serviu para que, quase uma década depois, surgisse o convite para estrelar a formação original de um outro sucesso da TV paga, certamente considerada sua obra-prima: o “Saia Justa”, que sustentou sua primeira formação entre os anos de 2002 e 2004.
Hoje um fundamento quando o assunto é pautas de comportamento, o mais longevo programa nacional do gênero começou com as presenças de Rita Lee, Fernanda Young, Mônica Waldvogel e Marisa Orth. Juntas, elas exploraram os mais variados assuntos, do sexo anal à guerra no Iraque.
Foram muitos os blocos memoráveis, que passearam da escatologia aos desaforos despudorados contra o machismo. Em uma dessas ocasiões, Rita Lee chegou a ensinar a Fernanda Young como colocar uma camisinha. Elas receberam, também, convidadas icônicas, como a cantora Vange Leonel (do hit “Noite Preta”, sucesso na novela “Vamp”) e desceram a lenha em capas de revista.
Neste dia tão triste, em que Rita Lee faleceu aos 75 anos, o Papelpop te convoca para relembrar alguns dos melhores momentos dela neste projeto, no qual brilhou sem igual.
“A inesquecível, a inigualável, a insubstituível, que eu chamava de Forebs”. Assim Rita Lee descreveu a amiga Fernanda Young (1970-2019) em um vídeo publicado durante a pandemia, em seu primeiro aniversário de morte.
No “Saia Justa”, elas pintaram e bordaram juntas. Certo dia, ambas decidiram ler a letra de “What iT Feels For a irl”, single recém-lançado por Madonna. Com a tradução da própria Fernanda, o momento é pleno em emoção.
Já imaginou um programa de TV em que as apresentadoras discorriam sobre temas livres a cada episódio? Na formação original do “Saia Justa”, isso acontecia.
Um trecho, geralmente do bloco final, ficava dedicado a uma das apresentadoras e ela podia falar sobre o que desse na telha. Rita Lee, em uma de suas falas, decidiu dedicar um tempo a comentar “flatulência”. Pum, em bom português.
“Vocês tem que concordar comigo: o cheiro do nosso próprio peido é prazeroso. Debaixo das cobertas, você solta um pumzinho. Ele é carinhoso, ele é simpático. E você reconhece isso”, disse a cantora.
Marisa, Mônica e Fernanda caíram na gargalhada, incrédulas com a seriedade da colega em tratar de um tema absoluto e literalmente escatológico. Rita até mesmo ensinou como soltar pum com um isqueiro (mesmo reforçando para que o espectador não fizesse isso em casa). Citando a infância e comportamentos da mãe foca, ainda falou ainda de arroto, meleca e cocô, tornando o momento algo absolutamente único! Com outra, pessoa não teria a mesma graça.
No início dos anos 2000 era comum que o telespectador enviasse e-mails à produção do GNT. No “Saia Justa”, tal qual ocorre nos podcasts de hoje, as apresentadoras liam elogios e desaforos. Em uma dessas ocasiões, Rita Lee não curtiu muito o que uma telespectadora disse a respeito decidiu mostrar a própria bunda — ainda que suas colegas de set tentassem impedi-la.
No terceiro episódio do programa, o quarteto decidiu falar sobre proteção. Com antenas de fada e vestida de branco, Rita Lee comandou uma discussão sobre anjos da guarda, relembrando com franqueza e bom-humor os muitos acidentes e enrascadas em que se meteu.
“Sou fã da figura do anjo, aquele amigo com asas atrás da gente, até ficava olhando pra trás pra ver se pegava o anjo. Agora o assunto virou meio charlatanismo, umas coisas que me incomodam um pouco. Mas essa figura é maravilhosa. O meu é de uma competência…”.
Com o CD “Balacobaco” nas lojas, Rita Lee e as amigas decidiram cantar uma de suas faixas mais irreverentes: “Tudo Vira Bosta”, uma resposta ao universo de burocracia e trambicagem que se criou no Brasil nas últimas décadas, na ocasião.
Se a versão original, deliciosa de cantar, já arranca risadas por si só, imagine ver todas as apresentadoras unidas nessa interpretação com o encarte em mãos logo na abertura do programa.
Politicamente incorreta, desbocada, debochada. Assim como apareceria no programa “Irritando Fernanda Young” anos mais tarde usando uma burca, Rita Lee decidiu ir ao “Saia Justa” trajando a dita peça tradicional do mundo árabe.
A escolha se deu pelo fato de que, no episódio em questão, seu desejo era expor aspectos do cinema americano que a desagradavam — daí uma vestimenta de crítica/vítima americana.
“Tem umas coisas que esse ‘Grande Satan’ é tão canastrão que a gente fica com raiva, vontade de amarrar a bomba na gente, ir lá em Hollywood e se explodir”, disse. “Vocês já repararam que a maioria dos motoristas de carro fica falando com o companheiro como se não houvesse estrada? (…) Todo mundo tem um robe de chambre para sair do quarto, todo mundo sabe destrancar porta com cartão de crédito, até mesmo crianças com 3 anos de idade”, provocou.
Pode não parecer, mas Rita Lee sempre se mostrou uma artista insegura em relação ao próprio trabalho. Paralela às gravações que fazia em estúdio, ela foi confrontada em relação ao tema “autoconfiança”.
Sem frescura, ela relatou que vinha se sentindo depreciada ao concluir as gravações, já que não conseguia alcançar determinadas notas — algo que fluia tranquilamente nos tempos em que estava entregue ao vício.
“Agora eu tive uma autoconfiança muito legal, consegui mesmo parar de fumar, fiquei chupando chupeta, pirulito. Agora… Eu parei porque eu estava com um edema nas cordas vocais e tô sem confiança nenhuma pra cantar. Na hora de cantar os agudinhos estou sem confiança. Se estivesse fumando…”.
Livrando-se do cigarro, Rita Lee entrou diante das câmeras em diversos momentos com uma chupeta de criança na boca. Segundo a própria, foi uma estratégia para se manter ocupada longe da tentação. É claro, o comportamento não deixaria de chamar a atenção do público.
Trazendo mais uma discussão sobre tema-livre, Rita Lee quis falar sobre implicância. “Estou implicadíssima com a raça humana. De uma maneira geral, estou decepcionada. Tenho vontade de bater, chacoalhar”, disse à ocasião.
Questionada sobre o que a estaria irritando naquele momento, ela não pensou duas vezes ao responder: “Eu implico com quem fala ‘galera’. Não é possível que não exista uma outra palavra. Mais insuportável ainda é a pessoa fazer uma pergunta e a resposta é sempre ‘Com certeza’. Não existe o benefício da dúvida, e esse sotaque paulista é de lascar”.
Nas palavras da própria Rita Lee, em seu livro de memórias:
“Certa vez, uma das pautas do programa era “direitos dos animais”, e eu lá quieta ouvindo as três debaterem o assunto quando uma delas comentou que Gisele Bündchen havia desfilado com casacos de pele de foca. Nesse momento, baixou minha [Brigite] Bardot interior e, aproveitando que o programa era ao vivo, soltei um pequeno desabafo: “Tomanocú, Gisele!”.
Uma pena que não haja registro desse momento icônico, bastante representativo da luta de Rita em defesa dos bichos. Cabe agora ao GNT/Globoplay, a fim de preservar a memória da artista e da própria emissora, resgatar e remasterizar tais episódios na plataforma.
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