Foi na década de 1960, em plena ditadura militar, que surgiu a maior figura feminina do rock brasileiro. Rita Lee Jones integrava Os Mutantes na época, sendo a única mulher entre Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, e já mostrava a potência, força e sede de liberdade que, anos mais tarde, a tornaram símbolo do movimento feminista.
“Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Eu fui lá com meu útero e meus ovários — e me senti uma igual, gostassem eles ou não”, escreveu em “Rita Lee: Uma Autobiografia”, originalmente publicada em 2016.
Seu culhão era outro. Era a coragem absurda e natural de colocar a si mesma como protagonista, de retratar a mulher em todas as suas faces, de não ter papas na língua e de falar abertamente de sexo em uma cena de predomínio masculino, mas da qual, depois, virou a principal voz. E ela seguiu assim em mais de 50 anos de carreira, resultando na abertura de portas, ruas e estradas inteiras para as mulheres que vieram depois dela.
Santa Rita de Sampa foi, é e sempre será “uma das nossas grandes feministas, a mulher da música brasileira que peitou os caras desde sempre”, como uma vez pontuou, certeira, uma de suas conterrâneas, a cantora e compositora Céu.
Ainda que a própria artista dissesse que sua única bandeira foi a dos direitos dos animais, e não a do feminismo. Ainda que o movimento não fosse amplamente discutido, como é hoje, em sua época. Ela foi, é e sempre será tão revolucionária assim.
Rita partiu aos 75 anos, na noite da última segunda-feira (08), mas celebramos o legado incontestável que ela deixou para sempre na música brasileira e na vida das mulheres.
O Papelpop, então, te convida a ouvir dez discos que mostram todo o poder feminino da eterna Mãe do Rock.
Primeiro álbum de Rita Lee após a saída d’Os Mutantes, “Build Up” foi lançado em 1970 pela gravadora Philips Records. Ainda contava com a parceria de Arnaldo Baptista, que assinou a direção musical, e ressoava o eco da Tropicália, mas já trazia os sinais de uma mulher que queria ver seu nome brilhando, ter o mundo lhe aplaudindo e ser uma estrela. Uma mulher que salvaria a si mesma para garantir a vida eterna e para sempre cantar.
“Fruto Proibido” chegou em 1975, quando a artista formava a banda Rita Lee e Tutti Frutti, e se tornou um dos discos mais icônicos de seu catálogo. Nele, surge a faixa “Luz Del Fuego”, inspirada na dançarina capixaba de Cachoeiro de Itapemirim que era adepta ao nudismo e virou símbolo da libertação feminina: “Eu hoje represento o segredo / Enrolado no papel / Como Luz Del Fuego / Não tinha medo / Ela também foi pro céu cedo”.
O material entregou, ainda, “Agora Só Falta Você”, “Esse Tal de Roque Enrow” e “Ovelha Negra”, hits que reforçam não só a identidade e a sensação de autoconhecimento da paulistana, mas também seu compromisso com o rock enquanto mulher. Provou que ela veio para ficar, tendo muito o que dizer.
“Entradas e Bandeiras” estreou um ano depois, em 1976, com a faixa “Corista de Rock” enviando uma mensagem clara aos parceiros da Tutti Frutti e a todos que estivessem ouvindo: Rita quer, pode e vai fazer rock ‘n’ roll. “O que eu era ou sou por enquanto / É tudo aquilo que eu digo e canto / Pouco de espanto no palco quando eu canto”, soltou ela.
Último trabalho com os músicos da Tutti Frutti, “Babilônia” voltou os olhos do Brasil para Rita Lee novamente em 1978. Principalmente porque continha a canção “Jardins da Babilônia”, em que a cantora e compositora entoava que “para não ficar por baixo, resolveu botar as asas pra fora”, ciente de que “quem não chora dali, não mama daqui”. Um escândalo para os conservadores da época. Só ela poderia fazer isso — e assim o fez.
Em 1979, época em que o sexo ainda era cantado majoritariamente pelos homens, o primeiro álbum autointitulado do catálogo mostrou Rita tomando as rédeas do prazer com o sucesso “Mania de Você”.
O marcante projeto trouxe, ainda, “Elvira Pagã”, canção que homenageia a vedete que foi a primeira mulher a usar um biquíni na América do Sul e repreende “todos os homens deste nosso planeta que pensam que mulher é tal e qual um capeta”.
No ano seguinte, outro autointitulado chegou e manteve o tom. A famosa música “Lança Perfume”, por exemplo, retomou a temática sexual sem rodeios: “Me vira de ponta cabeça / Me faz de gato e sapato / E me deixa de quatro no ato / Me enche de amor, de amor”.
Em parceria com Roberto de Carvalho, “Flagra” veio em 1982 e continuou apresentando a dona de si que era Rita Lee. Além da própria faixa-título, o destaque do disco certamente foi – e é – “Cor de Rosa Choque”: “Nas duas faces de Eva / A bela e a fera / Um certo sorriso / De quem nada quer / Sexo frágil / Não foge à luta / E nem só de cama / Vive a mulher”. Não provoque.
Outra colaboração foi eternizada em 1985, com o lançamento de “Rita & Roberto”. O álbum foi responsável por “Molambo Souvenir”, música em que Rita abandonou a “rebeldia”, pela qual era conhecida, e se colocou em uma posição de vulnerabilidade e reflexão. Ela tinha perdido o pai e enfrentava rumores de uma doença na época, quando decidiu mostrar mais um lado de sua sensibilidade feminina e cantar que até a “chuva lá fora chora com pena”.
Mais um “Rita Lee” entrou na discografia da artista, em 1993. O material trouxe “Todas As Mulheres do Mundo”, música cheia de referências a Leila Diniz, Roberta Close, Evita, Madonna, Princesa Diana, Irmã Dulce e muitas outras mulheres, fossem elas “socialites, plebéias, rainhas, madrastas ou sapatas”. Porque “toda mulher quer ser amada e feliz”.
No repertório também estava “Menopower”, em que Rita abordou a menopausa, tampax, tabelinha, pílulas, DIU e camisinha. Foi uma forma de falar sobre a chegada da mulher aos 40 e 50 anos, período em que começa a ser deixada de lado pela indústria. Mas ela, como sempre, estava fugindo às regras.
Trabalho mais recente desta lista, “3001” foi disponibilizado no ano 2000 com “Pagu” entre suas 12 músicas. Nela, Rita e Zélia Duncan relembraram a jornalista, escritora, diretora, desenhista e militante comunista Patrícia Galvão e desconstruíram o estereótipo da mulher do Brasil.
“Nem toda feiticeira é corcunda / Nem toda brasileira é bunda / Meu peito não é de silicone / Sou mais macho que muito homem”, cantaram.
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Considerada a mãe do rock brasileiro, Rita Lee faleceu nesta segunda-feira (08) aos 75 anos. Ela vinha tratando de um câncer no pulmão desde abril de 2021, quando foi diagnosticada. Menos de um ano depois, Beto Lee, um de seus filhos, afirmou que a doença da estrela entrou em remissão.
A cantora, compositora e multi-instrumentista morreu cercada do amor de sua família, em sua própria casa, em São Paulo. O velório será aberto ao público nesta quarta-feira (10), das 10h às 17h, na capital paulista. Saiba mais clicando aqui.
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