A trajetória de “O Pastor e o Guerrilheiro” até os cinemas foi longa e intensa. O processo remonta aos anos pré-pandêmicos, sendo este o último trabalho gravado (com muita pesquisa e saga geográfica) por Johnny Massaro antes da Covid-19 impossibilitar a produção audiovisual no Brasil e no mundo.
Com o diretor José Eduardo Belmonte, a roteirista Josefina Trotta, o produtor Nilson Rodrigues e os colegas de elenco, o ator carioca viajou para Tocantins e Brasília, ficou às margens do Rio Araguaia, adentrou a selva amazônica e imergiu na história que retrata parte da ditadura militar brasileira.
A preparação exigiu, até mesmo, uma perda de peso para que ele vivesse o guerrilheiro comunista João, feito prisioneiro no filme.
“Como meu personagem é preso, fica naquela situação desumana, meu corpo precisava estar próximo do que seria o corpo de alguém torturado. E ao mesmo tempo em que eu precisava aparentar fraqueza e fragilidade, também precisava estar forte para trabalhar”, contou Johnny ao Papelpop, em entrevista por telefone que tratamos sobre o longa, carreira como diretor e protagonismo em próxima novela da TV Globo, “Terra e Paixão“.
Uma vez pronto, “O Pastor e o Guerrilheiro” chegou primeiro aos festivais. Estreou no Festival de Cinema de Gramado e, depois, percorreu o New York Latino Film Festival, Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Festival do Rio, Festival del Cinema Ibero-Latino Americano di Trieste, Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Pan African Film Festival e outros.
Agora, com o longa-metragem em cartaz em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Natal e Fortaleza desde a última quinta-feira (13), o público geral conhece o pastor e o guerrilheiro que, assim como centenas de brasileiros reais, foram vítimas do regime autoritário dos anos de 1960 a 80.
A trama mostra a inesperada conexão de João com Zaqueu, cristão evangélico vivido por César Mello, em uma prisão de Brasília. Confinados, eles tentam superar suas diferenças ideológicas, se ajudam a sobreviver e marcam um encontro para 26 anos depois, em 1999, na virada do milênio.
“Acho que um dos maiores baratos do rolê é esse confronto entre essas duas figuras supostamente tão diferentes, mas que tem uma conciliação. No final das contas, mesmo estando em extremos diferentes, eles descobrem que querem exatamente a mesma coisa: um Brasil melhor. E descobrem isso através do diálogo”, disse Massaro.
Para o artista, esta foi uma história especial: “Eu queria, há bastante tempo, fazer algo com esse recorte da ditadura militar porque acho que o audiovisual, em geral, retrata menos do que deveria essa parte tão importante da nossa história. Foi uma feliz coincidência o convite de Belmonte [diretor do projeto]”.
Mas isso, claro, trouxe responsabilidades para ele. “A gente sabe que a verdade é que a ditadura ceifou vidas, futuros, amores, ideias, ideais… muita coisa foi perdida. Então, existia muito respeito pelas pessoas que perderam suas vidas ou que sofreram tortura e estão aí para contar história. Pessoas que vão ver o filme e falar: ‘caramba, eu passei por isso’”, afirmou.
“A gente recebeu alguns relatos de pessoas dizendo que a gente fez o que elas passaram na vida real. Isso me deu um grande alívio. Imagina se a pessoa que estava lá, não se reconhece no que a gente fez? Que grande perda, que grande desperdício de oportunidade seria”, acrescentou.
“O Pastor e o Guerrilheiro” quer justamente honrar os brasileiros que sofreram com o regime, reforçando a importância da memória como ferramenta para entender o presente e transformar o futuro. Porque ainda que “não consiga salvar o mundo, um filme pode mudar o mundo”, apontou Johnny.
É, então, neste momento que o cinema traz um de seus maiores trunfos. “Consciência faz parte da transformação, é o ponto de partida. Até a gente ter consciência do que aconteceu, a gente não consegue transformar nada. Por isso, eu acho que é muito importante que esses filmes existam”, concluiu o ator.
Veja (ou reveja) o trailer de “O Pastor e o Guerrilheiro”, já em cartaz nos cinemas:
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