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Marina Sena fala de amor e sedução com múltiplos ritmos em “Vício Inerente”

Por Guilherme Araujo e Jovi Marques

Marina Sena acaba de lançar o tão aguardado segundo disco de sua carreira solo. O projeto “Vício Inerente” desembarcou nas plataformas digitais nesta quinta-feira (27).

Ao longo de doze faixas, a cantora mineira, que conquistou o estrelato dois anos antes com “De Primeira” (2021), experimenta diversos ritmos musicais e se desloca em direção ao maior de todos os vícios: o amor. Em uma narrativa sedutora e cheia de flertes, ela potencializa sua voz marcante, arrematando mais uma vez quem procurava uma diva pop entre as Minas Gerais.

Ainda que mantenha os pés nas ruas do Brasil, Sena busca fazer conexões com a América Latina, a África e a Europa a partir de faixas que se embalam pelo trap, funk, pagodão baiano, europop, grime, dembow e mais.

(Foto: Fernando Tomaz)

É curioso observar, para além da habilidade que demonstram Sena e seu produtor e namorado, Iuri Rio Branco, ao moldar a estética sonora do disco com atrevimento, a forma com que se encaixa perfeitamente seu discurso.

Tudo está amarrado, nada está aqui por estar. Ela se mantém coerente do início ao fim ao revelar, nas entrelinhas de uma transparente autonomia de ser e pensar, a vulnerabilidade de quem abraça os próprios sentimentos ao chegar no estrelato.

O Papelpop ouviu o álbum antes da estreia e te conta, faixa a faixa, as impressões das canções. Solta o play e acompanha com a gente!

1 – Dano Sarrada

A canção de abertura do álbum traz uma espécie de amostra do que se vai ouvir ao longo desse projeto: batidas fortes, autotune como estética em cima da voz de Sena e mistura de ritmos em alta ao redor do mundo ao longo das doze faixas.

Em “Dano Sarrada”, a música ganha força no refrão, com a virada para um drill conquistador que ficara escondido nos primeiros segundos de música, como quem guarda o melhor para mais frente. A voz e bateria unidas e sozinhas na metade dão um ar de memória do “De Primeira”, junto ao piano no fim, que se encaixou perfeitamente. Aqui, Marina canta sobre como a vida é melhor e mais gostosa ao lado do mozão. Quem discorda? Ninguém!

2 – Olho no Gato

É uma faixa pop com uma pegada trap bem potente — subgênero do hip hop surgido no início dos anos 2000. Sena canta sobre um flerte em que ela se joga sem medo e sem fôlego. Tem muita distorção vocal, com batidas eletrônicas contagiantes e variadas.

É aqui que o ouvinte mais fiel do disco de estreia pode começar a torcer o nariz com a diferença entre os projetos. Mas é momentâneo: rapidamente, a cantora te conquista em uma faixa boa que ganha quem está aberto à versatilidade artística da mineira. A essência de Marina permanece aqui, seja com a voz um pouco diferente.

3 – Tudo Pra Amar Você

Essa aqui todo mundo já tinha ouvido. Foi o pontapé escolhido por Marina e sua nova gravadora e, agora ouvindo o disco completo, a gente entende o motivo. É o editorial do álbum. O flerte e o jogo de sedução que permeiam as letras se encontram unidos em uma faixa pop que bebe da fonte direta do afrobeats. Aqui, com roupagem similar do que é feito na Nigéria, berço do ritmo.

4 – Tudo Seu

Marina Sena mostra de “Tudo Seu” até as próximas três faixas, mais ou menos, sua faceta mais latina, estritamente falando. É como se fosse um reggaeton, sem o batidão conhecido mas o mesmo compasso do ritmo. A guitarra aqui ajuda a transformar o ambiente e faz uma cama para o protagonismo da voz de Sena tomar corpo — mais uma vez. É uma faixa deliciosa, com uma virada de bateria e baixo arrepiantes.

(Foto: Fernando Tomaz)

5 – Mande um Sinal

É uma faixa forte. Muita gente vai gostar dessa, tanto pela letra para sofrer por um amor latente, tanto pela voz de Marina que, mesmo com a base instrumental, soa a capella. Tem instrumentos de sopro com vocais limpos e anasalados de Sena (que já conhecemos e amamos).

A base do piano, junto às batidas eletrônicas sintetizadas, trazem um ar fresco que bebe da fonte da latinidade potente deste trecho do projeto. Uma espécie de balada moderna, digamos assim. Bem boa.

6 – Me Ganhar

Aqui é a faixa que abre caminhos para a segunda metade do disco — a mais experimental do projeto. Sena canta sobre as promessas que o mozão fez debaixo do edredom que as fazem se derreter por esse amor. A letra e a melodia se conversam com um ritmo mais lento, com batidas cadenciadas, que nos levam para um chamego agarrado a dois. Tem uma vertente latina, sem tirar o pé do que já conhecemos da Marina cantora de MPB.

7 – Que Tal

É importante observar como Marina Sena parece ter maturado ao longo dos últimos dois anos uma postura mais consistente em relação à música popular. O funk, por exemplo, ganha fôlego e se entrelaça ao afrobeats na única parceria que a cantora apresenta no disco, “Que Tal”, com o rapper Fleezus, de quem é fã. Juntos, eles tentam criar “o baile ideal” e amarram referências musicais que o próprio single “Tudo Pra Amar Você” já tinha introduzido.

A personagem sedutora, “garota embaçada”, chega cheia de autorreferências para reforçar a criação de um ambiente que é pop e atmosférico ao mesmo tempo. A artista coloca o pé no indie, mas sem perder de vista a linguagem pop – expressa sobretudo em letras de fácil assimilação como esta.

(Foto: Fernando Tomaz)

8 – Meu Paraíso Sou Eu

Uma das melhores faixas do álbum, “Meu Paraíso Sou Eu” quebra muitos mitos que envolvem um segundo disco ao amarrar a permanência da essência da artista, que agora busca dar vazão a suas inquietações e desejos sob outros enfoques. Isto é, apoiada por uma base de trap pop, Marina se propõe fazer uma brincadeira em que dá um tempo no autotune a fim de explorar seu maior trunfo: a voz anasalada, que a consagrou dois anos antes com o disco “De Primeira”.

Absolutamente clara no que deseja comunicar, ela coloca os dois pés na autossuficiência. “Eu não vou ser seu abrigo e não adianta/O meu paraíso sou eu. Não vai dar, não vai dar”, diz em um dos versos. Como acontece com a faixa-título do disco “MOTOMAMI“, de Rosalía, sua única falha é entregar uma canção curta, que se assemelha muito mais a um interlúdio. Por outro lado, essa escolha deixa no ar a impressão de que não seria mais preciso se estender, já que o recado está dado: “É surreal como eu sei me livrar de tudo o que não preciso e não adianta/Meu santo me livra do mal”.

9 – Partiu Capoeira

O leque de referências de “Vício Inerente” também vai ao encontro do pagode baiano, ritmo frutífero demais quando entrelaçado com a cena mainstream. Entre guitarras e metais arranjados com refino, Sena constrói uma canção pop de letra clássica, em que a desilusão se transforma em Carnaval.

Com refrão pegajoso, ela narra um fracasso sentimental que vaga pelas ruas de uma cidade agitada, em um esforço para se desvencilhar da fossa e dar espaço à consciência de liberdade recém-adquirida. Tem mistura de trap aqui também.

10 – Mais de Mil

De olho na inconfundível batida do funk de BH, parametrado pelos beats dos MC’s Rick, Anjim e WS da Igrejinha, a cantora se coloca em posição de atenção com a faixa “Mais de Mil”. Ao mirar no som criado na capital mineira, ela vai além e atravessa esse universo em que hits pop ganham todos os dias versões alternativas em diferentes roupagens. Ela mesma faz a sua.

Nessa, Marina se joga num ecletismo que não deixa escapar sua audição aguçada para o que se escuta nas ruas e bailes, além de fazer valer seu título de cantora popular, pronta para conquistar um espaço nos paredões.

(Foto: Fernando Tomaz)

11 – Sonho Bom

Mais uma grata surpresa do disco. Sena e Iuri se jogam no dembow (a quem até a própria rainha Madonna se curvou nos últimos tempos). O gênero urbano, de origem dominicana, é quem dita as regras em “Sonho Bom”, uma canção desacelerada em que o tesão escapa pelos poros.

Na composição, Marina se coloca no controle de uma situação em que a simples menção a um nome pode ser encarada como uma maldição. “Sonho Bom” tem letra destemida em que o sexo passa longe de ser um tabu. Com o peito entregue às balas, a cantora se permite viver os próprios desejos e conta que, na cama, não existe marra que a vença. Amamos!

12 – Pra Ficar Comigo

Os tais anos 2000, que impregnam a direção criativa da capa de “Vício Inerente“, são os mesmos que ditam o jogo na faixa final do disco. Um tanto existencialista, a derradeira canção abraça o pop internacional produzido nesse período em um movimento semelhante ao que fazem outros de seus pares, como a nova-iorquina Caroline Polachek no excelente “Desire, I Want To Turn Into You” (2023).

Com a ajuda do europop, Sena busca o próprio paraíso e traz sua percepção de que a própria presença se basta em meio a um redemoinho de sentimentos difusos. Conforme avança a letra, memórias se dissipam na segurança de quem aprendeu a decantar as emoções em uma caminhada solitária.

Como uma síntese do disco, Marina Sena busca em novos caminhos a luz necessária para seguir suas raízes sob holofotes.

***

“Vício Inerente” é o segundo álbum da carreira de Marina Sena e sucede “De Primeira” (2021). O projeto tem doze faixas com produção de Iuri Rio Branco e parceria única com o rapper Fleezus. A faixa “Tudo Pra Amar Você” ganhou videoclipe antes da estreia do disco.

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