Em entrevista que foi ao ar na TV mexicana nesta segunda-feira (28), Shakira revelou que sua parceria com o produtor Bizarrap na “Music Session #53” surgiu após um conselho do filho Milan, de 10 anos. Ele e o irmão Sasha, de 8, como já se sabe, participaram da concepção de outro videoclipe da mãe, “Te Felicito”.
“Foi uma sugestão dele. Milan me disse: ‘Mamãe, você tem que fazer algo com Bizarrap, com esse Deus argentino’. Tenho, inclusive, guardado um áudio dele dizendo a Jamie Levine, minha manager: ‘Jamie, você tem que fazer com que minha mãe cante com Bizarrap’. A parte boa de ter filhos pequenos é essa, conheci o trabalho de Biza graças a ele. Além disso, quando estávamos gravando o clipe, lembro de Milan dizer: ‘Você está um pouco longe do microfone, temos que ajustar isso e aquilo’. Tem um olhar crítico como o da mãe”.
Artista latina número 1 no mundo, ela figura hoje entre as 5 mais tocadas no ranking geral. Shakira disse ver seu atual momento como uma coleção de conquistas e destacou, para além do fato de que nunca antes a música em espanhol obteve tanto destaque, a importância de ter tido a coragem de expor seus sentimentos de forma tão íntima – algo que, para além das críticas e da repercussão, gerou um senso coletivo de identificação.
“Sobretudo, sabe o que eu comemoro? Que isso aconteça com uma colombiana, com uma mulher latino-americana, e que aconteça em espanhol. Tudo isso faz valer a pena. Eu tenho uma função social, tenho um lugar. (…) Minhas letras e minhas canções, em geral, são mais eloquentes do que eu. Nunca tentei ser nada além do que honesta através da minha música, utilizá-la como uma catarse, uma terapia. Minhas letras são a melhor terapia, mais eficazes do que uma visita ao psicanalista. Alguém tinha que ter tirado uma foto do dia em que trabalhei na Music Session #53, um antes e um depois, porque entrei no estúdio de um jeito e saí de outra. Por isso agradeço a Biza, por ter me dado o espaço e a oportunidade de desabafar. Foi importante para o meu próprio processo de recuperação, talvez eu estivesse em um lugar muito diferente se não tivesse feito essa canção. Foi uma forma de expressar e pensar a dor. Depois que você experimenta um desamor, uma traição, um vazio, uma decepção, o que quer que seja, você tem que sentir, mas também tem que racionalizar o que sente”.
Ela, que prepara neste momento um novo disco de estúdio, não deu detalhes sobre o projeto. Por outro lado, disse lutar constantemente contra a síndrome do impostor, mesmo que os números, a crítica e a popularidade digam o contrário.
Aos 46 anos, recém-completados em fevereiro, Shakira revelou ter visto com surpresa o fato de chegar ao top 1 das mais tocadas no Spotify.
“Sofro um pouco, levemente, de síndrome do impostor. Às vezes, não acredito em mim, ou me sinto capaz do que sei que sou, ou sou tão hábil, ou criativa, ou talentosa. Talvez, essa pequena patologia me manteve aí motivada, querendo descobrir quem sou eu e o que posso oferecer. Isso é o que me faz ter vontade de voltar ao estúdio de gravação. Com a carreira, sempre há momentos em que há um pouco de amor e ódio, até de preguiça. Acho que imaginava que na minha idade estaria em uma fazenda criando galinhas, ordenando vacas, vendo crescer os filhos. Comecei a fabricar meu final feliz, mas a vida decidiu me colocar em posições incômodas, acho que para me dar uma compreensão de como vivem os demais. Sinto que vivi mais de uma vida, como o gato. Estou em sexta ou sétima vida. Vivi a riqueza, a pobreza, as mostras de afeto, a discriminação, o preconceito. A vida me colocou em diferentes esquinas para mudar o ponto de vista. O que mais me falta? A dor não é mais do que uma emoção, no fim me dei conta de que estamos o tempo todo evitando a dor. Ela é parte da vida e está aí, sempre batendo na cara”.
Doze vezes vencedora do Latin Grammy, a artista relembrou momentos pontuais da carreira. Entre eles, “La Tortura”, faixa em parceria com Alejandro Sanz a que definiu como um marco inaugural para o contexto que se tem hoje na música pop, tanto em termos de grandes colaborações, quanto na popularização do reguetón.
“Um pouquinho, sim [disse, ao ser questionada se se sentia pioneira]. Na época, o reguetón era um fenômeno muito local de Porto Rico, havia figuras como Daddy Yankee, não era algo globalizado, nem existiam artistas pop experimentando com o gênero. Aí surgiu ‘La Tortura’, fiquei sabendo o que acontecia lá e quis fazer algo. Não sei se é uma das primeiras colaborações entre dois artistas, não era uma coisa que estava na moda, cada um ia pelo seu caminho, existia uma rivalidade entre cantores e até em relação aos gêneros. Não nos misturávamos. ‘La Tortura’ foi uma espécie de desordem generalizada. O Espanhol não estava na moda, os ritmos latinos também não”.
Para ler mais da entrevista e assistir à íntegra, clique aqui.
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