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Entrevista – Manu Gavassi grava Rita Lee na MTV e revela “pequenas interações” com a artista: “Segurança para homenageá-la”

Manu Gavassi já deixou claro que, apesar de toda sua adoração por Taylor Swift, na verdade, o seu respeito, idolatria e devoção são depositados fielmente a Rita Lee. A jovem cantora teve a oportunidade de regravar o icônico álbum “Fruto Proibido”, de 1975, para o retorno do “Acústico MTV”.

A paixão pela cantora foi herdada de seus pais, Zé Luiz e Daniela, e demonstrada por Manu em diversos momentos de sua carreira, seja ao citá-la em suas músicas, apresentar as canções de Rita no Grammy Latino, reproduzir em sua turnê um áudio que recebeu da veterana ou simplesmente por devorar a obra da artista.

“Fui tendo pequenas interações com ela. A Rita assistiu ‘Gracinha‘ [projeto audiovisual de Gavassi, lançado no Disney+ em 2021] antes de todo mundo”, revelou Manu sobre seu contato com uma das maiores artistas do Brasil, em entrevista ao Papelpop.

Foto: Cleiby Trevisan/Paramount+

Apaixonada pelas curiosidades da vida e carreira de uma das maiores lendas da música brasileira, Manu, no mesmo instante em que foi convidada para o retorno do clássico programa da MTV Brasil, pensou em homenagear uma de suas ídolas por não reconhecer que sua própria discografia — ainda em construção — como categórica o suficiente para esse retorno poderoso. E assim foi feito.

Olhando o produto final, a voz de “Planos Impossíveis” concluiu: “Cresci como artista fazendo essa homenagem, me sinto mais livre agora para ousar mais também”.

Foto: Cleiby Trevisan/Paramount+

No material, que já está disponível pela Paramount+ e exibido pela MTV Brasil, nesta quinta-feira (2), para além das faixas de “Fruto Proibido”, em que ela fez questão de não fazer mudanças no tom e nos arranjos, Manu tomou licença para cantar duas de suas músicas: “Bossa Nossa” e “Gracinha”, em que foi acompanhada por Tim Bernardes no palco.

Mas a grande participação especial foi de Liniker. A dona de “Baby 95” é outra fã declarada do ícone do rock e foi recebida por Manu para cantar o clássico “Ovelha Negra”. Um feat de respeito, a gente diria!

No palco, com cabelo longo e mais solta que nunca, Gavassi é acompanhada por uma banda composta exclusivamente por mulheres, que roubam a cena e se destacam tanto quanto ou mais que a própria cantora.

Foto: Cleiby Trevisan/Paramount+

A versão em áudio do “Acústico MTV: Manu Gavassi Canta ‘Fruto Proibido’” chegou às plataformas digitais nesta sexta-feira (3). Ouça já:

Abaixo, leia a entrevista na íntegra:

PAPELPOP — Na apresentação, você diz que “O Fruto Proibido” foi o disco contemplado por ser o que mais te causa identificação. Este foi o quarto álbum dela. Foi o primeiro que você ouviu? Como foi seu 1° contato com a obra de Rita Lee?

Manu — Não foi o que ouvi primeiro. Eu acho que tive contato ao longo de toda a minha vida com a obra da Rita por conta dos meus pais, eles sempre escutavam. Lembro [de ouvir] o Acústico MTV da Rita com a minha mãe, me levando para escola no carro. Sempre foram músicas muito conhecidas para mim e para a minha família, só que tive uma outra relação que criei como fã mais velha, que foi quando realmente entendi tudo o que realmente envolvia essa mulher, sabe? Como ela é uma artista muito multifacetada antes de artistas multifacetados terem sido inventados. Então, comecei a entender: ‘meu, ela tinha um programa na MTV onde ela fazia personagens? Daí ela participou dos Mutantes e era a alma da parada, roubava vestidos de noiva na Rede Globo para cantar?’

Ela criava toda aquela mise-en-scène, aqueles figurinos, a interpretação e tudo. Ela sempre foi compositora desde muito nova, numa época em que não existiam compositoras, existiam compositores. Existiam intérpretes… mulheres que cantavam músicas escritas por homens, era o mais comum para a época, mas ela sempre contou a própria história. Então, comecei a entender toda a grandiosidade dela como artista e como ela era única, como ela era figura excêntrica no meio da nossa música brasileira. E daí me apaixonei perdidamente quando li a autobiografia da Rita e vi como ela contava a própria história com tanta inteligência e tanta ironia, aí fui ao chão de tanta paixão por Rita.

E eu venho cultivando isso, buscando inspiração em diversos trabalhos dela nos últimos anos. Tem duas músicas em que cito a Rita, por falta de uma, que é “Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim” e “Bossa Nossa”, que faz parte do meu álbum visual “Gracinha”, e o clipe dela é inspirado na capa de “Fruto Proibido”. Tem exatamente essa esfera de camarim, do jeito que ela está vestida, é completamente inspirado. Então foi exatamente por conta disso que escolhi o “Fruto Proibido”.

Não foi o primeiro álbum que ouvi da Rita, não foi o primeiro contato que tive com a obra dela, mas escutando mais velha e nessa fase da minha vida, eu entendo a importância dele, entendo como ela estava numa fase de emancipação de tudo que ela foi para tudo que ela foi a partir dali. Sozinha. Ela contando a própria história. Então, para mim, tem muito poder e ainda tem um fatorzinho que descobri no meio do caminho que é: ela tinha a minha idade [quando lançou o disco]. Ela tinha quase trinta e eu também tinha quase trinta, quando me encantei de novo por esse álbum e decidi fazer algo a respeito. E foi por isso que escolhi, pela identificação que tinha — que eu tenho — com esse álbum, nessa fase na minha vida.

PAPELPOP — Rita iniciou no mundo da música em 1970, tem mais de 20 álbuns de estúdio, 6 álbuns ao vivo, coletâneas e muito mais. Você, com 30 anos, com 4 álbuns na carreira, 4 EP, não sentiu um desafio enorme em cantar a obra de uma artista tão importante para o nosso país?

Manu — Na verdade, acho que isso passou pela minha cabeça uma ou outra vez, acho que fui tão movida pelo amor com esse projeto… Cara, eu sempre tive vontade de fazer uma homenagem do jeito certo, esperei anos para ver qual seria esse jeito certo, coloquei o nome dela em músicas, fui tendo pequenas interações com ela. A Rita assistiu ‘Gracinha’ antes de todo mundo, eu mandei para ela o link e, através de um amigo, ela teve uma resposta muito carinhosa comigo. Eu já tinha tido pequenas interações e essa oportunidade caiu como uma luva.

Quando me ofereceram o “Acústico MTV”, na hora, eu entendi que aquilo era uma oportunidade de mostrar algo, mas não tinha certeza se era a minha discografia, porque, para mim, ainda sou uma artista em construção. Ainda estou me descobrindo. E até com esse projeto, acho que cresci muito, me descobri mais corajosa, me desafiei a cantar músicas de outro artista num outro lugar de registro de voz, músicas de uma outra época, onde soltei minha voz como nunca. Cresci como artista fazendo essa homenagem, me sinto mais livre agora para ousar mais também. Não senti que era o meu momento no Acústico MTV.

Conversando com o Felipe Simas, que é o meu amigo antes e empresário também, consultor de arte, a gente chegou a conclusão de que seria uma excelente oportunidade fazer uma homenagem, de uma maneira muito digna e em um lugar muito legal, que é a MTV, num projeto muito incrível. De repente, até acabar apresentando esse álbum para uma geração mais nova. E quando eu digo “álbum”, eu quero dizer o álbum mesmo, porque tem muitos hits que transcendem o tempo, como “Ovelha Negra”, “Agora Só Falta Você”, mas apresentar como ele é poderoso na ordem que ele foi feito e pelas músicas, em que todas contam uma história e todas fala sobre essa jovem mulher com esses dilemas de liberdade e auto descoberta, com tudo em ebulição, então fez muito sentido.

PAPELPOP — Eu me lembro que na sua última turnê, algo que me chamou bastante atenção foi o áudio da Rita logo após a citação que você faz em “Bossa Nossa”. Na época, você me disse em uma entrevista que aquilo foi um presente dela. Desde então, com o acústico acontecendo, você teve outro contato com ela? Algum outro presente desse tipo?

Manu — Olha, esse áudio foi logo depois de “Deve Ser Horrível Dormir Sem Mim”, música em que eu cito a Rita. Eu mandei um áudio para ela e ela me respondeu, é um áudio de dois minutos que eu vou guardar para sempre no meu coração. Eu pedi permissão para colocar um pedacinho no show. Depois disso, eu ainda mandei “Gracinha” antes para ela e ela me respondeu de uma maneira muito carinhosa, e a gente teve algumas trocas. Eu cantei com o filho dela, com o Beto Lee, e foi muito engraçado. Nesse dia, eu estava com um grande amigo em comum nosso, ele ficava mandando [fotos e falava] “a Rita amou o look”; “a Rita falou para você usar o óculos”. Então, assim, à distância já tivemos pequenas interações muito fofas.

Acho que isso até me deu a segurança que eu precisava para fazer esse projeto e realmente realizá-lo. Nunca me sentiria confortável, se eu não tivesse a bênção dela, e eu nunca me sentiria confortável parecer, mesmo que um pouquinho, oportunismo. Ela é uma grande lenda da música. Então, hoje em dia, é muito fácil para qualquer artista jovem falar: ‘eu sou muito fã da Rita’. Mas é mesmo? Cadê? Prova! O que ela já fez da vida, além de cantar? Para de falar das músicas comerciais, quero as outras! Para mim, foi uma relação que, a partir do momento que eu entendi que ela estava ciente que eu respeitava muito ela, que eu tinha muito conhecimento da grandiosidade que era ela como uma artista multifacetada e com ajuda destas pequenas interações, eu entendi que fazia sentido. E que ela iria se sentir bem, talvez, de uma cantora muito mais jovem fazer uma homenagem a esse álbum específico quase cinquenta anos depois de ser lançado e de uma nova geração escutar isso e ser extremamente atual.

Me coloquei num lugar até de pensar: ‘nossa, se isso acontecer comigo, quando eu for mais velha, vai ser muito legal’. Isso é uma prova de que sua música realmente cumpriu o papel de transcender. É você perder o controle, ela vira outra coisa para outras pessoas. Perder o controle, no melhor sentido. E ela vai tomando formas e um tamanho na vida de pessoas que você nunca nem imaginou, que nem fizeram parte daquele momento. Então, acho que eu entendi que ela sabia que as minhas intenções eram puras.

PAPELPOP — E a gente sabe que se ela sentisse que não fosse genuíno…

MANU — ELA IA FALAR! (risos)

PAPELPOP — A gente sabe que você não é o tipo de artista que coloca o dedo, você coloca a mão toda, então eu queria saber como foi planejar esse show, você acabou adaptando o tom, modernizou os arranjos? Como foi a questão técnica?

Manu — Não quis adaptar os tons e nem modernizar os arranjos! (risos). Hoje em dia, o pop está muito mais rockeiro. Ainda bem. Estamos ouvindo instrumentos de novo, as guitarras voltaram e a gente tem Maneskin para provar. Então, ouvindo o álbum agora, ele é extremamente atual e não só pelas letras, sabe? Pela atitude e pelos arranjos também, foi até um pedido que fiz para o Lucas Silveira, que produziu o acústico, eu falei: “Eu quero que você mantenha. Eu quero manter. Não quero fazer releituras, eu quero manter a alma de cada música, quero fazer um acústico para cima e quero manter a vibe que é este álbum. Só estou fazendo este álbum porque amo de paixão e por conta da energia dele, então não quero transformar num acústico calminho, nada disso.”

Eu optei por não mexer na obra porque eu queria manter a alma deste álbum, mas fazer uma fusão dos universos, então, o que seria o ambiente desse “Acústico MTV”? Eu sou lúdica, não tem o que fazer, é o meu jeitinho lúdico de ser. Então, queria em um teatro intimista, eu queria ter essa atmosfera desses panos, dessa coisa meio camarim, meio circense, meio cigano, tudo isso. \

Até o figurino que eu uso, é o mesmo que eu uso em “Gracinha”, então eu só mandei tingir, então tem várias adaptações. Todo o figurino da banda e toda a atmosfera também tem muito dos anos 1970, que é a época do álbum, mas sem ficar caricato e sem ficar uma imitação. Tem do meu jeito, do meu estilo, fazendo uma homenagem digna a esse álbum e celebrando a obra da Rita.

Foto: Divulgação/Paramount+

PAPELPOP — Eu sei que temos o mega recente “Gracinha”, mas agora que já faz algum tempo que você se reconectou com a sua música e com os palcos, tem algum álbum ou EP no forninho?

Manu — Sobre futuros planos, eu não estou nem um pouco inquieta. Eu acho que essa homenagem e ter feito o meu “Acústico MTV” dessa maneira, tendo regravado o “Fruto Proibido”, me fez mais segura como artista. O lugar em que eu coloquei minha voz, a maneira que eu ousei mais, que eu me diverti, que eu me soltei mais e que eu não me levei muito a sério, que eu pude pular no palco — eu não faço muito isso, eu sou contida, eu canto grave, então são várias amarras que eu fui me soltando, coisas que me prenderam ao longo dos anos e que eu fiz muito para me proteger também. Então, esse álbum não era sobre isso, era sobre libertação, era sobre eu ser fã desse álbum. Isso me deu uma liberdade de pular, de gritar, de cantar mais alto, de soltar a minha voz, de incorporar essa personagem que eu não via mais em mim há muito tempo. Foi um passo importante para quem eu quero ser no futuro, mas esse ser ainda está em construção.

PAPELPOP — Agora para terminar, qual loucura de Rita Lee você faria ou acha mais surpreendente? Passar pela alfândega com um colar de LSD; sair com uma bota da Biba sem pagar; pegar um vestido da Globo escondido; cantar “Ovelha Negra” na prisão ou procurar discos voadores no céu?

Manu — Quando ela roubou o vestido de noiva da Rede Globo… Mas como não mencionar o fato dela cantar “Ovelha Negra” na prisão? Mas assim, o fato de você roubar um figurino da Rede Globo, sair ilesa e se tornar uma lenda, para mim, é uma benção. Eu pessoalmente amei. (risos)

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