Convidada de honra do “Roda Viva” nesta segunda-feira (13), a cantora Liniker foi questionada pela jornalista Livia Venaglia, do Splash UOL, a respeito da abordagem de temas relacionados à transexualidade ao longo de sua carreira.
Sem medo, ela afirmou o processo foi traumático, relatou histórias marcadas por posturas antiéticas e ainda disse que hoje, sobretudo, seu interesse está em falar sobre o próprio trabalho, para além do fetiche estrutural que o jornalismo brasileiro replica em relação aos corpos pretos e transexuais.
Assista ao corte em vídeo abaixo:
“A naturalidade está num lugar que a gente nunca pode viver publicamente. A gente é natural entre a gente, natural entre as nossas redes de afeto. Eu também quero poder falar do meu trabalho de uma forma em que eu fale sobre composição, mas também possa existir em lugares singelos, falar da minha música, da minha poesia. Onde eu possa escutar você falando de uma canção que não seja a gente sofrer transfobia. Acho que esse é um lugar que humaniza a gente, tenho muito tocado nessa pauta, tanto em entrevistas que tenho dado, mas também na minha pessoalidade. Eu não sou s[o uma pessoa trans, não sou só uma pessoa preta. Tenho sonhos, tenho desejos, quero produzir coisas, posso falar sobre vários assuntos, falar sobre coisas que nem existem. Pra gente existir precisamos sempre estar pautadas nisso, o começo da minha carreira foi muito traumático”.
No palco do mais tradicional programa de entrevistas da TV brasileira também estava a apresentadora Adriana Couto, da TV Cultura. Ela emocionou Liniker, agora vencedora do Grammy Latino 2022, ao perguntar de que forma a poesia vinha acompanhado suas evoluções e descobertas como mulher.
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“A primeira vez que dei uma entrevista foi pra você e poder voltar nesse processo depois de tanta coisa, poder falar da minha poesia em construção e em movimento é muito poderoso. Me sinto muito acolhida. A poesia e a palavra tem sido minhas maiores aliadas, desde que comecei a escrever e a querer falar sobre sentir, uma coisa tão honesta que até isso é tirada da gente. No ‘Remonta’ eu tinha acabado de chegar e tava sonhando muito. A música que me alimentou e me fez sonhar, resistir. É muito poderoso saber que mesmo quando a gente não tem o que comer e sem romantizar isso a esperança de algo coloca a gente num lugar em que de repente posso olhar pra minha história e saber que isso passou, que movimenta sonhos entre as pessoas, movimenta uma indústria, fura uma bolha. Acho que desde o ‘Remonta’ eu venho procurando a Liniker, chega em ‘Indigo’ escrevo ‘Lili’ ainda procurando essa menina. Acho que essa procura de mim mesma talvez seja minha função nessa terra, compor através das músicas procurando o amor, um lugar confortável, procurando as minhas e sabendo que não estou só. A poesia é a maior conquista que o universo pode me dar”.
A íntegra do programa pode ser conferida no canal oficial da TV Cultura no YouTube.
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