Morreu nesta terça-feira (22) aos 81 anos o cantor e compositor Erasmo Carlos, um precursor do pop rock brasileiro e principal nome do movimento da Jovem Guarda. A informação foi confirmada pela Globo News. A causa da morte não foi revelada.
Carlos vinha enfrentando problemas de saúde desde o último dia 17 de outubro, quando foi internado no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro. À ocasião, o cantor teve um quadro de síndrome edemigênica.
A enfermidade que provoca o excesso de líquido nos tecidos do corpo e pode provocar mal funcionamento de órgãos vitais como os rins, o fígado e o coração. Ele chegou a receber alta, mas passou por uma nova internação nesta terça-feira (22), chegando a ser intubado, segundo o G1.
Na semana passada, durante o Grammy Latino 2022, o veterano venceu um gramafone. O cantor conquistou mais um prêmio na categoria de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa com “O Futuro Pertence À… Jovem Guarda”.
O artista concorria na categoria com Baco Exu Do Blues (“Qvvjfa?”), Criolo (“Sobre Viver”), Lagum (“Memórias (De Onde Eu Nunca Fui”) e Juçara Marçal (“Delta Estácio Blues”).
Considerado um pioneiro, o “Tremendão”, como ficou conhecido pelos amigos e fãs, nasceu no Rio de Janeiro, em 1941. No fim da década de 1950, ele recebeu um convite para fazer parte do grupo Boys of Rock, que logo ganharia outro nome, The Snakes. Este era um momento em que, em toda a América Latina, pipocavam grupos do gênero que se dedicavam, sobretudo, a copiar estéticas estrangeiras.
Depois de receber aulas de violão do lendário Tim Maia (1942-1998), foi justamente o que o cantor fez. Ele mergulhou na tradução e adaptação de faixas clássicas do rock norte-americano e europeu gerando hits instantâneos como “Splish Splash” (1963), “Nasci Para Chorar” (1964) e “Dia de Escola” (1965).
A primeira gravação solo da carreira, o compacto “Terror dos Namorados”, aconteceria neste meio tempo e, em 1966, foi a vez de o cantor estrear na TV Record o programa “Jovem Guarda”. A atração dominical, que viria a ser considerada um marco na cultura pop do século 20, seria encabeçada por outros dois nomes, Wanderléa e Roberto Carlos.
A amizade entre o trio prevaleceu décadas adentro fortalecendo a criação de um movimento instantâneo, encabeçado por uma juventude menos contestadora e interessada por temáticas amorosas, quase adolescentes.
Mesclando música, moda e comportamento, a Jovem Guarda foi acusada diversas vezes de se manter isento diante dos horrores da Ditadura Militar, que sacudiram o Brasil durante os anos das décadas de 1960 e 1970 – contrapondo-se às canções de protesto que os grandes festivais de MPB traziam com frequência.
Carlos, no entanto, manteve-se firme e expandiu o repertório. Já com fama de galã (daí o apelido, Tremendão), nos anos 1970 ele gravou canções de Caetano Veloso. Belchior e Gilberto Gil, além de romper com o estilo que o consagrou ao gravar o LP “Carlos, Erasmo” – ainda que sua parceria com o Rei continuasse.
Na virada dos anos 1980, o artista deu uma nova guinada na carreira ao gravar “Quero Voltar”. A canção, tema do filme “Os Sete Gatinhos”, se inspira nos exilados da ditadura que retornaram ao Brasil após a aprovação da Lei da Anistia. Foram muitos os duetos nesta década, entre eles os que fez com Gal Costa, Rita Lee e Maria Bethânia, para além do grupo A Cor do Som. A proposta originaria uma coletânea chamada “Convida” que seria precursora do formato.
Entre os discos lançados estiveram grandes sucessos como “Mulher” (1981), “Amar pra Viver ou Morrer de Amor” (1982), “Apesar do Tempo Claro” (1988).
Os anos passaram e a relevância de Carlos, principalmente como compositor, se manteve. Ainda que tenha deixado de gravar materiais inéditos por quase duas décadas, ele seguiu celebrando seu legado e obra.
O rock seria retomado com mais força em momentos pontuais, entre eles os discos “Rock N Roll” (2007) e “O Futuro Pertence À… Jovem Guarda” (2022), este último responsável por resgatar, entre regravações de sucessos, uma sonoridade terna, digna de um amante apaixonado.
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