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“O Nordeste é f*da”: Duda Beat exalta origens em show no Rock In Rio com estética punk

Com um visual mais noir do que nunca, Duda Beat se apresentou nesta quinta-feira (8) no Palco Sunset do Rock in Rio. Esta foi mais uma conquista da artista, que hoje é uma das principais vozes do pop nacional e coleciona passagens por grandes festivais do circuito.

Em 2019, por exemplo, ela abriu os trabalhos do Lollapalooza com um show bem mais humilde.

De lá pra cá, além do amadurecimento das letras, que deixaram de lado os devaneios e dores do amor romântico para dar espaço a tomadas de consciência e um discurso de autoafirmação, a pernambucana também incorporou uma estética visual que lhe permitiu ousar nos figurinos e comandar um ballet.

É nítido o interesse de Duda em permanecer sendo vista dentro e fora da bolha pop que a absorveu de vez há cerca de dois anos. Por isso mesmo, as primeiras faixas escolhidas para o festival foram “Tu e Eu”, “Chega” e “Parece Pouco/Pro Mundo Ouvir”. Esta última dobradinha foi a responsável por fazer a audiência despertar, engrenando o ritmo de um show que mesclou referências próprias, sem deixar de se adaptar a um espaço historicamente roqueiro.

A base eletrônica, que aliás lhe dá um sobrenome artístico, saiu de cena para dar espaço a uma sonoridade muito mais rock do que o habitual – algo que o músico e produtor Tomas Troia, responsável por seus dois últimos LPs, exerceu com maestria.

Ao oferecer um panorama interessante de sua produção por meio de singles como “Meu Piseiro”, “Nem Um Pouquinho” e “50 Meninas”, que passeiam por entre gêneros como piseiro, pagodão baiano e reggae, Duda trilhou um caminho diferente do escolhido por outras estrelas de sua geração como Luísa Sonza. Mais musical e focada na performance da voz, ela se mostrou em sintonia com as bailarinas que a acompanhava, ainda que em coreografias discretas, que não exigiram tanto esforço.

Emocionada, a cantora gritou entre as pausas que “o Nordeste é foda” e exaltou a cultura brasileira existente fora do eixo Rio-São Paulo, frequentes vezes relegada ao esquecimento e aos estereótipos.

“Sou uma cantora nordestina, independente e isso aqui é foda demais”, gritou, emocionada. “O recado que eu quero dar hoje é pra vocês sempre se amarem e se colocarem em primeiro lugar. Nunca deixem ninguém ser protagonistas da sua vida, ninguém merece isso”, prosseguiu, lembrando o caráter igualmente didático de sua obra.

Como tem se visto, os hits do streaming nem sempre funcionam muito bem ao vivo. Foi o caso de “Tangerina”, sua colaboração com Tiago Iorc que é recordista em reproduções e foi apresentada na companhia de Felipe Veloso. Esfumaçando o fluxo enérgico do show, a interpretação destoou de certa forma em relação ao todo.

Das novas canções, a maioria extraída do álbum “Te Amo Lá Fora”, “Meu Piseiro” foi a que mais empolgou a plateia, seguida por “Chapadinha”, versão que fez para “High By The Beach”, de Lana Del Rey – nunca lançada oficialmente por questões judiciais. O house “Tocar Você” foi o escolhido para o encerramento, selando a proposta de uma atmosfera festiva.

“Vou Recomeçar”, gravada por Gal Costa no icônico disco de 1969, foi uma agradável surpresa do show, que até a reta final seguiu conservando um dos trunfos de Duda: a construção de um repertório íntimo, autoral e popular.

“Viva Gal Costa, viva todas as cantoras, compositoras e intérpretes brasileiras!”, saudou, antes de revelar o motivo pelo qual escolheu a faixa. “Essa música fala sobre recomeço e a gente tem uma ótima chance daqui a menos de um mês”, disse, referindo-se às eleições. Ela também tratou como “inadmissíveis” os números da fome no País.

No telão, foi projetada a cor vermelha em referência ao Partido dos Trabalhadores. Meses antes, Duda topou gravar um verso no jingle oficial da campanha do ex-presidente Lula, atual candidato.

O amor, em todos os sentidos, é o que move o trabalho da maior diva pop pernambucana. Se no passado ela se consagrou com uma espécie de embaixadora da “sofrência pop”, agora, com mais repertório e confortável com os rumos da estrada, Duda sabe não apenas para onde direcionar os próprios sentimentos, mas também se colocar diante da indústria.

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