Number Teddie deu as boas vindas ao seu primeiro álbum de estúdio, “Poderia Ser Pior”, nesta quarta-feira (31). O lead-single do projeto é “Bom Ator”, uma parceria musical com Cleo.
Na faixa, que ganhou um videoclipe mega divertido, os artistas se encontram e refletem sobre os traumas que rondam suas vivências na Terra.
Em uma entrevista ao Papelpop, a dupla contou algumas história por trás da gravação da faixa, e também do videoclipe. Cleo, que até então não conhecia o jovem, se identificou com seu trabalho logo de cara:
“É o meu filho perdido. Eu preciso dele na minha vida.”
Entre fofocas e risadas, os artistas refletem sobre as experiências comentadas na faixa e afirmam que a maturidade é o caminho para entender e conviver com todos os desafios.
“Em muitos traumas eu só fui me tocar um tempo depois. Muita coisa que acontece eu só vou processar depois, porque na correria e no calor do momento a gente não sente, sabe?” — Number
Com claras referências aos anos 2000 na sonoridade e nos visuais, Cleo e Teddie ainda brincaram — e discordaram sobre uma opção — do que pode ou não voltar daquela época (spoiler: as polêmicas pochetes e Crocs estão na lista). Leia íntegra a seguir!
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Papelpop – Para começar, sei que a parceria foi um convite de number, mas vocês já se conheciam antes?
Cleo: Não, eu conheci ele porque o meu empresário, que é amigo do Gorky — empresário dele [Number Teddie], ouviu “Bom Ator”, e falou: ‘você precisa ouvir esse menino, porque ele é a sua cara e você vai ficar louca’. E aí, ouvi e fiquei louca. Falei: ‘é o meu filho perdido, eu preciso conhecer esse menino, cadê ele? Eu preciso dele na minha vida, a gente vai se dar muito bem!’
E dito e feito, a gente se conheceu e se deu muito bem. Ele me convidou para fazer parte do feat e foi uma delícia, foi gostoso, divertido.
Number Teddie: Foi muito doido porque o meu produtor, o Gorky, estava mostrando o trabalho para o Timbó, que é empresário dela e fez a minha preparação vocal do álbum, e, na hora, falou: ‘essa música é a cara da Cleo, ela vai amar essa música’. E eu pensei: ‘imagina que ela vai querer participar, ela tem mais o que fazer’. Mas a Cleo topou. A gente foi no estúdio gravar e ficamos sentados conversando sobre a vida por uma hora até ela gravar a parte dela da música. E todo mundo falava: ‘vai gravar, Cleo’ e a gente conversando horrores.
Cleo: E o tempo de estúdio rolando! (risos)
Papelpop – E como foi gravar a faixa? Como rolou esse encontro no estúdio?
Cleo: Acho que a fofoca foi a melhor parte. A mais engraçada, eu diria.
Number Teddie: Ah, eu tava num dia muito merda quando a gente foi gravar. Eu tinha tido um dia muito ruim.
Cleo: Eu lembro que você falava muito disso, desse seu jeito que eu amo, que é falar coisas muito negativas de uma forma muito sarcástica e fazer todo mundo se identificar. Ele tem esse poder! (Risos)
Number Teddie: Eu lembro que a Cleo fez o meu dia, de verdade. Eu tinha acordado já muito mal…
Cleo: Você tinha pintado o cabelo, lembra?
Number Teddie: Eu tinha pintado meu cabelo de verde porque eu tinha tido um surto psicótico (risos). Ela disse que eu tava fofo e eu falei ‘cara, eu pintei meu cabelo porque eu tive um surto’. Que ódio. E aí a gente começou a fofocar e foi muito legal porque, por exemplo, na gravação da música, a parte que a Cleo fala, eu literalmente pedi para ela ligar o microfone e começar a falar um monte de merda. Ela falava e a gente ria, então dá pra ouvir ela rindo muito no fundo e falando um monte de coisa.
Cleo: Essa parte foi incrível mesmo!
Papelpop – Em “Bom ator” podemos conhecer mais de Number Teddie e ouvir sobre um lado de Cleo que muitas vezes não é o que o público espera. Todos esses “traumas” sempre foram vividos de maneira consciente ou teve um momento de virada que fizeram vocês perceberem tudo?
Number Teddie: No meu caso, muitos traumas eu só fui me tocar um tempo depois. Muita coisa que acontece só vou processar depois porque na correria e no calor do momento a gente não sente, sabe? Mas, assim, “Bom Ator” é muito sobre um estado que sempre senti, desde novo, lembro que criança eu pensava ‘cara, a existe todos os dias, não para de existir nenhum dia. A gente vive muitos dias’. Já pensava isso com uns quatro ou cinco anos de idade.
Cleo: Cara, com uns quatro anos também lembro da cena, eu passando de uma casa para outra — que a gente morava todo mundo no mesmo terreno e, do nada, me vi fora, como se fosse um personagem, olhando aquilo e falando ‘cara, isso é existir, que coisa mais estranha, como é que faço isso?’ Então esse sentimento sempre me acompanhou também, essa estranheza com existir.
Agora, em relação aos traumas, é normal você elaborar depois. Você só vai viver, passar por eles e depois entender. Para mim, muita coisa foi assim.
Papelpop – Vocês acreditam que exista uma “fórmula” para aceitar a nossa própria realidade?
Number Teddie: Acho que crescer, sabe? Acho que agora estou em um processo de ser adulto e descobrindo o que é a vida de verdade. Tipo, estou morando sozinho em uma cidade que não conheço quase ninguém, estou vendo que crescer faz a gente aprender como lidar com as coisas. Não que elas fiquem mais fáceis (risos).
Cleo: Eu concordo. Acho que para cada pessoa tem um jeito, mas acho que é importante a gente acreditar na vida, sabe? Por mais que esteja muito difícil, vale a pena. Hoje em dia, por exemplo, eu amo existir. É uma coisa recente (risos), mas, cara, como vale a pena! É legal gostar de existir.
Às vezes é um trabalho, talvez não seja algo simples para você, então às vezes pode ser [facilitado com] uma terapia, com a ajuda de amigos, através da arte, pode ser através de você se expressar.
No meu caso, descobri que tinha um distúrbio que chama TDAH, então tratar disso foi uma coisa que ajudou muito, mas acho que para cada pessoa é de um jeito.
Papelpop – Não só neste single, mas também em outras faixas do álbum, há menções controversas sobre religiosidade. Como uma pessoa LGBTQIAP+, como isso foi vivenciado por você?
Number Teddie: Acho que a grande maioria da comunidade tem muito trauma com religião. Como uma pessoa LGBT que performa muita gayzisse, sinto que a religião sempre foi muito estranha para mim. O conservadorismo sempre foi uma coisa com a qual sofri muito. Sou de uma cidade em que eu tinha cabelo rosa e as pessoas jogavam coisas em mim na rua, sabe? Enquanto aqui em São Paulo todo mundo tá ‘foda-se’.
Acho que, para mim, a relação com a religião sempre foi muito estranha ao ponto de constatar: ‘cara, acho que Deus não gostaria de mim, já que ele fala que eu sou tudo o que é considerado errado’. E não só o fato de ser LGBT, mas também de ser uma pessoa completamente supérflua, às vezes, uma pessoa que tem pensamentos muito desviados.
Mas, agora que estou ficando adulto e as coisas estão mudando, acho que estou tendo uma relação com a espiritualidade um pouco mais amistosa. Eu consigo ver que, enfim, a sociedade é uma coisa muito estranha.
Papelpop – O videoclipe é incrível e, além de mega teatral, também está bastante divertido. Tem alguma história dos bastidores? Algo engraçado que rolou?
Cleo: Cara, a gente se divertiu muito. Na hora que estou com o microfone, por exemplo, eu meio que queria fazer alguma coisa parecida com o que ele tinha feito, porque cheguei depois e não vi. Essa conversa foi divertida e, depois, quando a gente vai até os diretores para bagunçar tudo, a gente se divertiu e ria muito. Dava ‘corta’ e a gente ria horrores. Foi tudo muito gostoso, muito fácil, tinha uma equipe muito legal do Number fazendo o clipe. Foi tudo muito leve, na verdade.
Number Teddie: Teve uma hora que a Cleo me olhou e falou ‘cara, eu estou me divertindo muito’, e isso me deu um calor no coração. E tipo, ela chegou, a gente ficou conversando e fofocando muito até que, literalmente, um dos produtores falou ‘cara, a gente tem que gravar’. A gente ria e gritava, foi um dos clipes mais legais que eu já gravei.
Cleo: Eu acho que, por mais que a gente não se conheça há muito tempo, a gente tem um tom de intimidade tipo ‘tá, eu sei quem você é e você sabe quem eu sou’, intimamente, por mais que não exista esse tempo de relação. Então fica tudo muito fácil de acontecer e de rolar.
Papelpop – “Poderia ser pior” chega após vários singles e um EP, o que esse lançamento significa para você?
Number Teddie: Nossa! O EP eu fiz sozinho no meu quarto, em Manaus, em 2020. Trabalhava dando aula de inglês e foi por ele que meus produtores me acharam. O álbum foi um processo muito doido, porque escrevi 60 músicas. Todo mundo acha que estou exagerando, mas mandava toda semana dez músicas para o Gorky. A gente selecionava e depois o Zebu entrou e a gente foi selecionando mais, então foi um processo bom.
Eu pensava ‘meu, é o meu álbum e eu to tendo oportunidade de trabalhar com ídolos meus, que são o Gorky e o Zebu, amo eles. Os meninos foram incríveis nesse processo e me entenderam de uma forma, tipo ‘a gente vai fazer o álbum dessa pessoa que ninguém conhece, a gente não tá ganhando nada com isso, mas a gente quer fazer um álbum bonito porque a gente acredita’. Acho isso muito mágico. Fazer esse álbum foi incrível, é o meu bebê.
Papelpop – O álbum traz algumas essências do início dos anos 2000. Quais foram as fontes que vocês beberam, tanto para a sonoridade quanto para os visuais?
Number Teddie: No meu caso, lembro que fiz um álbum de referências, mas minhas músicas eram voz e piano, antigamente. Era uma coisa tipo ‘meu pai me traumatizou e minha mãe tem depressão’. E lembro que o Gorky me disse para fazer uma playlist com o que queria e era tudo muito rock, coisas que queria fazer, mas não sabia como. Então ele virou e falou ‘você quer fazer um álbum de rock?’.
A gente testou e ele me disse que daria para transformar as demos em músicas de rock e não tirar essa essência de baladinhas tristes. E é o que sempre quis fazer. Escuto metal o tempo todo. A gente fez e foi muito divertido gravar os instrumentos e tal.
Cleo: Para mim, já tinha tudo pronto em “Bom Ator”, então a única parte que criei foram as coisas que falei, que estão na música. A minha referência foi eu mesma (risos).
Papelpop – Essa moda, além da sonoridade, voltou com tudo, mas quero saber: o que não pode voltar de jeito nenhum?
Cleo: Ai, acho que a ditadura da magreza
Number Teddie: É, também acho. Os anos 2000 teve essa romantização da magreza muito doida. Inadmissível isso estar voltando. Mas, também acho que a pochete não pode voltar.
Cleo: Ai, eu amo pochete! Eu gosto de Crocs também. Não em mim, mas aprecio nos outros.
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Ouça abaixo “Poderia Ser Pior”, primeiro álbum de estúdio de Number Teddie:
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