Nesta terça-feira (30), estreou na HBO Max a série documental “Funk.Doc: Popular & Proibido“. Com direção de Luiz Bolognesi, o produto reúne depoimentos de ícones do movimento, como Mr. Catra (1996-2018), Ludmilla, Valesca, MC Carol, Rebecca, DJ Renan da Penha, Deize Tigrona, MC Guimê, Buchecha, MC Bin Laden e outros.
Em bate-papo com o Papelpop, o diretor compartilhou um pouco de sua visão como cineasta. Luiz, que já tem outros produtos que dão voz para populações estigmatizadas, como o filme “A Última Floresta” (2021), que retrata o povo indígena Yanomami, é categórico ao afirmar:
“Como tenho formação de antropólogo, tenho muita vontade de retratar o Brasil. É sobre falar do que nós somos e não ficar preso a uma narrativa elitista. Isso não me interessa. Me interessa falar das ruas e do que é potente. Abrir minhas câmeras para escutar todas essas vozes que, geralmente, estão nas ruas e, não, nos lugares de poder.”
O profissional revelou, ainda, detalhes de como foi a conversa com o lendário Mr. Catra, que faleceu em 2018, uma vez que a série documental apresenta uma entrevista inédita do funkeiro em seu conjunto de imagens.
“Foi a última entrevista dele, porque duas semanas depois ele foi internado e, logo depois, faleceu. Estava flor da pele. Ele estava emocionado, pois já enfrentava um câncer.”
Leia íntegra do bate-papo a seguir!
Papelpop – Você é um profissional que trabalha com cinema desde “O Bicho de Sete Cabeças”, de 2001. Mesmo tendo tido muitas estreias já, como está sua expectativa para a recepção do público com este produto?
Luiz Bolognesi – Cada novo projeto é uma nova história. Apesar de eu já ter lançado vários filmes e séries, todos os lançamentos trazem muita expectativa. Óbvio que eu estou com muita expectativa. Um pouco de ansiedade, mas estou muito otimista porque já fiz algumas seções de teste com o público e a reação foi muito positiva. Estou aguardando, esperando como vai ser a reação, mas já notei uma reação da imprensa muito positiva, muito acolhedora com a série.
Papelpop – Por se tratar de uma série documental sobre um gênero musical popular, acredita que ele atrairá públicos novos, que ainda não conhecem seu trabalho?
Luiz Bolognesi – O público do audiovisual está sempre se renovando, que ainda não conhece seus trabalhos anteriores. Acho que o “Funk.Doc” vai me colocar em contato com novos públicos, tanto do ponto de vista geracional, que gente muito jovem vai assistir por consumir esse ritmo; e, também, do ponto de vista de falar com a quebrada, que é algo que me interessa, sempre tive esse interesse. Outras produções minhas já se conectaram com esse público, e espero que a série também. Que fale com o público jovem, que chegue na periferia, nas comunidades, nas quebradas. Tenho essa expectativa e desejo.
Papelpop – Pelo o que eu estava pesquisando, você mora em São Paulo, né? Como foi o processo de pesquisa, entrevistas e gravações no Rio de Janeiro? Morou muito tempo lá?
Luiz Bolognesi – Moro em São Paulo e na Bahia, me movimento bastante. Filmamos em São Paulo, no Rio de Janeiro (sobretudo) e em Santos. Para fazer a pesquisa no Rio, tive a colaboração de pesquisadores de lá, como o Henrique Cresmo. Passamos algumas semanas filmando lá, indo nas comunidades, filmando dançarinos e dançarinas, DJs, MCs, produtores de baile funks. Subimos vários morros para visitar esses bailes. Foi muito intenso. Quase sempre com câmera ligada, com equipe. Passei três semanas indo nessas comunidades. Foi muito rico, interessante, aprendi muito.
Papelpop – O produtor traz entrevistas de figuras emblemáticas do funk brasileiro, como Valeska Popozuda e Mr Catra. Como é que foi falar com eles e conseguir extrair conteúdos inéditos, fora do chavão que o assunto é por vezes tratado?
Luiz Bolognesi – Falei com várias pessoas que são ícones para a história do funk: Valeska, Bochecha, Cidinho, Deize Tigrona, Mr. Catra, DJ Malboro. Pessoas interessantes e instigantes, que são história viva do funk. Então, basicamente, consegui tirar isso do lugar comum e do clichê é fazer perguntas mais óbvias: como tudo começou, de que maneira tudo começou, por que que você foi atraído para isso. Todas essas perguntas amplas davam respostas grandes, longas e extremamente ricas e originais. Isso que é o barato. Quando você faz entrevistas com pessoas que são história viva de um movimento cultural, tudo tende a ser muito interessante. Eles contaram como toda a narrativa do funk foi construída, desde os primórdios onde no qual era associado ao crime pela polícia e pela mídia, por ser um movimento periférico, preto e que teve muito preconceito.
Quando você faz uma entrevista com tempo e respeito pelo entrevistado, tudo muda. Isso é o bom do cinema e do documentário. Eu tinha tempo para as conversas. Quando você tem tempo para a escuta e o entrevista vê para ele, ele se solto. A partir daí, ele conta coisas que ele não conta em papos rápidos em coletivas. Então, esse é o meu método: escutar com atenção e carinho. O difícil, para mim, é terminar uma entrevista, porque eu me emociono, minha equipe também, o entrevistado também. As pessoas se abrem e contam detalhes pessoais. Entram questões muito complexas. Foi um prazer ouvir essas pessoas e a série mostra isso: a potência dessas pessoas.
Papelpop – Aliás, o que o público pode esperar desta entrevista póstuma de Catra, falecido em 2018? Falando disso, se a série tem entrevista dele, ela está sendo gestada desde, no mínimo, 2018. Por que esse tempo todo para estreia? Foi por conta de algo em específico?
Luiz Bolognesi – Com o Mr. Catra, foi uma conversa muito rica. Foi a última entrevista dele, porque duas semanas depois ele foi internado e, logo depois, faleceu. Estava à flor da pele. Ele estava emocionado, pois já enfrentava um câncer. Como a gente tinha tempo para escutá-lo, bateu bem entre eu e ele, apesar de eu ter feito perguntas difíceis, que ele chegava a me olhar torto. Mas ele me respondeu tudo com humor, com qualidade e disposição.
A série documental demorou um pouco por conta da pandemia. Estávamos fazendo a pós-produção neste período. Mas, sobretudo, porque temos um material pesquisa em imagem bem extenso: imagens de festas, clipes da época. Até todo esse material ser licenciado e liberado, do ponto de vista jurídico, devidamente pagos, demorou um pouco mais. Então, eu tive que escolher: fazer um produto mais rápido, sem essas imagens de arquivo, ou levamos mais tempo, fazendo algo mais completo, mais visual. Por isso, ele teve um grande tempo de gestação.
Papelpop – Seu último filme que estreou foi “A Última Floresta”, que retrata o povo indígena Yanomami. Agora, você vem com a estreia com o documentário sobre o funk carioca e a musicalidade das favelas do Rio de Janeiro. Você acha que, agora, entrou em uma fase de sua carreira que está voltando seu olhar e talento como diretor e roteirista para dar apresentar histórias de povos estigmatizados pela sociedade?
Luiz Bolognesi – Não vejo o povo preto favelado como minoria. Enxergo que a grande elite financeira, que é minoria, é extremamente preconceituosa e estigmatiza indígenas e pessoas negras, porque são classistas e racistas. O preconceito vem dali. Mas o funk está virando esse jogo. A própria elite ouve, escuta e dança funk. Ele produziu essa revolução por dentro. Tomou conta, se infiltrou. A própria música sertaneja, que era muito ligada a esta elite financeira e agrária, incorporou os beats do funk. As próprias falas feministas do funk invadiram as letras do sertanejo. Eu, como tenho formação de antropólogo, tenho muita vontade de retratar o Brasil. Brasil é indígena, é preto. É sobre falar do que nós somos e não ficar preso a uma narrativa elitista. Isso não me interessa. Me interessa falar das ruas e do que é potente. Abrir minhas câmeras para escutar todas essas vozes que, geralmente, estão nas ruas e, não, nos lugares de poder.
Papelpop – Nessa toada, o que você tem em mente para um projeto que vem por aí?
Luiz Bolognesi – Tenho projeto embrionários ainda. Tenho um novo para abordar o povo Yanomami, com um outro olhar. Tenho um outro projeto para falar sobre a história da sexualidade do nosso país. Quero também fazer uma segunda temporada de “Funk.Doc”. E também um outro para falar sobre Amazônia, economia e meio ambiente. São quatro projetos na área dos documentários e outros na ficção.
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A série documental “Funk.Doc: Popular & Proibido” tem episódios inéditos semanalmente, sempre às terças-feiras, na HBO Max.
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