Aqui é a Gretchen, mulher! A cantora!
Gretchen deixou os memes de lado para falar de um assunto sério em seu mais novo single, “Fênix do Amor”. Na canção que chegou às plataformas digitais com um videoclipe incrível nesta sexta-feira (15), a rainha do rebolado canta sobre a resiliência e a força das minorias para enfrentar preconceitos e demais obstáculos sociais.
Em entrevista ao Papelpop, a cantora falou sobre a conexão especial com o filho Gabriel Miranda, compositor do novo trabalho, e comentou sobre a posição de querer gastar todo seu patrimônio, antes de morrer, sem deixar heranças para os filhos.
Em bate-papo sobre a nova geração de ‘rainhas do rebolado’, Gretchen se diz feliz em ter aberto o trajeto: “Eu acho que, quanto mais a gente abrir o caminho para a liberdade da mulher, mais a mulher vai se colocar no lugar que ela merece estar”.
Leia íntegra da entrevista abaixo:
Papelpop – “Fênix do Amor” fala sobre aceitação, respeito e também resiliência, lembrando que todos podem renascer como uma fênix. Porque, agora, é o momento para cantar sobre isso?
Gretchen – Porque é exatamente neste momento que nós estamos sofrendo as maiores pressões psicológicas. Os LGBTs, os negros, as mulheres — em vista do que aconteceu nesta semana [o anestesista que estuprou uma mulher durante o parto]. Então, acho que essa música retrata exatamente o momento que a gente está vivendo, que é um momento muito difícil para todos nós. A gente é obrigado a renascer das cinzas todos os dias: na hora que a gente acorda, porque a gente não sabe o que vai acontecer. A gente não sabe se vai voltar pra casa. A violência está tão grande em todos os sentidos que eu acho que essa música representa bem o momento.
Papelpop – A letra é de seu filho, Gabriel Miranda. Foi ele quem te apresentou a música? Como ela foi trabalhada?
Gretchen – Então, o Gab é o meu quarto filho de barriga. Ele era gêmeo, e eu perdi o gêmeo dele com dois dias de nascido. E ele passou por muitas coisas na vida dele junto comigo. Acho que, quando ele compôs essa música, ele contou bem a nossa história, sabe? A história do que é a mãe dele pra ele, do que é a mulher nesse momento, de tudo que ele viu a mulher que ele tem mais contato passar. Acho que ele foi muito feliz na letra, tanto reproduzindo esse momento, como reproduzindo o que eu sou pra ele.
Papelpop – Por falar em renascer, é preciso ser uma fênix para estar sempre no topo, de onde você nunca saiu. É difícil ter que apresentar uma nova versão de si mesma sempre?
Gretchen – É, realmente é. E eu acredito que, principalmente, os LGBTQIAP+ podem falar o que é todo dia ter que acordar preparado para ter que encarar coisas que nunca se espera acontecer. Uma mulher, ela tem que acordar preparada para ir ganhar um filho e acontecer um estupro pelo próprio anestesista. Um negro tem que acordar preparado para sofrer racismo da hora que ele pisa num transporte público, até o momento que ela volta para casa. Isso não existe, é uma coisa pré-histórica.
Papelpop – Muitas artistas no Brasil seguem um passo que você percorreu como a eterna rainha do rebolado e também sofrem múltiplas críticas, como você também sempre sofreu. Ao longo do tempo, os haters mudaram? Que conselho você daria para as cantoras que estão hoje no topo com seu rebolado e sofrem com ataques?
Gretchen – Elas estão tão preparadas, que sou eu quem tenho aprendido muito com elas. Eu adoro as respostas da Anitta, adoro as respostas da Ludmilla… eu acho que a Iza não precisa nem abrir a boca para responder. A própria presença dela já é uma resposta. Mas quanto a eu ter aberto um caminho para elas, que bom! Eu acho que, quanto mais a gente abrir o caminho para a liberdade da mulher, mais a mulher vai se colocar no lugar que ela merece estar.
Papelpop – Recentemente, você declarou que não deixaria sua herança para nenhum filho e que gastaria tudo. Depois de toda a repercussão, seu pensamento mudou?
Gretchen – NADA! Não vou deixar nada (risos)! Eles têm que aprender a trabalhar, como eu trabalhei a vida inteira, para aprender o valor do dinheiro. Esse negócio de herança é coisa antiga. Acho que antigamente as pessoas ficavam ricas porque os pais deixavam herança. Eu ensino meus filhos a pescar, não dou o peixe fácil, não!
É claro que isso é uma metáfora, uma brincadeira. É claro que eu não vou gastar as coisas que eu estou guardando para a minha aposentadoria, mas eles tem que entender que se eles querem um futuro, eles têm que trabalhar pra isso. Eu ensinei isso para todos ele desde pequeno e eu tenho visto cada um caminhando, preparando seu futuro como eu preparei o meu. Então, é muito válido o que eu falei para eles.
Mas é lógico que é uma brincadeira meio de verdade. Eles sabem como eu sou, eles sabem que se precisarem da minha ajuda, eles me têm, mas quero que eles caminham com os próprios pés.
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