Entrevista – Clarissa e Diogo Piçarra conectam Brasil e Portugal em “amor desalinhado”

Entre Brasil e Portugal, há uma conexão histórica que perdura até hoje, centenas de anos depois da colonização, de diferentes formas. Uma delas é a música, que une não só pelas vozes e instrumentos, mas, também, por conta das realidades e dos sentimentos.

Clarissa e Diogo Piçarra são os mais recentes exemplos dessa ligação entre os dois países. A brasileira conheceu o trabalho do português por meio de colaborações com colegas conterrâneos, como Vitor Kley, Jão e Anavitória; ele, a ouviu pela primeira vez no TikTok, onde “nada contra (ciúme)” bombou, em 2021.

Não demorou muito para eles decidirem cantar juntos. “Pensei que estava muito cedo para tentar uma parceria internacional com uma pessoa que já tem uma carreira consolidada. Mas a gente tentou de qualquer forma e Diogo achou legal [a ideia]. Foi tudo muito rápido”, contou Clarissa, sentada ao lado de Diogo, no Rio de Janeiro, durante a entrevista ao Papelpop.

Os dois logo engataram uma vídeochamada para começar a compor, imaginar o videoclipe e combinar a data do lançamento. O processo todo durou menos de dois meses e, dali, surgiu o delicado single “amor desalinhado”, ainda em junho.

A brasileira, então, viajou até Lisboa para encontrar Diogo pessoalmente, pela primeira vez após os papos online, e gravar o audiovisual da música. “Eu nunca tinha ido para a Europa, era um sonho meu. É um lugar lindíssimo e tenho muitos amigos em Portugal, em especial, então foi muito maneiro. Pretendo voltar”, afirmou ela.

“A língua é como você se expressa, não é? Então ter dois países com duas realidades diferentes, mas se expressando da mesma forma, é muito interessante. Unir essas duas coisas é sempre muito legal”, refletiu Clarissa, com Diogo assentindo.

O clipe reflete bem a essência do dueto, mostrando indivíduos que, uma vez juntos, agora se afastam. É por isso que eles dificilmente aparecem no mesmo frame, trabalhado em um filtro preto e branco. “Imaginei o término de uma relação, aquela fase final em que uma pessoa não se identifica mais com a outra e o amor já está desalinhado, com nada em comum”, explicou Diogo.

Para Clarissa, essa história de “amor desalinhado” é familiar: “Sinto que a letra fala sobre uma vida virando cinza, uma coisa muito colorida perdendo cor, um amor que ainda existe, mas que não faz mais sentido. Me identifico muito com esse sentimento”.

Ela define a canção como “muito sensível e bonita”, com um “elemento pop muito forte”. Pop aqui empregado para refletir sobre a capacidade de atingir muita gente, incluindo a mãe da cantora e compositora, que “sempre chora quando ouve essa música” — segundo a própria.

“Depois da pandemia, a gente vê muitas músicas dizendo ‘vamos rebolar a bunda, vamos viver, vamos beber’, o que eu acho ótimo e adoro”, afirmou a brasileira, fazendo Diogo rir. “Mas sempre tem alguém com o coração partido por aí, então ‘amor desalinhado’ vem para servir essas pessoas”, concluiu ela.

O português admitiu que não costuma “rebolar a bunda”, mas que também não nega um ambiente de festa e concordou com a parceira. “Há espaço para músicas para rebolar a bunda e para quem gosta de ouvir algo mais sensível e sentimental, que é o estilo com que eu mais me identifico”, disse.

Ele, que costumava vir ao Brasil em seus períodos de férias, agora, estreita seus laços com o País, com muitas vindas a trabalho. Já tem amizade com artistas, como Day Limns, Carol Biazin e Vitão, sendo um apreciador da atual cena musical brasileira, para muito além das próprias parcerias.

“Portugal recebe muita música do Brasil e quase involuntariamente, na rádio e na televisão. Acho que Clarissa ou alguém do Brasil tem que procurar muito até chegar à música portuguesa. A realidade é um pouco diferente”, revelou Diogo.

O cantor e compositor retornou do Rio de Janeiro à sua terra natal depois de seus compromissos com “amor desalinhado”, focando então nos palcos: “Em Portugal é verão, quando acontece todas as turnês e os shows. Até setembro, outubro, tem muitos shows. E também estou concentrado no meu próximo disco”.

Assim como ele, Clarissa planeja um disco inédito. “É nisso que eu vou focar toda a minha energia até o final do ano. Um álbum e talvez, quem sabe, uma parceria ou outra”, garantiu a carioca.