Alerta de spoilers! Alerta de spoilers!
Logo no início de “Anything’s Possible”, Kelsa (Eva Reign), uma adolescente da cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, que sonha em se tornar uma cinegrafista da natureza, explica por que gosta tanto dos animais. Segundo ela, cada bichinho é único e nomeado a partir da característica que o faz único.
Curiosamente, o nome da protagonista do primeiro filme dirigido por Billy Porter, que chega ao catálogo da Amazon Prime Video nesta sexta-feira (22), significa “corajosa”. Mas ela não quer que sua coragem seja sua única característica, não!
Como uma jovem trans, Kelsa está acostumada a ouvir esse elogio, pois teve mesmo que ser corajosa para reivindicar sua verdadeira identidade, passar pelo processo de transição ainda na adolescência, falar abertamente de suas experiências no YouTube e frequentar o colégio que a conhecia por outro nome. Mas, agora, quer ser apenas uma “garota comum”.
É com a cabeça erguida e com a companhia de suas duas melhores amigas, Em (Courtnee Carter) e Chris (Kelly Lamor Wilson), que ela enfrenta o primeiro dia de seu último ano na escola, determinada não só a sobreviver às aulas e aos colegas, mas também a prosperar. A menina mal pode esperar para ser aceita em uma universidade de Nova York ou da Califórnia.
O que ela não espera é apaixonar-se nesse meio tempo, depois de observar as complicações dos relacionamentos amorosos das amigas. Tudo muda quando Kelsa conhece Khal (Abubakr Ali), um tímido e gentil garoto muçulmano de sua classe de artes.
“Anything’s Possible” logo mergulha em um típico romance adolescente, com direito a todos os bons e velhos clichês do gênero: borboletas no estômago, flores, encontros, primeiros beijos (nada graciosos) e, é claro, intrigas. Kelsa se conecta com Khal, mas descobre que Em também tem um crush no menino.
O clima de inimizade entre as duas amigas abre espaço para o roteiro de Ximena García Lecuona abordar a transfobia. Kelsa não demora para confrontar Em, que tenta bani-la do banheiro feminino, enquanto Khal enfrenta o julgamento do então amigo Otis (Grant Reynolds), que insiste em chamá-lo de gay.
A boa notícia é que o longa-metragem trata tudo, desde os clichês às questões de gênero, com leveza e delicadeza. Há várias pontadas de esperança, principalmente quando Kelsa encontra conforto na própria mãe (a sempre ótima Renée Elise Goldsberry). Este não é um conto de fadas, mas mostra que as pessoas são únicas como os animais na natureza, as dores não duram para sempre e os obstáculos podem, sim, ser vencidos.
É uma comédia romântica adolescente, no final das contas, e “tudo é possível”. “Anything’s Possible” não só abre caminhos para uma carreira de cineasta para Porter, como também escancara as portas para mais projetos com protagonismo trans e não branco, de maneira saudável e responsável, nas telas.
*A Amazon Prime Video disponibilizou o filme previamente para que a repórter concebesse o texto acima.
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