Oliver Sim se debruça, desde meados de 2005, sobre os lançamentos da banda The XX, formada por mais dois amigos, Romy Croft e Jamie XX. O ano de 2022 veio para mudar seu caminho e abriu os olhos do artista, que inaugurou sua carreira solo com uma sonoridade que mistura, mas não imita a da banda. Com “Hideous”, seu mais recente e pessoal single até o momento, o artista se abriu um assunto pessoal ao contar que vive com HIV, desde os 17 anos.
Ao Papel Pop, o artista se mostrou bastante entusiasmado com o resultado do álbum solo debut (programado para o dia 9 de setembro), e prometeu que os fãs conhecerão ele de maneira muito mais profunda ao longo das faixas cheias de “alegria, celebração, humor e fantasia”.
O cantor falou, ainda, sobre o medo que sentia quando escreveu a canção e como foi o processo de cura e aceitação pelo qual passou ao longo dos dois anos em que a música esteve engavetada. Sobre o Brasil, Sim despejou boas risadas sobre os fãs que pedem incessantemente para um show solo ou com a banda, mas também mostrou que a conexão com o país veio muito antes de sua entrada na música.
Confira o papo na íntegra abaixo:
PP – Você escreveu “Hideous” dois anos antes do seu lançamento, certo? Esta é uma música tão pessoal e eu sei que quando falamos sobre assumir algo, as coisas tendem a tirar um peso de nossos ombros. No momento em que você percebeu que queria falar sobre conviver com HIV e lançar a música, como foi?
Oliver Sim – O processo tem sido longo. No começo, eu pensei que seria algo curto, tipo: coloco em uma música, solto para o mundo e está feito. Mas eu acho que isso foi muito impulsivo. Quando eu escrevi, eu nem pensei que chegaria a lança-lá, mas eu toquei para uma pessoa e depois para outra e outra e, devagar, se tornou algo menos e menos assustador.
É mais fácil escrever sobre algo em uma música do que sentar e ter uma conversa cara a cara. As pessoas falam que esta é uma música honesta, mas eu não me senti honesto com isso no passado, mesmo com amigos próximos. Eu posso ser muito resguardado e eu passei os últimos dois anos, ao invés de lançar essa faixa para o mundo, eu fui conversar com várias pessoas da minha vida. Muitas já sabiam sobre meus status, mas ao mesmo tempo eu não fui muito aberto sobre isso. Conversávamos algumas vezes sobre isso e ponto. E existiam algumas pessoas na minha vida que não sabiam.
Eu experimentei tanto alívio e cura nos últimos dois anos, se eu tivesse apenas lançado “Hideous” sem isso, a segunda-feira [após o lançamento] teria sido tão difícil. Eu acho que teria sido demais se não tivesse feito o trabalho antes. Dois anos atrás, nesta entrevista, conhecendo você pela primeira vez e falando sobre o meu status teria sido impossível, eu não conseguiria, mas agora é possível. Ainda é desconfortável em alguns momentos e eu ainda tenho medo e culpa, mas não é o que era antes.
PP – Suas músicas solo seguem um estilo mais pessoal, claro, mas eu quero saber: como foi para você criar músicas além de “The XX”? Como você escapou do som que a banda está acostumada a fazer?
Oliver Sim – Eu sabia que eu poderia recriar o que fazia no The XX, nós temos um som e é com um DNA muito forte que trabalhamos, mas isso só acontece quando estamos os três juntos. Então, no começo, eu tive uma crise de identidade e me perguntei quem eu era, senão um terço do The XX. Como eu trabalho ? Como é o meu som? E foi muito aterrorizante, mas comecei a sentir como se o mundo fosse o meu próprio estilo e eu pudesse tentar qualquer coisa. Não há pressão. Era como se tudo estivesse disponível e eu pudesse apenas me divertir.
Mas é como se tudo que eu já tivesse feito, fosse um erro, mesmo as coisas boas. É por isso que, às vezes, fazer entrevistas é difícil porque eu me sinto como uma fraude. Eu não sento e falo que ‘vou fazer um álbum sobre culpa e vergonha e vai soar de maneira x’, eu faço um erro e parece bom, e então vou para o próximo passo. Eu não estou pensando muito sobre isso, mas é tudo um erro (risos).
PP – Houve momentos em que você sentiu que estava fazendo algumas canções convencionais e pensou em como se diferenciar do que fazia com a banda? Há alguma coisa em particular que você se lembre?
Oliver Sim – Há partes neste disco que, sim, tem elementos do The XX e está tudo bem. É uma parte de mim, tem partes de mim que são partes do The XX e faz sentido que a minha música solo tenha estas referências e, ao mesmo tempo, eu celebro fazer parte de uma das minhas bandas preferidas com as minhas pessoas preferidas.
Mas é engraçado, Romy [integrante da banda] está fazendo um disco no momento e é tão bom, e não poderia ser mais diferente da minha música. Eu os amo. A música que o Jamie faz não é a do The XX, assim como a que Romy e eu fazemos, não é The XX. Cada um tem sua própria identidade.
PP – Ouvimos um pouco do que você já lançou do “Hideous Bastard” e é absolutamente incrível. O que os fãs podem esperar do resto deste álbum? Existe algum lado oculto de você que as pessoas serão capazes de ver?
Oliver Sim – Sim! Eu fico preocupado toda vez que falo do álbum, porque eu já falei sobre coisas como culpa e vergonha e eu faço ele parecer muito triste e obscuro, mas não é isso. Eu acho que existe muita alegria, celebração, humor e fantasia. De uma maneira física, eu me coloquei por completo e as pessoas que ouvirão, me conhecerão de maneira muito melhor.
PP – Olha, estou totalmente ciente de que vou soar como todos os fãs brasileiros em suas redes sociais, mas me diga: quando você vem até nós? Existe algum plano?
Oliver Sim – Come to Brazil! Isso é real, estou sendo muito honesto, mas conversei com meu empresário ontem a noite e perguntei: ‘como chegamos ao Brasil? Como nós chegamos até a América do Sul e vamos para o Brasil?’ Eu sinto falta. Sou fascinado pelo Brasil desde que era um garoto, fiz capoeira quando tinha nove anos e era isso que eu queria fazer quando crescesse. Antes de entrar na música, eu passei um tempo no Brasil quando tinha 15 anos e é um dos lugares mais excitantes na Terra para mim. Eu vou de qualquer maneira, mesmo que se não rolar um show, eu vou passear. Eu prometo.
Relembre o videoclipe de “Hideous”:
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