Voltar para o topo

Agora você pode adicionar o PapelPop a sua tela inicial Adicione aqui

Foto: Bruno Trindade
Foto: Bruno Trindade
música

Entrevista: entre uma bad e uma farra, Di Ferrero lança primeiro álbum solo recheado de sentimento e muito rock

Sete anos depois do NX Zero lançar seu último disco de inéditas, Di Ferrero disponibilizou nesta sexta-feira (6) seu primeiro álbum solo, o “:( Uma Bad, Uma Farra :)”. Pode parecer muito tempo, mas, para ele, foi apenas o suficiente.

Durante a jornada que o trouxe até aqui, o campo-grandense nunca deixou a música de lado. De 2018 para cá, foram inúmeros EPs, singles e duetos, em parceria com artistas como Iza, Thiaguinho, Vitão e Rashid.

Algo que também nunca mudou para Di foi o amor pelo rock, que, mais do que um gênero musical, ele vê como um estilo de vida. Em um momento conturbado da sua adolescência, quando precisou sair da Igreja que tocava com sua banda, o rock foi o responsável por lhe mostrar novas perspectivas, o que culminou no início do NX Zero, que ele carrega com muito carinho. 

Agora, o cantor finalmente se sente pronto e seguro para dar um passo além em sua carreira solo, lançando seu primeiro álbum completo. O momento não poderia ser mais propício, já que cada vez mais artistas artistas investindo em uma sonoridade mais rock, pop rock e pop punk, levando o gênero, agora renovado, de volta ao mainstream.

Nas 12 faixas de “:( Uma Bad, Uma Farra :)”, Di apresenta composições que refletem a montanha-russa de sentimentos que ele viveu durante a Pandemia, trazendo reflexões políticas, sociais e pessoais, refletindo diferentes momentos de sua vida. Concebido em Florianópolis e produzido em parceria com os Los Brasileros, o disco conta com as colaborações de Badauí, Vitor Kley, Clarissa e Júnior Lima. 

Junto ao álbum, também foi disponibilizado nesta sexta o clipe da faixa-título. O registro traz um visual alternativo junto a uma faceta mais punk do artista. Vibrante e colorido, o vídeo remete a um estilo industrial que contrasta com o rock melódico da canção, fiel ao conceito da era. 

Assista: 

Em entrevista ao Papelpop, Di Ferrero comentou como foi o processo de criação do álbum e quais suas expectativas para a nova fase de sua carreira. Ele também falou sobre como ele enxerga a sua arte, o que o inspira a continuar fazendo música e qual o papel do rock em sua vida. 

Primeiro, eu quero que você me conte como foi esse período, desde o último lançamento de inéditas do NX Zero, há sete anos. Como você percorreu esse caminho, tanto pessoalmente quanto artisticamente, para chegar ao momento do lançamento do seu primeiro álbum?

Foi uma caminhada mesmo, um turbilhão de sensações e sentimentos, com coisas que eu programava e que eu também não programava. Lançar um álbum é algo muito grande. Eu lancei EPs e singles, mas um álbum é um momento da vida que é mais marcante pra uma carreira. Eu lançar meu primeiro álbum solo nesse momento é muito incrível pra mim. Mas eu sinto que estou fazendo isso na hora certa, que eu estou seguro, num momento pós-pandemia, pós-apocalíptico. Eu sei que a gente ainda está vivendo uma pandemia, mas agora nós sabemos conviver com ela, pelo menos. As músicas têm uma vibe que vem lá de trás, que se encontrou com meu momento solo e eu consegui misturar bem essas duas coisas. Essas músicas foram feitas de um ano pra cá, entre uma bad e uma farra, nessa montanha-russa de sensações que eu tive. Então é isso que eu penso, parece que faz pouco tempo. Quando você falou “sete anos”, eu pensei: “cara, é muito tempo!”, mas tudo tem seu momento, pra ser sincero. Meu álbum tá na hora certa. Eu sinto que é o momento que eu estou bem seguro e à vontade pra fazer ele, pra dar a cara a tapa, pra me expor desse jeito. Pra mim, lançar um álbum é isso. 

Com tudo isso que você citou, como você descreveria o artista que você é hoje? O que te inspira a continuar fazendo música e o que te inspirou a lançar esse álbum agora?

Eu me perguntei muito, na pandemia principalmente, “cara, o que eu sou?”, “por que eu quero fazer música?”, “por que eu quero cantar?”. Aí eu lembrei de algumas coisas: eu canto desde os seis/sete anos, minha banda era bombada na igreja, fazia turnê, tinha clipe. Aí eu saí da igreja, não podia mais ver minha galera da banda, meus pais também não podiam mais ver os amigos. Foi estranho, uma ruptura. Então eu vivi uma decepção, uma coisa estranha naquela época. Culpei Jesus, Deus, culpei todo mundo até eu me equilibrar e entender, começar com o NX Zero – que foi incrível, a minha vida. Eu compus as músicas junto com o Gee [Rocha], mas era todo mundo junto, uma banda vivendo um sonho. Aí o NX Zero pausou também e eu cheguei até aqui. É pra estar no palco, cara. É pra tocar ao vivo, trocar com as pessoas, pra conversar mesmo. O som é pra alguém cantar comigo, pra eu ver se eu tenho pessoas que se identificam com as minhas ideias no mundo, pra fazer parte desse mundo. Então é isso que me inspira, essa é a gasolina, senão acho que eu não estaria nem vivo ainda, já estaria em outra situação, até de cabeça. Sair no mundo pra tocar é o motivo que eu existo como artista. E agora eu estou nesse momento f*da pra mim, porque um álbum vai concretizar muitas coisas que eu já passei até aqui, muitas situações. Apesar das músicas terem sido feitas de um ano pra cá, eu carrego muita coisa junto ali comigo. É um momento legal pro som que eu estou fazendo, pra linguagem de rock, pro pop rock, pop punk, emo e todo esse movimento. Tem vários artistas aparecendo nesse sentido, galera do rap, do trap, do reggae e do pop mesmo, que têm a linguagem de rock. Você vê que é uma influência que tá dentro ali e eu faço parte disso, de uma certa forma. É muito louco. É isso que eu sinto, que, como artista, eu sei onde eu estou, o que eu já vivi, mas, ao mesmo tempo, eu me sinto recomeçando mesmo, porque eu estou fazendo uma coisa nova na vida. É um álbum solo, o meu nome, minha responsa e meus sons novos, que são como meus filhos, e isso é muito empolgante. É por isso que eu existo, é pra isso. 

Foto: Bruno Trindade

Foto: Bruno Trindade

Aproveitando esse gancho que você puxou, eu ia justamente comentar que eu sou uma pessoa que cresceu ouvindo NX Zero tocando nas rádios e, enquanto eu ouvia o álbum, eu percebi que você continua tendo essa pegada do rock, seja mais puxado para o pop ou mais pesado. Então eu queria saber o que o rock significa para você, qual a importância na sua vida e como é para você ver essa volta do gênero ao mainstream. 

Ouvir rock é um life style pra mim, sabe? No sentido de pessoas terem uma atitude de rock, de falar o que quer, de não fica fazendo muita média, ser sincero, real. Nesse sentido, quando eu saí da igreja e estava totalmente revoltado e sem entender – porque eu era adolescente mais novo, com uns 13 anos -, revoltado com o mundo, eu poderia ter ido pra um caminho horrível. Aí eu comecei a ouvir umas bandas, comecei a andar de skate com uma galera que ouvia um hardcore e rock’n roll e eu acho que foi isso que me salvou naquela fase. Eu me identifiquei com todo mundo que estava naquele movimento, que não era uma galera que só ouvia rock, porque é como eu falei, o rock é tipo um life style, tem todo um rolê, uma linguagem, as pessoas sabem o theme ali do movimento. É muito legal ver isso acontecer agora de outra forma, porque não é o mesmo rock dos anos 2000 que a galera só está resgatando. O Machine Gun Kelly está lá fazendo o maior sucesso com uma parada meio pop punk, tem o Mod Sun também, mas aí tem o Måneskin que está fazendo um negócio meio glam rock, que é mais performático, mais languido, mais andrógeno, muito legal e até em outra língua, o italiano, que a gente não está muito acostumado. Tem o Yungblud, por exemplo, que também é um cara que vai meio pro punk. Então é legal ver que essa linguagem foi muito relevante, porque pra mim foi, na minha vida pessoal e na minha vida com o NX também. Os artistas pop e todo mundo que participa de uma cena também cresceram ouvindo isso, a própria Glória Groove me falou que o primeiro show da vida dela foi do NX, porque ela era emo e tal, a Pabllo também. E hoje elas são p*ta artistas f*da, que fazem o que elas querem do jeito que elas querem. E isso tem a ver com você se jogar, tem a ver com rock, com punch, com pegada. Essa linguagem está mais viva do que nunca e tá pipocando artistas novos, festivais, então é uma hora boa pra eu lançar meu álbum. Não foi nem pensado, foi uma coisa que aconteceu naturalmente e que me dá mais segurança pra lançar isso agora. 

Quando eu estava ouvindo o “:( Uma Bad, Uma Farra :)”, eu só conseguia pensar que o título faz todo sentido, porque, por mais que muitas músicas tenham esse clima um pouco mais forte e animado do rock, ainda assim as letras trazem uma reflexão, com referências não só pessoais, mas também políticas e sociais. O que você quis passar com esse álbum? Qual a mensagem que você quer transmitir através dele?

Que nós não precisamos fingir que estamos felizes, está tudo bem a gente também não ser feliz uma hora, porque ninguém é feliz o tempo inteiro, você não precisa viver uma vida de ilusão. Mas a grande questão é como nós encaramos isso, porque pode ser de uma forma mais “romântica”, vamos falar assim, mais reflexiva, e não tão destrutiva, senão a gente vai acabar se destruindo. Então quando a gente não tá bem, tá numa bad, a gente só vai ficar numa farra porque sabemos o que é viver uma coisa ruim, estranha. E essa coisa estranha vai fazer a gente ir pra frente e esse ciclo todo sempre vai nos trazer problemas novos para enfrentar, mas que é um zigue-zague pra cima, nunca é parado. Acho que é nesse sentido “:( Uma Bad, Uma Farra :)”.

E como foi o processo criativo, escolher as parcerias, os singles? O que tem de diferente nessas músicas que merecem uma atenção especial em relação às outras?

Isso aí é f*da. É um problema bom que eu sempre tenho, que é escolher qual música que vai representar o momento. Por isso que um álbum vem junto com um pacote sonoro, você entende uma música através da outra e associa elas. O primeiro single, que foi “Aonde É O Céu”, foi a última música que eu fiz do álbum, ironicamente, surgiu de um papo que eu estava tendo com um amigo. Estávamos falando de cancelamento, o cara irredutível nesse lance de dar segunda chance pras pessoas e tal, aí eu falei “ah, já que você sabe tudo, então me fala aonde que é o céu”, “como é que faz pra chegar lá, mapeia o caminho”. Aí eu comecei “espera! Não vamos mais discutir. Deixa eu escrever aqui, que eu gostei dessa frase”. Ela tinha acabado de sair eu falei que tinha que ser a primeira. Ela tinha uma pegada que lembrava o Di lá de trás, mas que tinha muita coisa nova, tinha as guitarras, a batera, mas também tinha uma programação, um beat. A segunda, que foi “Intensamente”, junto com o Vitor Kley, foi uma música que tinha o apelido de “festival”, porque eu sempre sonhei em tocar ela no pôr do sol de um festival. Aí eu achei que seria legal lançar ela porque tem uma onda mais indie rock, pra galera não falar “ah, o álbum vai ser só isso aqui, só desse jeito”, então já mostrou outro caminho. “Descansa” também eu acho que é mais introspectiva, junto com a Clarissa. Então foi mais ou menos assim que eu escolhi, pra não ser uma coisa só, porque o álbum tem que contar uma história inteira. Eu estou até feliz que ele vai sair logo, pras pessoas sacarem no geral como ele vai ser, sabe?

Você falou sobre o sonho de tocar “Intensamente” em um festival, então quais são as suas expectativas para o Rock in Rio?

É muito louco, cara, porque a pira da música era tocar ela num festival no pôr do sol. Aí o Vitor Kley escolheu estar nessa música -olha como são as coisas -, porque eu chamei ele pra tocar em outra do álbum, “Sorte”, e ele falou “beleza, eu gostei de ‘Sorte’, mas eu quero cantar nessa [“Intensamente”]”, então fechamos. Aí a gente vai cantar junto no Rock in Rio, num horário que vai ter o pôr do sol, muito louco. Nós falamos que esse tem que ser o show da nossa vida, com um setlist matador, que conte a minha história e a história dele. Pode até ter alguma parada do NX, sim, mas que conte nosso momento, nosso rolê. A gente vai tocar no dia do Green Day, no nosso palco vai tocar Avril Lavigne, o Jão também vai estar no mesmo dia, então vai ser uma coisa que vai ser muito marcante. A gente vai se jogar. 

E além do Rock in Rio, você tem outros planos pra esse ano?

Vários planos. A turnê já tá rolando, já tem várias datas. Assim que o álbum sair já vamos divulgar mais datas na sequência, com mais cidades. Eu já estou fazendo bastante show, mas a turnê mesmo, “Uma Bad, Uma Farra”, que é a partir de junho, já tem várias datas, o que me deixou feliz demais. Era o que eu estava esperando mesmo, estava com saudade até de trombar nos outros.

Escute “:( Uma Bad, Uma Farra :)”:

voltando pra home