“Rosas e Espinhos – Mulheres que ressignificaram suas histórias” nasceu despretensiosamente. Alessandra Vidmontas foi quem deu início ao projeto, colocando seus sentimentos e pensamentos no papel, a partir de vivências pessoais e de conhecimentos advindos de seu trabalho em casas protetivas para mulheres, com a organização Beleza Escondida.
Quando as primeiras palavras foram tomando forma, ela percebeu que aquele livro não era algo individual e particular – deveria ir para o mundo impulsionado por outras vozes femininas. Convidou Claudia Ramos, Fátima Mottin, Marcela Ávila e Penelope White para que juntas botassem na rua uma obra sobre a realidade da mulher no Brasil e no mundo.
Claudia Leitte chegou para completar o time como prefaciadora desses exemplares, que começaram a ser vendidos, de forma online, para todo o país nesta semana. “É uma escrita coletiva, que representa a força da sororidade, do ser feminino e do apoio mútuo”, explica Vidmontas em entrevista ao Papelpop.
O resultado foi uma reunião de experiências e jornadas diferentes, mas, ainda assim, identificáveis para o público, em 126 páginas. “Rosas e Espinhos” trouxe o que seu título sugere, “mulheres que ressignificaram suas histórias”, sem fugir da dor, mas apontando para a superação de marcas de sofrimento.
“Uma vez, Alessandra falou assim: ‘A cura já foi encontrada, então o que a gente está fazendo aqui é acendendo os holofotes no caminho à cura’. Isso é esperançoso”, reflete Claudinha. “Existe uma cura, então venha. Aqui tem guarida, tem proteção, tem acompanhamento, tem uma rede de apoio. Pode falar. Saia disso. Esse é o alerta. Esse é o chamado”.
A ideia foi justamente mostrar a possibilidade de proteção para que o livro seja útil às mulheres que sofrem neste momento ou precisam identificar que estão em relacionamentos abusivos ou correm risco de vida, tudo através de histórias reais. Afinal, o caminho não se resume à denúncia, tampouco é fácil.
“A gente costuma chamar de ‘Armadura da Proteção’, porque há aspectos legais, da comunicação, do conhecimento, de rede apoio e das casas protetivas. São vários bracinhos do mesmo corpo para poder fechar essa armadura. Uma resposta real e prática para uma mulher que precisa de ajuda”, conta Vidmontas.
O assunto pediu uma sensibilidade extra durante o processo de desenvolvimento do livro, porque os textos mexeram com as autoras enquanto elas escreviam. “A maioria delas viveu alguma situação de violência, teve que revisitar suas dores e pediu uma pausa para respirar. Não foi simples, mas foi necessário, para alcançar as pessoas que estão lendo”, diz a autora.
Escrever mexeu com Claudia também. A construção do prefácio de “Rosas e Espinhos” foi algo completamente novo para a cantora, que, acostumada com os estúdios e os palcos, se sentiu “honrada”, mas ao mesmo tempo “apavorada” diante do desafio. Acabou sendo uma experiência de autoconhecimento para ela.
“Eu amo escrever, mas nunca pensei em escrever algo tão sério, com um propósito tão grandioso. E aí eu escrevi uns duzentos textos”, brinca. “A cada vez que eu escrevia, eu me via de uma maneira diferente. Eu me conheci. Conheci alguém que estava aqui dentro, em algum lugar, e que talvez eu nunca tenha compartilhado. Agora está ali, entre rosas e espinhos”.
Para a artista, “escrever esse prefácio me trouxe uma certeza de que posso, sim, compartilhar minha vulnerabilidade, falar de fragilidades e não ter medo de expor o que eu sinto no meio da loucura glamourizada que é a minha carreira, mas não porque eu quero alguma coisa em troca; é porque eu preciso fazer isso”.
Claudinha encontrou esse lugar seguro para ser desde que se envolveu com a Beleza Escondida. Ela virou madrinha da organização em 2019, depois de conhecer o fundador Patrick Reason, inglês naturalizado, e se encantar com sua causa. “Deus nos deu a liberdade e eu quero estar no front de batalha, lutando por ela de alguma maneira”, afirma.
Há uma sintonia nessa parceria. A Beleza Escondida atua há 22 anos na proteção de mulheres vítimas de violência, ao passo que a carreira musical da própria Claudia Leitte completa duas décadas em 2022. “Rosas e Espinhos” chega em um momento oportuno, potencializando o trabalho de ambas.
O livro é parte de uma agenda cheia da artista, que vem comemorando seu aniversário profissional com shows na Disney, singles, clipes e (em breve) álbum. Todas as novidades devem culminar em uma “grande festa” em dezembro deste ano.
“Neste momento de celebração dos 20 anos de carreira, com tantas coisas diferentes acontecendo na minha vida, eu estou pensando nos próximos 20. Estou me sentindo forte, mas ao mesmo tempo com espírito infantil, sabe? Disposta a aprender e trabalhar muito, cheia de vitalidade, tipo meus filhos”, ri Claudinha. “Estou querendo mais”, conclui.
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