Duda Beat está na estrada. Com passagens por capitais como Berlim, Londres, Paris, Amsterdam e Lisboa, ela leva sua banda completa pela primeira vez ao velho continente neste mês de abril. O momento simboliza a realização de um sonho antigo. Sonho, aliás, é uma palavra que a artista mantém em seu vocabulário.
Com um dos trabalhos mais elogiados de 2021, o álbum “Te Amo Lá Fora”, ela abraçou de vez a personificação da ‘blond ambition‘. Não faz mais questão de esconder suas ambições e deixa claro que está no comando, trilhando uma carreira de sucesso em um país em que a música, quando feita de maneira independente, é um bravo desafio.
Nesta entrevista, feita por ZOOM, Duda fala com expectativa sobre a estreia de seu novo show, que pela primeira vez introduz elementos cênicos e a atitude de uma artista que nasceu para ser diva. Ela também aproveita para comentar o atual momento das produções brasileiras, no topo dos charts internacionais, e suas percepções a respeito de fama. Os números, em sua filosofia, também são uma forma de falar ao coração.
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Papelpop: Acho esse momento muito simbólico. Muita coisa aconteceu desde a nossa última conversa e um dos vídeos de apresentação do ‘Te Amo Lá Fora’ dizia que ‘Todo amor passa por muitas fases’ e a sua carreira também é um amor. Como você descreve a sua fase atual?
DUDA BEAT: É uma fase de muitos sentimentos. Agora eu estou, de fato, encarando uma série de assombros, muitos e que vão além do amor. Tem dias que eu acordo muito deprê, tem dias que eu acordo muito bem e sinto que tudo é impermanente. Isso é parte daquela filosofia do que passa, que versa sobre a impernanência. A gente nunca tá num lugar só e nesse momento agora eu encaro muitas coisas na tentativa de entender o que vai acontecer. Tenho muita fé de que as coisas vão melhorar porque, sempre que uma tristeza de amor passa, a gente se empodera. Hoje eu confio muito nisso, nesse momento.
Há mais ou menos quatro anos eu vi o seu primeiro show na Casa Natura Musical e me lembro de perceber o potencial que já existia pra se tornar essa mesma superestrela pop. Hoje, você está em turnê pela Europa, tem show marcado no Rock In Rio, música tocando em filmes e novelas, dois discos que já te consolidaram como uma grande artista da sua geração. Você está confortável, sente que chegou onde queria chegar?
Não. Ainda tem muita coisa que eu quero…
O que Duda Beat quer?
[Pausa] Que muito mais gente tivesse acesso à música e à arte que eu faço. Isso pode parecer até um pouco lúdico, não tão real, inclusive entendo que o meu trabalho não é tão fácil assim de ser assimilado. Em alguns momentos é até mais denso do que se espera, mas esse é um grande sonho. Que uma quantidade realmente grande de pessoas consuma o que eu componho, o que eu canto. Esse objetivo dos milhões de seguidores, por exemplo, eu sempre tive. Desde as primeiras entrevistas eu deixei claro o desejo de ser uma estrela da casa dos milhões, justamente pelo interesse de se fazer ouvida, para além de likes e números. É muito mais sobre as pessoas poderem de alguma forma se sentirem tocadas, num movimento de expansão contínuo. Também sonho muito com uma carreira internacional, cada vez conquistando mais. Pra mim a turnê internacional é uma conquista fudida. Fiz um espetáculo com 3 músicos, intimista, e dessa vez vamos em 5, além do técnico de som. Pra uma artista independente como eu isso significa a realização de muitas conquistas, de muitas lutas. Ter entregue uma obra audiovisual como “Nem Um Pouquinho” é resultado de muito trabalho, eu sou a minha própria investidora. Pego meu dinheiro e reinvisto. Quero que Lady Gaga saiba quem eu sou.
Dá pra dizer então, dentro desse contexto, que você lida bem com a fama.
Eu lido, e penso bastante sobre isso. Em todas as vezes em que encontrei meus grandes ídolos da vida respirei na confiança de que eu tinha algo pra oferecer. Não me deixou afobada, me deixou calma pra saber o que vou colocar no mundo, a transmitir. Tenho os mesmos hábitos, os mesmos amigos, não sinto que mudei. Eu ajo genuinamente, então… acredito que seja um símbolo de que lido bem.
‘Te Amo Lá Fora’ assume um lugar de favoritismo pra você. Isso acontece por ser um disco mais realista, que te permite sonhar com os pés no chão?
O próximo sempre vai ser o favorito [risos]. Converso muito com Tomáz [Troia], a gente trabalha e mora junto, e uma vez ele me disse que ‘desilusão era bom’. Nunca entendi porque sempre fui muito iludida, muito apaixonada, o ‘Sinto Muito’ carrega muito disso, mas logo em seguida trabalhei em canções que nasceram num contexto muito difícil, um disco que pensei muito como lançar, é o segundo disco – algo desafiante pra uma artista que conquista uma estreia de sucesso. ‘Bixinho’ explodiu no Brasil e se destacou, mas a maioria das pessoas ouve o disco todo. Imagina a responsabilidade de lançar um trabalho que estivesse à altura… Quis ser honesta e desiludida, quando repito que encaro assombros, estou encarando tudo mesmo, inclusive essa incerteza que tive de não poder trabalhar minhas canções por causa desse movimento de avançar-recuar da pandemia. Agora, no início de 2021, eu tive Covid, os compromissos do mês de janeiro inteiro foram adiados e entrei numa de compor. É algo que me salva muito, fui até desenhando uma nova era. Fizemos quatro músicas, estamos pensando em compor muito pra ter um álbum e singles avulsos, ainda estamos entendendo. O próximo disco vai ser meio ‘Samara’, saindo do poço [risos].
Você menciona o ‘Sinto Muito’. Como foi esse exercício de trabalhar faixas antigas a partir de arranjos inéditos, atualizados? Existe uma espécie de nostalgia?
Existe. Tenho uma percepção de que os meus dois discos são obras icônicas de arte porque não me arrependo de nada do que está ali olhando pra trás. Sempre foi um desejo muito grande chegar aos 80 anos, e perceber que estou deixando um legado foda, um trabalho que emocione. Nessa montagem de set consigo compreender as músicas que são do verão e a música de álbum, existe uma visão clara. Pra turnê europeia vamos incrementar uma coisa ou outra, esse é um show bem rock n roll e isso é muito importante, inclusive pensando na figura do meu pai. Fui ninada ouvindo rock n roll, nessa essência meio grunge. Ele sempre me questionou sobre a ausência dos solos de guitarra e agora vou fazer isso. Adoro os beats, meu nome é Duda Beat, mas falta algo orgânico como a bateria de 50 Meninas, tocada por mãos humanas. Temos que resgatar pras novas gerações saberem que isso existe. O rock está voltando, a Miley Cyrus tá cantando rock n roll, Olivia Rodrigo fez um sucesso tremendo com “SOUR”, baseado nessa estética… as pessoas sentem falta disso. Fui pro show do Planet Hemp no início do ano e foi muito libertador, queria estar ali na rodinha punk. Para além das minhas referências do Nordeste quero impulsionar um pouco desse lado. Duda Beat é uma grande mistura.
Como a própria “Dar Uma Deitchada”.
‘Dar Uma Deitchada’ é exatamente isso! Compus essa letra depois de beber muito vinho e é a música mais despretensiosa que já fiz na vida! Tem bastante essa essência do humor, que meus amigos sempre relacionam com a minha companhia, eles dizem que sempre faço todos rirem. Mas acho também que é parte de um desejo de descobrir esse lado que ainda não tinha mostrado tanto. Quem vê a minha obra de fora acaba enxergando o todo como a criação de uma artista séria, quando na verdade sinto que tenho toda uma sagacidade de quem sabe brincar com os sentimentos.
A estética de “Duda Beat On Tour” tem um visual sombrio, muito mais noir. Isso vai na contramão de todas aquelas que o público viu em 2018, 2019… Como isso vai funcionar em cena? Foi um desejo de romper?
Tem uma simbologia na minha vida que é o coração e ele não muda. Às vezes ele tá rosa, às vezes ele tá cheio de espinhos. Não quero abandonar essas filosofias, mas a maneira em que ela é colocada acaba se transformando – algo que se reflete na cenografia. Tô muito satisfeita com as luzes desse show novo, pela primeira vez os meus músicos podem interagir com ela… vamos dividir esse aspecto em três atos: o primeiro mais dark, que é bastante rock n roll; um segundo empoderador e o final inspirado nas festas, pensando nessa ideia de progressão dos sentimentos. Quando eu puder fazer shows maiores, quero fazer também trocas de figurino.
Estamos vivendo um momento muito especial da música brasileira sob a perspectiva do estrangeiro, que tem demonstrado um interesse crescente no que produzimos aqui. Como você tem visto essa conquista inédita de espaço? O que significa ir pra fora, mas também ver outros colegas chegando a outros espaços e tendo notabilidade?
Isso me bate como um abrir de portas. O que a Anitta está fazendo por nós, o que Pabllo tem feito com turnês enormes lá fora me possibilita sonhar, pensando que isso pode acontecer comigo um dia. Eu vibro muito pelas minhas colegas, pela Liniker, pela Luedji, que já tem carreira estabelecida lá fora. A Céu também é outro nome que eu gostaria de destacar, hoje ela tem músicas que tocam à exaustão nas rádios universitárias dos Estados Unidos. Isso precisa ser muito noticiado, a gente precisa vibrar por todas e todos que estão construindo seus caminhos e chegando lá. É um trabalho admirável, acho incrível essa possibilidade de sonhar com um Coachella, um Primavera Sound que é um sonho. É gostoso poder alimentar essa esperança a partir dos meus pares.
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15 de abril: New Morning, Paris – França
16 e 17 de abril: Jazz Café, Londres – Reino Unido
18 de abril: Opium, Dublin – Irlanda
22 de abril: Capitólio, Lisboa – Portugal
23 de abril: Hard Club, Porto – Portugal
24 de abril: Ibero Experia, Madrid – Espanha
28 de abril: La Nau, Barcelona – Espanha.
Ouça “Te Amo Lá Fora” no streaming.
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