No seu maior holofote internacional até o momento, o primeiro dos dois shows que Anitta fará no palco principal do Coachella foi para nenhum brasileiro colocar defeito. No maior festival dos Estados Unidos e um dos mais renomados do mundo, a cantora reivindicou a posse e o significado das cores da bandeira nacional e, na garupa de sua moto, levou o funk carioca, o pagodão baiano, a capoeira e até mesmo os vocais de Ludmilla, com quem viveu problemas no passado. Visando o mercado internacional, Anitta não deixou o Brasil de lado ao levar ao palco Snoop Dogg e Saweetie, artistas presentes em sua discografia e registrados em um dos momentos mais importantes de sua vida. A setlist agradou os fãs de todas as nacionalidades, com hits em português, inglês e espanhol, a cantora mostrou que iria, sim, rebolar a sua bunda ao apresentar ao mundo seu “Movimento da Sanfoninha”.
O início do show fez uma analogia à primeira vez que o funk foi massivamente exportado com “Vai Malandra” e, sendo levada por um mototáxi até o palco — assim como no videoclipe — a garota de Honório Gurgel, bairro humilde do Rio de Janeiro, nunca esteve tão em casa com o cenário que ambientava uma favela e abraçava todas as outras representações dos subúrbios brasileiros. Introduzida pelo rapper, que avisou: “Coachella, faça barulho para minha garota, Anitta!”, a brasileira deu início à sua apresentação cantando, em português, “Onda Diferente”. A faixa presente em seu quarto álbum de estúdio, “Kisses”, já mostrou que ela daria trabalho em uma frequência não tão vista na América do Norte.
Com direito a Snoop Dogg e seu fiel escudeiro em mãos, confira a abertura do show que serviu como um divisor de águas para a carreira da Garota do Rio:
Vestidas com as cores da bandeira nacional, como já mencionado anteriormente, Anitta se jogou na percussão ao introduzir “Me Gusta”, parceria com Cardi B e Mike Towers responsável por sua primeira introdução na Billboard Hot 100, a principal parada de sucessos que contabiliza streams, reproduções em rádios e vendas físicas e digitais apenas nos Estados Unidos.
Depois de apresentar o pagodão baiano, foi a vez do funk com aspectos pop de “Faking Love”. Abrindo sua segunda participação especial da noite, Anitta recebeu a rapper Saweetie, com quem divide os vocais da faixa. Com um look bastante colorido para entrar na energia brasileira, a voz de “Best Friend” também foi ovacionada.
Sem a tão esperada participação de Pabllo Vittar, que deve acontecer apenas na próxima semana, foi a vez de “Sua Cara” dar continuidade à setlist. O hit em português de Major Lazer, que foi sucesso estrondoso em 2017, trouxe a cantora de volta a um tempo em que sua carreira internacional estava apenas se iniciando, onde tudo ainda era um grande sonho. Vivendo a nova realidade, e com o perdão da piada, é quase impossível lembrar que, em 2017, Anitta pagou sozinha o videoclipe de 70 mil dólares.
Anitta não está acostumada com um público que não entrega a mesma empolgação dos fãs brasileiros, mas até a energia mais calma dos estrangeiros presentes ela conseguiu mudar. Cantando um idioma não habitual ao público, com um ritmo e coreografias que ainda estão ganhando espaço mundo afora, a brasileira alavancou a vibração para o 150bpm.
Com “Sin Medo” e “Machika”, que vieram na sequência, Anitta mostrou que saiu para romper as fronteiras, nunca esquecendo das raízes da favela, que não a deixaram durante os 45 minutos de show. E por falar em brasilidades, foi a vez da Capoeira tomar conta do palco do Coachella. Enquanto a diva investiu na troca de seu segundo look assinado por Roberto Cavalli, desta vez um macacão animal print, os bailarinos tomaram conta do palco com grandes ritmos de todas as regiões brasileiras, incluindo uma versão funk de “Magalenha”, clássico de Sérgio Mendes.
A ala feminina do ballet deu uma surra de bumbum com “Combatchy” momentos antes da artista retornar com “Envolver”. O maior hit de sua carreira ganhou uma apresentação hipnotizante digna de Anitta que, além de ser ovacionada pelo “El Paso de Anitta”, se entregou tanto ao sensualizar com o bailarino que até cantar de ponta cabeça, cantou.
O primeiro hit de Anitta em língua espanhola foi a parceria com J Balvin em “Downtown”, esta também foi a faixa escolhida para dar continuidade ao set. Após ter entoado danças provocantes com o bailarino, chegou a vez de sensualizar com uma integrante feminina do ballet.
O público começou a sentir um gosto do quinto álbum de estúdio da brasileira, o recém lançado “Versions Of Me”, que anteriormente seria “Girl From Rio”, ao ouvir a clássica “Garota de Ipanema”, que abriu a apresentação da antiga faixa-título. “Se você nasceu antes dos anos 1960, é sua obrigação conhecer essa música”, disse ao introduzir o clássico de Tom Jobim. “Girl From Rio”, a bossa nova com trap norte-americano tomou conta do festival quando Anitta decidiu contar ao mundo a realidade não conhecida do Rio de Janeiro.
Dentre todos os ritmos brasileiros apresentados, a cantora não poderia deixar de agradar o público estrangeiro que vem conquistando. Por isso, cantou o rock “Boys Don’t Cry”, mas dessa vez, sem Miley Cyrus. Animado, o público ovacionou a cantora enquanto pulavam ao som do hit aspirante.
O funk voltou a tomar conta do palco principal quando o elenco completo de dançarinos retornou ao palco ao som de “Bum Bum Tam Tam”, de MC Fioti, e “Rap Das Armas” de Cidinho e Doca.
Com direito a Diplo no palco, além dos vocais de MC Lan, Anitta fez sua última troca de look e entregou um top cropped e um shorts azul, também assinado pelo estilista brasileiro. Introduzidos ao funk, foi a vez de acrescentar tons da música eletrônica ao ritmo com “Rave de Favela”. Nesta, o paredão incluído no cenário só ajudou Anitta a entregar danças alucinadas, como se estivesse curtindo seu próprio show em terceira pessoa.
“Isso é funk brasileiro, isso é Baile de Favela!”, gritou ao emitir gemidos e entregar muita coreografia no dance break que antecedeu as batidas contagiantes e inconfundíveis de “Vai Malandra”. O público parou para prestar atenção em Anitta dançando, algo pelo qual o brasileiro está hipnotizado desde 2013.
E para quem pensou que a poderosa não iria rebolar sua bunda no Coachella, a cantora logo avisou: “Vocês estão prontos para rebolar? Porque eu estou aqui para isso!” E deu-se início a exportação do “Movimento da Sanfoninha”. O momento que todos esperávamos, finalmente aconteceu e, como no Brasil, o público global também enlouqueceu com as habilidades da brasileira.
Confira:
Os vocais de MC Zaak e J Balvin retornaram para finalizar o show ao som de “Bola Rebola”, que apenas reforçou o conhecimento mundial sobre a lombar de titânio que Anitta tem. Ovacionada pelo público em um dos momentos mais importantes de sua carreira e também um dos mais aguardados dos últimos dois anos, a brasileira pagou a promessa que fez anos atrás ao garantir que faria o nosso funk ser respeitado mundo afora. Com toques da realidade, o Brasil, novamente, voltou a ser reconhecido pela riqueza de sua cultura.
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