Se você acompanha a cena artística latino-americana, sabe que Carlos Vives é o principal nome quando se fala da fusão existente entre pop e ritmos tradicionais na Colômbia. Pese o fato de que o país enfrentou duros anos de guerra civil, a arte se firmou como uma intocável sobrevivente dos anos de chumbo.
Flautas andinas, charangos, tambores, guitarras envenenadas. Todos esses instrumentos potencializaram os discursos de criadores que foram capazes de consolidar não apenas suas mensagens, mas também de ouvir com precisão os sons da rua para depois espelhá-los em uma identidade que se reserva, igualmente, ao único e ao plural.
Se hoje Camilo, que é consideravelmente um dos maiores de sua geração, conquista sem dificuldade o topo das paradas de sucesso cantando faixas como “Kesi”, uma típica champeta, há praticamente 40 anos Vives desbravava a indústria em busca de um equilíbrio entre essas sonoridades consideradas marginais e as ondas do rádio.
Os anos 1990 e a ascensão do mercado fonográfico na Colômbia deram-lhe a base necessária para criar álbuns que, ainda hoje, habitam o imaginário comum. Destacam-se “Clasicos de la Provincia” (1993), em que o artista reuniu uma série de versões repaginadas de clássicos do vallenato, embora vestidas com uma estética comercial e fusionada com elementos de cumbia e rock n roll; bem como “La Tierra del Olvido”, desta vez uma proposta original de releitura dos gêneros que o consagraram.
Carlos Vives é, sim, um pioneiro e continua com olhar afiado para as questões do agora. Por isso mesmo as expectativas a respeito de “Cumbiana 2”, disco que chega em algum momento deste ano, devem ser postas nas alturas. Abaixo, você confere um guia com 5 faixas do artista para imergir de vez na música popular colombiana.
Esta é uma excelente porta de entrada para o vallenato, gênero musical originário da região caribenha. Lançada em 1938 e composta por Emiliano Zuleta, “La Gota Fría” ganhou diversas versões ao longo do tempo, sendo as mais famosas as do Grupo Niche, a de Julio Iglesias e a de Carlos Vives. Em 1993, o astro colombiana escolheu esta mesma releitura para abrir a seleção do LP “Clásicos de la Provincia”, tornando-a não apenas um marco de seu repertório, como também um símbolo daquela que viria a ser uma nova fase da canção tradicional de seu país.
Seis anos antes de lançar “Currambera”, faixa que homenageia a amiga Shakira, Carlos Vives convidou-a para passar uns dias em Barranquilla, que aliás é sua cidade natal na Colômbia. Juntos, eles gravaram “La Bicicleta”, uma faixa festiva que mistura seu já convencional vallenato à força do reguetón. Surgiu aí uma canção que remonta os dias mais quentes em que se sai para passar pela cidade sentindo o vento bater no rosto.
Muito provavelmente você se lembra do grande sucesso do Br’oz, quarteto que venceu o reality show “Popstar”, no SBT. Paralelamente à paleta cor-de-rosa do grupo Rouge, eles foram a boy band do momento. “Prometida”, como foi chamada aqui, é na realidade uma versão de “Fruta Fresca”, grande sucesso do LP “El Amor de Mi Tierra” (1999). Foi um sucesso estrondoso nas rádios de países hispano-americanos e na primeira edição do Latin Grammy, em 2000, concorreu a quatro categorias, entre elas as de Canção e Gravação do Ano. Um rock tropical para ninguém botar defeito, afinal, os colombianos sabem como trabalhar com as guitarras.
Novamente aliando-se à música afro-colombiana, Carlos Vives compôs a champeta “Pa’ Mayte”, que integra o elogiado “La Tierra del Olvido” (1995). Há quem diga que este é seu melhor disco de estúdio e os motivos são abundantes. Além de elevar pela primeira vez o nível de suas produções apostando em um som autoral, a faixa ganhou um videoclipe em preto e branco que celebra a Colômbia profunda, um lugar em que apesar das disparidades de então, todos podiam dançar e celebrar. Aqui, o som do acordeón ficaria marcado para sempre oferecendo ainda uma amostra de seu “casamento” com o calypso.
Responsável por dar título ao LP mais recente de Vives, “Cumbiana” já entrega a que veio logo no título. A música é uma ode à cumbia, gênero potente que ganharia novo fôlego nos anos 1990 pelas mãos de nomes como Totó la Momposina, Selena Quintanilla e Lila Downs. Sob o embalo da voz marcante de seu intérprete, ela faz um convite agora, no presente, a cada um de seus ouvintes. Mais rápida ou mais lenta, a cumbia te leva a mergulhar em sons que mais se parecem com magia. É impossível parar de dançar.
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