O show de Shakira e Jennifer Lopez no Super Bowl LIV, em 2 de fevereiro de 2020, trouxe não apenas uma projeção única para temas ligados à comunidade latina, como também impulsionou de vez os nomes das anfitriãs ao mais alto posto do estrelato em solo norte-americano. Seus nomes, especialmente o de Shakira, ficaram entre os assuntos mais comentados das redes sociais durante as semanas seguintes.
Pudera. O show, marcado por ballets afiados e uma sequência alucinante de grandes sucessos, trouxe o que havia de melhor no repertório de ambas. Mas, mais do que isso: do início ao fim a apresentação foi marcada por referências culturais presentes tanto em sua trajetória artística, quanto pessoal.
Abaixo, relembre easter eggs que tornaram este um dos shows mais ricos da história do evento.
Um gesto simples. Durante a transição de “Hips Don’t Lie”, Shakira se aproxima da câmera e, olhando fixamente, reproduz uma ululação, som feito com a língua e bastante característico de momentos de celebração na cultura árabe. Descendente direta de libaneses, a artista colombiana chamou a atenção do mundo que, restrito em suas enormes bolhas, não entendeu de primeira. A pauta, claro, rendeu assunto para a semana.
Acompanhada por um grupo de bailarinas vindo diretamente de sua terra natal, Shakira resgatou em cena outro tesouro notável da Colômbia: a champeta. O ritmo, de origem afro-colombiana e bastante popular em bairros da periferia de Cartagena de Índias, tornou-se febre no Caribe ainda na década de 1930. Levaria pelo menos 40 anos para se popularizar, depois firmando-se como um movimento social, nos anos 1970.
Horas depois do fim da apresentação no Hard Rock Stadium, em Miami, a coreografia do momento já era febre no TikTok. Nasceu aí um dos primeiros grandes challanges da artista.
Veio também do Caribe o mapalé, dança oriunda da cultura afro-colombiana cujos movimentos são rápidos como o de um peixe. Um marco na cultura popular, seus passos remontam à repressão dos anos de colonização espanhola, que chegou a demonizá-lo como sendo uma representação da bruxaria, prática proibida pela coroa e pelo clero.
Em mais um momento solo, Shakira decidiu introduzir um típico batuque entre uma música e outra. Foi o suficiente para chamar a atenção.
Não resta dúvida de que Shakira e Jennifer Lopez souberam usar muito bem seus respectivos momentos no palco. Com pouco mais de 6 minutos cada uma, elas reservaram trechos de sua apresentação para fazer brilhar duas diferentes vertentes da salsa. Enquanto Shakira, na companhia de Bad Bunny, interpretou uma versão alternativa de “Chantaje” produzida à moda barranquillera pelo lendário Chelito de Castro, JLo apostou na tradicional salsa porto-riquenha, responsável por encerrar o show com seus extravagantes trompetes.
Com a questão da imigração na pauta e em pleno governo de Donald Trump, Jennifer Lopez surpreendeu ao trazer a própria filha Emme Muñiz dentro de uma estrutura que lembrava uma gaiola. Era uma resposta às políticas adotadas pelo Estado norte-americano em relação a filhos de cidadãos latinos pegos em tentativas de imigração. Com Shakira na bateria, a garota interpretou um medley de “Let’s Get Loud”, faixa do repertório da mãe, e “Born in the U.S.A.”, eternizada por Bruce Springsteen. Ao seu redor, estava ainda um coro com centenas de meninas filhas de imigrantes.
A mensagem não deixou dúvida.
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