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Entrevista: Lia Clark lança novo disco, fala sobre Valesca Popozuda e declara torcida à Linn da Quebrada no BBB 22

Ela está de volta! Lia Clark lançou na noite desta quinta-feira (3) a primeira parte de seu segundo álbum de estúdio, o autointitulado “Lia”. Neste novo trabalho a drag queen reafirma suas raízes no funk, sentimento que foi pertinente durante os dois anos em que passou tentando se reencontrar com sua essência, suas verdadeiras vontades e também com os objetivos de sua carreira.

Ao Papel Pop, a cantora falou sobre como esteve na pandemia e como o período refletiu em seu novo trabalho. Ela ainda falou sobre as referências em cantora que endossam o funk, como Valesca Popozuda, sobre a jornada das drag queens até o topo e, claro, mostrou sua torcida à Linn da Quebrada como a favorita para vencer o BBB 22.

Confira a entrevista na íntegra:

Lia, no anúncio do álbum você escreveu uma carta e disse que os últimos dois anos foram cruciais para você se encontrar. Coincidentemente (ou não) os últimos dois anos foram de pandemia. Nesse meio tempo muitas pessoas acabaram ficando sozinhas e se perdendo, você se encontrou. Como aconteceu isso e como refletiu no álbum?

O começo da pandemia, pra mim, foi um dos momentos mais estranhos e difíceis porque o meu segundo trabalho de estúdio, “É da Pista”, ia comemorar dois anos e eu precisava vir com um novo single porque a gente consome música muito rápido e eu já tinha lançado tudo que tinha pra lançar. Então veio a pandemia e pausou minha vida e meu trabalho absolutamente por completo. Me deu um bloqueio, um desespero e eu pensei que teria que voltar a morar com a minha mãe pelo financeiro.

Eu comecei a ficar tanto tempo sozinho que precisei me reconectar com o amor pela minha arte, porque antes de lançar o “trava trava” eu estava muito infeliz, não gostava do meu trabalho, nem da minha faculdade e eu estava me reencontrando com essa angústia, então eu falei “não, não é possível. Eu tenho uma carreira nas minhas mãos, eu tenho meu público, tenho uma estética e eu sei que eu posso, assim como fiz no comecinho”, então vim trazendo esse sentimento de superação. Foi nisso que fui para lugares da minha cabeça que eu não tinha acessado e questionei qual seria meu próximo passo. Consegui conectar com o meu eu que ama o que faz e quer se divertir.

A estética desse próximo álbum está bem característica do funk e da origem desse gênero. Como foi adentrar nessa nova era e chegar nesse visual?

Foi uma coisa muito natural. Quando comecei a fazer as músicas eu sabia que queria focar no funk e nesse processo de me reconectar, eu me conectei com o que eu sou, porque eu amo funk, desde o começo fui desse gênero e as pessoas se apaixonaram por mim por isso. Então eu falei “cara, vamos pegar essa era e fazer a era do funk, o mais funk possível”. 

Eu comecei a estudar e a me lembrar de coisas que me inspiraram a ser quem eu sou e, como esse álbum é autointitulado, eu também pensei na minha infância, que foi em um bairro muito humilde de Santos. Eu via os DVDs da Furacão [2000], os vídeos de grandes ícones do funk e eu acho que nada como a favela para representar. Eu precisava trazer isso neste primeiro momento. [O disco] Fala muito do começo da minha carreira, da bixa, preta, montada e que não tinha recursos e nem como fazer o seu trabalho andar. A gente retrata nos looks de tampinhas, quisemos trazer uma coisa bem simples com uma estética bem foda.

Você inclusive citou a referência que teve para a capa, que foi a Valesca Popozuda na Playboy. Quais outras funkeiras serviram de referência para esse trabalho?  

A Valesca, desde minha primeira música, eu falo que é a minha maior inspiração. O meu primeiro baile funk foi pra assistir um show da Gaiola das Popozudas. Eu era apaixonado pela estética e pelo poder que ela trazia nas músicas, um feminismo muito forte. E eu acho que na indústria de hoje ela não é muito valorizada, porque assim como eu, tem muitas pessoas que fazem funk que com certeza só surgiram porque Valesca estava lá para pavimentar esse caminho, assim como Tati Quebra Barraco, Deize Tigrona, Mc Kátia e Mc Nenha. Aproveitei essa capa para homenagear ela, porque eu acho que grandes ícones precisam ser homenageados e lembrados. A gente não pode esquecer da história e de quem veio antes, porque, provavelmente, se não fosse a Valesca, eu nem iria querer ser uma funkeira. 

Quando você começou, pouquíssimas drag queens estavam ganhando reconhecimento na música e hoje, mesmo que ainda poucas, existem as que são respeitadas. Enxergar essa evolução, mesmo que ainda lenta, te encoraja de alguma maneira? O que você pensa quando olha para trás e percebe que é uma das pioneiras dessa leva de artistas?

É muito louco porque faz muito tempo. Quando penso que faz seis anos desde a minha primeira música eu fico “meu Deus do céu”. Quando eu estava produzindo “Trava Trava”, nem a Pabllo tinha lançado a dela ainda. Depois ela lançou e eu estava gravando o clipe e fiquei muito em choque porque sei como a indústria funciona com comparações e fiquei com medo, pensando que iam acabar comigo. Mas lancei e abraçaram minha ideia, em seguida veio Gloria Groove, Aretuza, Kaya Conky e todas as outras.

É muito bom e eu amo ver essa crescente, cada drag que aparece pra mim é uma vitória e cada uma que alcança grandes lugares é uma conquista como um todo. Para mim, a última grande conquista foi a Gloria Groove ganhando o Show dos Famosos. Para mim isso é histórico e ela mostrou que realmente drag queen é mais que isso. A Pabllo já tinha mostrado pro Brasil todo e agora Gloria mostrando em um programa que é super conhecido por ser assistido pela família brasileira.

Com certeza me encoraja porque sei que eu posso mais e todas podem mais. A gente tá conquistando isso aos poucos, mas acredito que daqui uns 15 anos a gente vai ficar passado e vão olhar a gente como momentos históricos para as que vão surgir lá na frente alcançarem lugares cada vez maiores.

 

“Eu Viciei” e “Sentadinha Macia” já ganharam clipes e eu queria saber sobre a parte visual: qual vai ser a próxima faixa a ganhar um registro? “PQP” com MC Naninha?

Essa é uma grande incógnita pra mim enquanto artista e empresário, porque eu sou o meu empresário desde sempre. Então o meu artista sempre quer fazer clipes de todas, mas o meu empresário vai e corta um pouquinho as asas. Nesse primeiro momento, vamos lançar um visual para cada faixa porque eu acredito muito no CD como um todo e quero que todas tenham a mesma atenção. Porém, feat sempre é poderoso, uma música com dois artistas são dois poderes. Mc Naninha para mim é uma artista muito talentosa e não sinto que ela ainda tenha sido trabalhada de um jeito certo no mundo musical e eu acho que talvez venha esse momento no “Lia pt.1”.

 “Viciei”, parceria com a Pocah, foi a primeira música desse projeto e foi lançada há quase um ano atrás, quando ela ainda estava confinada no BBB. O álbum já estava formado naquela época? Houve alguma mudança na setlist ou em outro aspecto nesse meio tempo?

Já estava quase todo formado, eu tinha mais da metade do CD quando lançou “Eu Viciei”. Já tinha também o conceito e a ordem cronológica que eu queria lançar, tanto que queria que “Sentadinha Macia” tivesse vindo antes de “Eu Viciei”, mas a Pocah foi pro BBB e essa oportunidade de ouro a gente não pode perder. Depois rolou uma confusão porque tinha uma música que queria muito que entrasse no CD, já estava produzindo, mas eu não sentia muito ela e fiquei martelando. Quando desisti, veio “Vrau”, que foi a última a entrar no álbum.

Por falar em BBB, você tá acompanhando essa edição? O que tá achando? 

Então, eu ainda não estou muito apegada a esta edição. Quem me segue pelo twitter sabe que eu comento até o que não deve. Obviamente eu quero que a Lina ganhe, porque uma travesti precisa ganhar esse negócio e pra mim ninguém melhor que a Linn da Quebrada. Eu lembro de conhecer ela muito no começo da carreira dela, ela me mostrando o clipe de “Enviadescer”. Ela é muito inteligente, é a melhor pessoa para estar lá dentro e vencer, muito além de ser a representante, ela é uma pessoa incrível.

Você iria se te chamassem?

Quase certeza que eu iria, é uma visibilidade muito foda que eu queria alcançar e ainda sairia com um milhão e meio, né? Tá ótimo. E foi o que Anitta falou: espero que ano que vem seja uns bons três milhões que vai deixar a gente mais animada ainda. Eu enfrento muitas barreiras, assim como vários artistas LGBTQIA+, que estar todo dia no maior reality show do nosso país vai ajudar a quebrar.

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