A banda inglesa Bastille dominou todas as paradas e rádios ao redor do mundo em 2013 com a faixa “Pompeii” que, mesmo quase dez anos após o lançamento, voltou a viralizar em plataformas como o Tik Tok. Acontece que a música foi só a ponta de um iceberg cheio de canções que fazem o público refletir e admirar ainda mais a sonoridade única da banda. Sonoridade essa que será ainda mais profunda e repleta de referências futurísticas acomodadas em “Give Me The Future“, novo álbum que chega no próximo dia 4 de fevereiro.
O Papel Pop conversou com Dan Smith, vocalista do grupo, que aqueceu ainda mais o lançamento e falou sobre a atmosfera futurística que está ao redor deste novo projeto, a evolução da banda até o momento, a nova sonoridade em que estão adentrando e claro… o que podemos esperar para o show histórico que farão no Rock In Rio 2022.
Confira o videoclipe de “Shut Off The Lights”, lançamento da banda e, abaixo, a entrevista na íntegra:
Vocês estiveram no Brasil em 2015 pela primeira vez e se apresentaram no Lollapalooza. Sei que os brasileiros são fãs bastante apaixonados, mas gostaria de saber : existe alguma memória específica do tempo que passou no Brasil ou algo que você gostaria de repetir quando voltar?
Sim! Lembro de dirigir pelo Rio de Janeiro e ver a cidade pela primeira vez. É sempre muito surreal quando você conhece a cidade pelos filmes, pela TV e livros e poder chegar lá e ir para todos os lugares incríveis, é um privilégio. Eu sempre quis ir para o Brasil e eu me sinto muito sortudo que, com a nossa banda, podemos ir para tantos lugares incríveis. Foi muito legal e tivemos noites muito legais em alguns bares. Lembro também de entrar no palco e ver o tanto de gente que estava lá e a maneira incrivelmente entusiasmada que a plateia era, e como você disse, o quão alto era. É louco pensar sobre as músicas que você escreve no seu quarto começar a tocar em um país que nunca foi e ver toda essa gente cantando de volta para você.
Essa deve ser a melhor parte! Mas agora vamos falar do novo disco: não apenas em “Give Me The Future”, mas eu sinto que diversas canções do Bastille carregam uma letra bastante profunda sempre acompanhada de uma melodia bastante energética. Esta maneira de fazer música é algo idealizada para as canções parecerem menos ‘pesadas’ ou é algo que flui organicamente durante o processo?
Definitivamente flui de maneira orgânica. Uma coisa muito legal que acontece na música pop é aquele elemento que apresenta uma melodia bem animada que faz você se sentir bem, mas que acompanha uma letra com aspectos desafiadores e também um pouco complicados. Eu amo compor melodias e os sons aparecem na minha mente, mas eu sempre acabo escrevendo letras meio complicadas. Nesse álbum quisemos fazer algo meio ficção científica e nesse gênero as coisas são desafiadoras e com versões de um futuro complicado, retratando tamém um presente que é difícil e estranho. Mesmo definindo que o disco seria como uma válvula de escape, com uma sonoridade que faz você querer dançar, há algo em mim como compositor que sempre me traz de volta para letras mais confusas e desafiadoras. É como somos.
Este é o quarto álbum de estúdio e também o trabalho mais diferente da banda até aqui. Assim como vocês estão explorando novas sonoridades, sinto um trabalho mais ousado e também mais lúdico, imaginativo. Como você enxerga essa evolução na identidade da banda e por que agora é o momento para tal mudança?
Nós fizemos três álbuns e eu escrevi eles e o processo era pequeno em relação às pessoas envolvidas. Sempre vi os três discos como uma trilogia e nós fechamos essa trilogia, ficamos pensando sobre o que queríamos fazer no próximo e eu acho que quisemos fazer algo novo e excitante, mudando o nosso processo criativo um pouco.
Pareceu uma boa ideia colaborar e trazer pessoas diferentes que admiramos, que queríamos trabalhar em conjunto e até mesmo amigos para o nosso mundo. Tirando o fato de que fizemos esse álbum durante vários lockdowns, é um dos nossos álbuns mais colaborativos até agora. Só queríamos mudar e nos desafiar, colocar as coisas em espaços que não estamos confortáveis e que parecem novos. Foi algo vital para nós. Pegamos um tema e exploramos sonoridades que não exploramos antes e que não vamos explorar novamente.
O álbum todo fala muito sobre a idealização de um futuro, mas também sobre usar os sonhos como uma válvula de escape da realidade e fazer coisas que pessoalmente não são viáveis em determinado momento. A ideia do mundo sobre um futuro material nem sempre está relacionada diretamente com os sonhos pessoais, mas estes são dois tópicos que se conversam muito no disco. Qual a relação entre sonhar e idealizar um futuro na visão artística da banda?
Eu acho que sou muito interessado em pessoas que veem o futuro à nossa frente, em noticiários, e o quanto obscuro parece. Vemos como a mudança climática está mudando comunidades ao redor do mundo o tempo todo, isso é aterrorizante e não sabemos o que fazer com isso. Mas também tem muitas pessoas por aí que são ativistas, cientistas e que olham para isso e, ao invés de enterrarem suas cabeças na areia e ficarem depressivos, essas pessoas imaginam um futuro melhor e fazem o possível para transformar esse futuro.
Tem algumas linhas no álbum que falam sobre imaginar o futuro e trazer essas ideias para um mundo real, é um conceito pelo qual sou muito interessado. A ideia principal do disco não é ter uma grande mensagem, mas explorar essas ideias. Existem tantas versões do futuro que existem agora, e que existiram no passado e que nós já vivenciamos. O presente, vivendo por telas e pela tecnologia, é uma ficção científica estranha, mas é um futuro que vivemos agora.
O álbum fala sobre como a vida pode ser estranha e a maneira que a ignoramos, ou que a confrontamos, ou até mesmo tentamos viver vidas diferentes com a internet. Mas foi importante também não termos julgamentos no álbum. Foi legal fazer um álbum sobre o futuro e finalizar ele com uma canção que diz para você não se preocupar com ele.
Aspectos futurísticos estão muito presentes na sonoridade das faixas, mas também nos materiais visuais que foram lançados até agora. Quais foram as inspirações para este resultado?
Nós queríamos criar nossa própria ficção ao redor do álbum, então inventamos uma empresa de tecnologia falsa chamada “Future Inc.” como uma maneira de fazer graça com todas as grandes empresas de tecnologia que têm o controle de toda a nossa vida. Eu acho que os visuais em um álbum é só uma maneira de expandir esse universo para mostrar diferentes pontos e dizer coisas de várias maneiras. Também é uma ótima oportunidade para colaborar com outros diretores e jovens escritores. É animador colaborar nessas esferas não musicais. Quando fazemos um álbum, vivemos neste universo por seis meses ou um ano e eu quis fazer de uma maneira com que ele continuasse interessante para mim.
A faixa “Pompeii” foi lançada em 2013, há quase dez anos atrás. Eu percebi que a banda também é bastante ativa no TikTok, então gostaria de saber: como é ver a música viralizando novamente em uma atmosfera completamente diferente da que foi lançada, inicialmente?
É surreal para mim que esta música tenha sido lançada há dez anos atrás, parece que foi ontem e isso é muito doido. Eu acho que com essa música sempre será incrível vê-la indo para novos lugares e ver pessoas fazendo cover dela, ver em filmes e em séries. É uma das coisas surreais em ter uma música que atinge tantas pessoas. É satisfatório ver que ainda continua com as pessoas. É louco pensar que escrevi aquela música no meu laptop.
Não poderia finalizar essa entrevista sem falar do Rock In Rio! Este ano, em setembro, vocês voltam ao Brasil depois de sete anos para se apresentar no palco principal do festival. Como se sente e o que podemos esperar?
Bem, estamos muito ansiosos para voltarmos ao Brasil. Sempre quis tocar no Rock In Rio e eu espero que seja uma festa muito divertida. Queremos mostrar nosso novo trabalho, mas também tocar músicas que todos já conhecem e queremos ser ridiculamente divertidos. Esperamos ter algumas surpresas também. Estamos loucos para ir para o Rio e tocar logo.
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