Em painel apresentado neste domingo (5) por Mônica Souza, filha do ilustrador Maurício de Souza, membros do Mônicaverso prometeram grandes novidades para da Turma da Mônica em 2022, a começar pelo personagem Horácio. O dinossauro ganha, nos próximos meses, outros dois volumes antológicos que resgatam sua trajetória.
Em posição de destaque na produção de Souza, o personagem surgiu há cerca de 70 anos durante atividades do criador no colegial. “[Para criá-lo] Eu me baseei em um grande amigo”, disse, bem-humorado, referindo-se a suas origens. “Daí havia um proposta de um baile de formatura de ginásio e faltava fazer uma caricatura do time. Eu o representei com um desenho que se parecia com o Horácio”.
Maurício de Souza também destacou as intersecções existentes entre criatura e criador, além do sucesso da compilação de tiras, que já teve dois volumes publicados. O último deles, que reúne desenhos feitos entre 1969 e 1978, teve sua tiragem inicial de mil exemplares esgotada em 4 minutos.
“Ele [Horácio] me imita. As situações, as tramas, os dramas que os dinossauros vivem, ele reage como eu reagiria e isso, realmente, me passou desapercebido. Quando eu era repórter ainda, desenhando, quando saia alguma novidade publicada, aí meus colegas falavam “Aconteceu algo com você?”. Percebi que estava me expondo, repetindo acontecimentos na linguagem dos quadrinhos. Foi indo, foi indo, não consegui me livrar do personagem totalmente”.
Para os próximos volumes, Souza realizou um intenso trabalho de busca dos originais, acompanhado por um time de pesquisadores. O resultado, segundo o próprio, foi bem-sucedido e existe em pauta a possibilidade de desenhar uma última página, inédita, para o encerramento da coleção.
Apesar de o longa-metragem “Turma da Mônica: Lições” ter sido um destaque, inclusive com a exibição de uma cena inédita, o grande momento do painel MSP foi o encontro virtual de Souza com Jim Davis, criador do Garfield. Juntos, eles lançam em breve um crossover entre a Turma da Mônica e o gato norte-americano.
Durante cerca de 20 minutos, os autores fizeram perguntas a respeito dos processos criativos de cada um e das particularidades de seus personagens.
“Para fazer as tiras do Garfield eu trabalho com uma equipe que está comigo por pelo menos 30 anos, fazendo um trabalho digital”, explicou Davis, direto do escritório que mantém em casa, no estado norte-americano de Indiana. O cartunista, de 76 anos, também revelou que não abre mão de acompanhar todas as etapas do processo, passando pelos roteiros e correções aos esboços, até chegar à fase de finalização.
Atento às novas demandas do mercado e às transformações socioculturais, o criador afirmou ainda que as histórias do bichano são fundamentais na garantia de sua vitalidade e desejo de seguir em atividade.
“Escrever as tiras é o que me faz sair da cama, é a parte mais divertida do processo. Garfield tem mais de 40 anos, os leitores mudaram, o mundo, minha escrita amadureceu. É importante que o personagem continue crescendo e adaptando seu humor para o tempo presente. Não faço comentários políticos, mas os pequenos insights do Garfield reverberam, eu mostro o lado mais leve, mais humorístico de cada dia. Espero que isso faça as pessoas melhor”.
Condutor das perguntas, Maurício de Souza brincou com o amigo em alguns momentos, rendendo-se em elogios ao relembrar um encontro que ambos tiveram em São Paulo, anos atrás. Na ocasião, Souza, que já teve um animal de estimação chamado Bidu, quis saber a origem do personagem Garfield e se o autor já tinha tido um gato com esse nome. A resposta foi surpreendente.
“Nunca tive um gato com esse nome”, divertiu-se Davis. “Na verdade, Garfield é o nome do meu avô, James Garfield David. Um homem grande e meio rabugento, embora seus olhos denunciassem doçura, ele era um cara legal. Eu o moldei de acordo com pessoas que conhecia, ao invés de gatos. O último [pet] que tive se chamou Nermal”.
O encontro se encerrou com o cartunista fazendo uma ilustração exclusiva para o público brasileiro.
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