Em mais um ano de cerimônias realizadas em ambiente virtual, a CCXP Worlds escolheu como grande homenageada a cartunista e chargista Laerte Coutinho. Durante cerca de 20 minutos, a artista repassou, em entrada por videochamada, a própria trajetória.
*Veja as principais atrações da CCXP Worlds 2021 e da Tribo Game Arena by Fanta!
Em atividade desde os anos 1970, Laerte é responsável por uma das mais relevantes obras das artes visuais em língua portuguesa, marcada por charges e personagens que se voltam para as questões de gênero, os direitos humanos e a luta contra o autoritarismo.
“De alguma forma, quando mais jovem, pensava em fazer cinema, teatro, pensei em ser música”, explica. “Eu gostava de desenhar, mas não imaginava que pudesse ganhar a vida [com isso]. Eu mesma demorei a entender o desenhar e criar histórias como uma coisa que pudesse ser meu meio de vida”.
A conversa, que abriu os trabalhos do Artists’ Valley, sala digital que se dedica a celebrar a arte de criadores nacionais, também se centrou em aspectos técnicos como o funcionamento e o despertar de seu processo criativo.
“Eu vejo filmes, converso com as pessoas, leio jornal e tudo funciona como uma chuva de elementos pra gente pensar. É comida pro cérebro”, disse, bem-humorada, a cartunista. “Como faço [cartoons] há 50 anos é meio instintivo, sei mais ou menos como fazer pra produzir uma história ou desenho, o que não sei bem é o que vai sair disso”.
Pela tela, Laerte revelou ao público uma tira inédita intitulada “Autopompa”. O material, segundo Coutinho, deve ser publicado no próximo dia 8 e traz um de seus personagens desenrolando uma espécie de tapete sobre os próprios pés enquanto caminha. “Neste trabalho, quis imprimir a ideia de uma pompa portátil. No geral, costumo gostar ou me identificar com o que estou fazendo naquele momento. Depois que fiz, principalmente depois de publicado, não me limito muito mais. Pelo contrário, é meio incômodo”.
Em 2021, a criadora publicou “Manual do Minotouro”, uma antologia com tiras feitas entre os anos de 2004 e 2015 pela Companhia das Letras. Quando questionada sobre mudanças estruturais que ocorreram nas gags visuais entre o momento presente e seus anos de formação, atribuiu à expansão da internet o mérito por formas mais democráticas de compartilhamento e impacto.
“Houve uma mudança importantíssima na velocidade, no alcance e na possibilidade de publicação”, disse. “Isso é uma diferença que tem propiciado o aparecimento de muitos e muitas artistas jovens que não precisam mais fazer um portfolio físico e sair por aí percorrendo redações. Você faz um portal, um site e organiza o seu trabalho, alcança muita gente. Hoje, as pessoas têm públicos que eu demorei muitos anos, décadas pra conseguir”.
A criadora não poupou críticas ao atual governo e a falta de implementação de políticas culturais.
“A gente conseguiu vencer a etapa da ditadura, conseguimos elaborar estruturas de funcionamento que podem vir a atender a população brasileira, que podem vir a proteger o meio ambiente. Mas ao mesmo tempo é possível que isso tudo venha abaixo. Me pego as vezes pensando em como é frágil. Estamos falando da história de um país, de pessoas e tradições que existem, mas também de possibilidades de mudança muito radicais. Falar em democracia e dar de cara com Bolsonaro, Moro, com essa porra, é impressionante”.
Em intensa produção, ela destacou como sonho “continuar produzindo” e voltou a citar a criação de uma história em quadrinhos que já se desenrola há alguns anos, um projeto que “não sonha em terminar”.
A respeito de seu papel como artista hoje, disse preferir apostar em uma percepção de realidade singular, que se centra nas atividades e funções individuais.
“As pessoas tem papéis a desempenhar conforme a situação. Se ela tem determinada consciência, participa de um processo de mudança, ela vai fazer o que tem que fazer se for professora, autora de quadrinhos, qualquer outra profissão. Quando penso no papel do artista, esse papel é o das pessoas, de acordo com a sua consciência. É ter um papel na realidade”.
A CCXP Worlds tem neste ano 581 artistas participantes, espalhados em mesas virtuais. Com a premissa de garantir maior diversidade e pluralidade neste ano, o evento traz entre os participantes 42% de mulheres, outros 43% autodeclarados LGBTQIA+ e 25% negros de pessoas autodeclaradas pardas, vindas das cinco regiões do País.
Que tal também curtir o lado gamer do evento? O palco Tribo Game Arena by Fanta contará com horas de programação, contando com stream de jogatinas, entrevistas com influenciadores do mundo gamer, presença da tribo com Gaulês, Liminha, Nahzinha e muito mais! O acesso ao palco Tribo Game Arena by Fanta é gratuito e pode ser acessado em ccxp.com.br! Acompanhe também as novidades do palco pelas redes da Fanta: @fantabrasil.
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