Filha de um militar equatoriano e de uma professora de espanhol norte-americana, a jovem Christina Aguilera começou a carreira ainda criança. Antes mesmo de fazer parte do Clube do Mickey Mouse, atração de TV que lançou seu nome para o showbizz ao lado de colegas como Britney Spears, Ryan Gosling e Justin Timberlake, a artista já mantinha uma intensa convivência com idiomas que não fossem o inglês.
Seria natural que, ao engatar uma carreira musical, ela também quisesse lançar um projeto na língua que volta e meia ouvia a família se comunicar. No ano 2000, um ano após sua bombástica estreia nos charts, chegaria às lojas “Mi Reflejo”, um projeto musical que mescla versões de faixas já conhecidas e material inédito.
Hoje, 20 anos depois, a realização se vê evocada às vésperas do lançamento de um novo projeto, ainda envolto em mistério. Para o decorrer de 2022, Aguilera planeja não apenas a estreia de EPs cantados em espanhol que, ao fim, devem formar um disco, mas também uma renovação visual da própria imagem e o encerramento de um ciclo começado décadas antes.
O que já se conhece até o momento do primeiro capítulo, “La Fuerza”, são duas canções. A primeira delas, “Pa Mis Muchachas”, é fruto de uma colaboração com três jovens nomes do pop em espanhol. Além das argentinas Natti Peluso e Nicki Nicole, canta ainda a norte-americana Becky G, de ascendência mexicana. Juntas, elas protagonizam um hino de empoderamento que se baseia na guaracha, tradicional gênero mexicano.
Logo em seguida, como parte de uma continuação visual, surgiu “Somos Nada”, uma balada grandiosa que explora, novamente, os já tradicionais vocais de Aguilera a partir do apelo emocional.
A ideia para as futuras estreias deve ser mais ousada em termos de marketing e centrada na produção de conteúdo exclusivo. A fórmula estrutural usada em “Mi Reflejo” (que entre suas versões bilíngues deu notoriedade a “Genio Atrapado”/”Genie in a Bottle”) não faz mais tanto sentido em um mercado em que as novidades chegam aos montes semana após semana. Mas o principal ponto de observação é o fato de que esta é uma oportunidade de suscitar por parte da crítica reavaliações de comentários negativos ou moderados feitos no passado.
Embora tenha conquistado bons números nos charts (foram 19 semanas no topo da parada Top Latin Albums, da Billboard) e recebido três indicações ao Latin Grammy, entre elas uma vitória por Melhor Álbum de Pop Vocal Feminino em 2001, Aguilera não agradou às revistas norte-americanas e só conseguiu, de fato, respeito de publicações como Entertainment Weekly e Rolling Stone a partir de seu trabalho seguinte. Com “Stripped” (2003) também veio uma consequente mudança de visual e foco no público do Hemisfério Norte.
Em resenha de teor agridoce publicada no site CDNow, o repórter Eliseo Cardona rendeu elogios à performance vocal de Aguilera, a qual asseverou “precisão, elegância e força”, ao mesmo tempo em que criticou a tradução literal do espanhol para o inglês, afirmando ter dado “boas risadas e até mesmo bocejado em determinados momentos”. Isso não o impediu de elogiar momentos grandiosos como “Cuando Estoy Contigo”, que lhe conferiu status de “cantora de salsa confiante e expressiva”, além de sua versão de “Contigo a La Distancia” sendo esta a faixa de maior destaque do projeto.
De fato, Christina Aguilera não pretende se repetir, muito menos cair em armadilhas reducionistas quanto a sua potência e sua verdade. Agora, o que ela parece querer tal qual durante a publicação de “Liberation” é se conectar consigo mesma e produzir um LP que contemple seus anseios e sentimentos mais íntimos – não os desejos alheios.
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