Desde que o primeiro trailer de “Casa Gucci” foi divulgado, um dos aspectos que mais chamou a atenção foi o sotaque italiano empregado pelos atores. Para ser ainda mais direto, é possível dizer que a interpretação de Lady Gaga como Patrizia Reggiani, acusada pelo assassinato do empresário Maurizio Gucci, foi o centro das atenções.
Com o longa finalmente chegando às salas de cinema, a revista The Cut convidou uma especialista em sociolinguística para avaliar o acento dos protagonistas. Segundo a professora Anna De Fina, do departamento de Língua e Literatura Italiana da Universidade Georgetown, em Washington D.C., o que a cantora e atriz apresenta em cena “não é um autêntico sotaque italiano”.
Sem desmerecer a atuação, ela pontua que o desafio enfrentado por Gaga foi expressivo visto que “mesmo para um linguista, os sotaques são difíceis de definir”, mas que sem as letras “r” vibradas e as chamadas vogais expansivas, o ritmo e entonação da artista acabou se aproximando mais da pronúncia russa.
A professora Mariapaola D’Imperio, da Rutgers University, vai além e diz que a missão de incorporar um sotaque como este era um fator complicado para o elenco visto que uma acentuação “pura” do italiano não existe.
“Até a Segunda Guerra Mundial (1939-1944), italianos não falavam italiano como conhecemos hoje. Só dialetos, que ainda falamos. O [idioma] italiano que consideramos padrão é algo inventado para termos formais, digamos, porque jornalistas e atores, por exemplo, precisam ter uma dicção profissional. É algo que as pessoas não usam na vida cotidiana, nem mesmo (necessariamente) em radiodifusão, atuação ou em posições política”.
Ela também explica que, como no Brasil, há variações linguísticas não apenas de região para região, mas também de cidade para cidade, ainda que em se tratando de curtas distâncias – uma preocupação atendida pela própria Gaga, ainda que não propositalmente.
“Comecei [estudando] um dialeto específico de Vignola, depois comecei a trabalhar no modo de falar de classe alta, que têm mais adeptos em lugares como Milão e Florença”, disse a atriz em conversa com a Vogue britânica. “No filme, você ouvirá que meu sotaque é um pouco diferente dependendo de com quem estou falando”.
O esforço feito por Gaga não pode ser dito de outros nomes. A revista argumenta que Jeremy Irons (Rodolfo Gucci), por exemplo, “soa como um híbrido de polonês e britânico e está pronto, como sempre, para narrar um passeio turístico pela Abadia de Westminster”. Al Pacino (Aldo Gucci) e Adam Driver (Maurizio Gucci), por sua vez, são vagos em sua proposta, soando qualquer coisa menos italianos.
Mas, afinal, qual ator conseguiu desempenhar melhor a função? Jared Leto, o dottore Phil, segundo D’Imperio. Ela destaca a forma como o personagem de Leto divide suas sílabas únicas em duas – “chic”, por exemplo, torna-se “chic-e” – e a maneira como ele alonga as palavras em diálogos com Maurizio Gucci. De Fina concorda: “É exatamente assim que um italiano falaria.
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