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Fito Páez atualiza seus anos mais selvagens em disco que abre trilogia
O cantor argentino Fito Páez quebrou a hegemonia das bandas de rock ao vender sozinho o montante de um milhão de discos. O ano era 1992 e o LP “El Amor Después del Amor” tocava à exaustão pelas ruas de cidades como Buenos Aires e Córdoba.
Passados quase 30 anos, ele segue em intensa produção. Venceu um Grammy norte-americano em março deste ano e planeja uma série para a Netflix, projeto em que revisitará o disco responsável por impulsionar a carreira. Antes, neste mês de novembro, ele também deu início à publicação de uma nova trilogia musical.
Entre o escapismo e as canções de efeito que simbolizam este novo fluxo criativo, “Los Años Salvages” não é bem um retorno ao passado calcado em nostalgia. Nas letras, um Páez radiante e observador costura o passado e o presente em uma espécie de crônica moderna. Entram aí questões de amor, identidade, sociedade e comportamento, para além de homenagens que se manifestam em letras complexas e revestreses instrumentais.
Lançado em uma segunda-feira, 22 de novembro, o projeto também burla a lógica do streaming que reserva à sexta-feira o título de dia sagrado. Elvis Costello e a ex-namorada, Fabiana Cantillo.
Para fevereiro, está previsto um volume totalmente composto por faixas inéditas e instrumentais gravadas em parceria com a Orquestra Sinfónica Nacional Checa; em abril, por sua vez, chega às plataformas um projeto no esquema voz e piano chamado “The Golden Light”.
Projetos triplos, enredados como um fio de missangas não são novidade para Páez. Em 2013, o cantor estreou com diferença de poucos meses os álbuns “El Sacrificio”, “Dreaming Rosário” e “Yo Te Amo”. Especialmente o segundo obteve expressiva repercussão em virtude de seu caráter beneficente. A renda obtida foi integralmente revertida aos atingidos por uma explosão na cidade em que nasceu, Rosário. O acidente deixou 21 mortos.
Agora, a diferença é que ele quer elevar as sensações muito mais do que tentou nos anos em que ganhou notoriedade. Talvez, um reflexo de seu encontro com as novas gerações. “O título do álbum não faz nenhuma alusão nostálgica aos anos selvagens passados”, conta ao jornal Clarín. “Mais do que tudo, ele se concentra no presente”.
Escrito durante a pandemia, que define como “um período estranho e tão delirante na vida de todos ao redor do mundo”, o projeto foi gravado em apenas 3 sessões. Portanto, as canções tem o pulso e a respiração desses momentos em que a palavra final deve ser “liberação”.
Entre as surpresas, está o resgate de faixas antigas como ‘Beer Blues’, uma música que compôs e interpreta com Elvis Costello. “É a história de dois amigos que se encontram em um bar em Londres e depois viajam para Rosário. Eles se sentam para beber e escrever sobre suas histórias pessoais e pontos de vista comuns”
Também do baú de recordações surge ‘Shut up’, fruto de um passado não muito distante, e “Encuentros Cercanos”, dedicada à ex-namorada Fabi Cantilo.
Entre brindes e inquietações, “Los Años Salvajes” é mais um trabalho típico de Páez – que, embora não se apoie em fórmulas gastas, se recusa a cantar calmarias inexistentes enquanto segue seu caminho, uma longa trilha de teimosias.