Mateus Carrilho convocou Gloria Groove para seu novo single, “Noite de Caça”, que estrou na noite de hoje (9). Com uma mistura singular entre reggaeton e pop, a faixa que acaba de ganhar as plataformas digitais também é trilha de um envolvente videoclipe.
Há alguns dias, o Papelpop conversou com o artista que segue a carreira solo após o fim da Banda Uó. No bate-papo, ele revelou as influências da canção, assim como abordou o atual momento da carreira e temas que permeiam os versos como sexualidade, liberdade e relacionamentos intensos.
“Essa música começou a ser feita um pouco antes da pandemia, a ideia dela vinha sendo trabalhada mais ou menos nessa época”, relembra o cantor. “Quando veio a pandemia, a gente mudou totalmente até a maneira de escutar músicas. Uma coisa que observei foi que as pessoas começaram a optar por sons mais calmos, né? A gente estava vivendo aquele momento de drama.”
Mateus conta que o convite para Gloria foi feito naquele período. “Foi a primeira pessoa que veio na minha cabeça”, explica. Os dois se conheceram quando a queen ainda fazia cover de Amy Winehouse. Quando a proposta foi feita, a cantora estava entrando na era do EP “Affair”, mais voltado para canções românticas guiadas pelo R&B. Assim, decidiram adiar a produção para um momento propício.
“Agora, quando surgiu essa retomada de todo mundo, a primeira coisa que ela falou foi ‘Amigo, vamos! Esse é o momento! Eu vou me lançar agora como Lady Leste, acho que essa é a hora da gente trazer isso de volta'”, conta.
Dessa forma, Mateus explica que depois de um longo período de isolamento, a música surge em um período de fortes emoções e intensidade. “Acho que nosso momento atual pede uma coisa mais nervosa. Estamos com raiva. A gente já está há dois anos vivendo essa pandemia. É uma coisa que ninguém aguenta mais. Trazer essa temática nesse momento condiz com o meu atual espírito também”, reflete o artista. “Eu acho que ‘Noite de Caça’ instiga essa saudade, essa sensualidade, esse momento que todo mundo quer ir pra noite, de conhecer alguém.”
Ele continua: “É uma faixa lúdica. Ela traz a realidade [de outra forma]. Se você for analisar a letra, todo mundo meio que já viveu essa tipo de relacionamento. É perigoso, até levemente tóxico, mas que acaba fazendo parte da nossa vida uma hora ou outra, né? É muito mais levado pelo lado sexual do que pelo lado romântico”, explica ao lembrar de histórias antigas de quando veio para São Paulo. “Na letra a gente fala de quebrar a casa inteira, transar a noite toda…mais uma vez trazendo a raiva [risos].”
A sucessora de “Pancada”, parceria com MC Dricka, também chega acompanhada de um registro audiovisual. Com cenas ambientadas em uma savana, onde os predadores imperam e o calor domina, a direção é de João Monteiro. O cineasta já trabalhou com Liniker, Gaby Amarantos, Carol Biazin, Urias e a própria Gloria.
Entre as referências citadas na entrevista, o público poderá ver a influências dos trabalhos de Rosalía, Bad Bunny, Michael Jackson e C. Tangana. O último, inclusive, tem sido um dos artistas mais ouvidos pelo cantor atualmente. “É um videoclipe que traduz muita sensualidade que a música tem. Queria fazer um vídeo de casal também, então não coloquei figuração, não coloquei balé dentro da narrativa. Queria imprimir mesmo o que o pop pede de um casal, de Drake e Rihanna a tudo o que a gente vê em videoclipe do gênero”, afirma.
Assista:
Seguindo a trilha de trabalhos anteriores, o conceito do vídeo foi criado por Mateus. “Eu tentei partir pra outros lugares, mas trabalhando com uma drag queen, eu pensei ‘Precisamos fazer esse videoclipe em estúdio. Eu quero a Glória belíssima e estonteante’. A gente consegue controlar melhor a luz, fazer uma fotografia mais perfeita, digamos”, relata o cantor. A ideia era seguir a estética proposta em “Pancada”, pois “é a história que eu venho contando e eu acho que isso ainda tá rolando. Esse universo foi montado em referência a outros videoclipes também.”
Em relação à temática, o cantor nascido em Goiás aborda a liberdade e a diminuição dos julgamentos como pontos fortes dessa transformação social. “Acho que a gente tá vivendo um momento muito legal de quebra de paradigmas. A nossa geração deu uma viradinha de chave em todos os tipos de comportamento. Então, a gente tem questionado tudo. Temos nos perguntado mais ‘por que não?’. Antigamente se a gente fosse parar pra pensar, se você saísse por aí pegando todo mundo era taxado de promiscuo, sujo. Hoje, a gente vê isso de uma outra forma. A nossa liberdade, o nosso corpo, a gente pode fazer o que a gente quiser.”
Quanto aos efeitos do isolamento, que impediu inúmeras de pessoas de se relacionarem, ele reitera: “Depois de termos ficado tanto tempo trancados, questionando várias coisas, todo mundo tá com muita sede de vida. Foram tempos muito sombrios e acho que as pessoas caíram em lugares muito perigosos sentimentalmente. É um momento, acredito eu pelo menos, que não é nem de recuperar o tempo perdido, mas começar a dar valor a coisas que a gente não dava tanta atenção ou deixava passar por simplesmente estar ali vivendo e seguindo o fluxo. Esse tempo de pausa fez com que nós nos questionássemos para saber o que realmente vale a pena, e amar é uma delas. Viver, transar, conhecer gente. Nossa, eu quero muito viajar urgentemente e conhecer um monte de pessoas. Acho que tá todo mundo nessa”.
Mateus ainda reflete as dificuldades sobre ser artista no Brasil, sobretudo neste período conturbado. Apesar das dificuldades, ele se vê em um importante ponto da jornada profissional. “A caminhada de todo artista é difícil. Os bastidores são complicados principalmente aqui no Brasil, onde a gente tá construindo essa história do pop nacional. Eu venho fazendo isso desde os tempos de Banda Uó. Sei o quanto esse caminho foi duro e complicado, mas evolui bastante”, disse. “Estou num momento muito feliz da minha carreira. De toda a minha carreira esse é o momento em que me encontro mais bem assessorado. Eu tenho uma empresária foda, tenho uma equipe que trabalha comigo vinte e quatro horas, então acho que o suporte gigantesco hoje que não é um suporte de artista independente, é um suporte de um artista digamos equipado pra conseguir realizar o meu trabalho.”
“Cheguei na conclusão de que o que eu faço é o que eu faço e que eu tento ser simplesmente original e fiel comigo. É só assim que eu vou ser feliz, só assim vou ser o artista que eu quero ser. Foi uma coisa que coloquei como prioridade”, acrescenta. “Acredito que ‘Pancada’ e ‘Noite de Caça’ são o resultado maduro desse artista que eu quero ser e que eu tenho encontrado. […] Agora, me encontro nesse lugar onde os meus pés estão mais fincados no chão e sei pra onde eu quero ir, o que estou a fim de fazer. Eu amo fazer música pop, é isso que eu sei fazer e eu tô feliz pra caramba!”
E na sequência da canção, um novo projeto está sendo produzido. Na entrevista, o cantor antecipou alguns detalhes sobre seu disco solo. “Olha, o meu disco vai ter músicas bem pessoais. Por exemplo, a minha primeira música de sofrência realista, que eu compus exatamente para uma pessoa. É um problema que eu não vivo mais, mas foi uma coisa que me assolou há alguns anos atrás, que foi um relacionamento amoroso”, revela Mateus. “Eu vou trazer também essas abordagens super pessoais. Eu acho que precisa, engrandece. Eu cheguei também nesse lugar de composição.”
Ouça “Noite de Caça” nas plataformas digitais:
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