Cria das pistas, a jovem Fernanda Abreu e seus vinis eram peça-chave nas reuniões de adolescência antes mesmo de pensar que poderia viver de música. Fã de muitos sons, a artista arrastou multidões nos anos 1980 ao lado dos parceiros de Blitz mostrando como cativar uma festa.
A consciência de que tinha nas mãos o poder de inaugurar ela própria uma nova era só chegou com a estreia de “Sla Radical Dance Disco Club”, em 1990. Nascia ali o que se conhece como pop moderno brasileiro ao mesmo tempo em que houve um resgate da disco music, gênero que teve seu fim decretado uma década antes. Com esse debut solo, uma simples menção à chamada “Fernandona do Baile” fazia com que os DJs orbitassem ao seu redor.
“Encontrava com a galera que fazia parte dessa cena da noite e me diziam ‘Finalmente, uma música em português que a gente pode botar nas pistas!'”, conta a cantora, por telefone.
Com 60 anos recém-completados, metade deles jogando uma bem-sucedida partida de xadrez com a indústria da música, Abreu enxerga a oportunidade de celebrar a parceria firmada lá atrás com os ditos “comandantes do som”. Acaba de chegar ao streaming a coletânea “30 Anos de Baile”, projeto que reimagina sucessos da carreira em versões criadas por jovens e veteranas figuras da cena como Vintage Culture, Gui Boratto, Tropkillaz e DJ Zé Pedro.
No total, foram eleitas 13 faixas das quais 8 ganham versões estendidas. Há também colaborações com os rappers Emicida e Projota, tudo sob a direção criativa do amigo e também DJ Memê.
Incansável como a bailarina que sempre foi, a autora ainda planeja um segundo volume que deve aterrissar em 2022, desta vez apenas com mulheres no mix. Em outras palavras, é a premissa de um baile da pesada que acaba de começar. Nesta entrevista, feita às vésperas do lançamento, ela revê sua relação com a dança, as limitações do machismo e os novos projetos, entre eles uma proposta de exposição que atrela sua própria história à da música urbana no Rio de Janeiro.
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Papelpop: O DJ Memê diz que você ficou conhecida no fim dos anos 1980 como Fernandona do Baile. Diria que as pistas moldaram a artista que você é hoje?
Fernanda Abreu: Não naquele momento, mas lá nos anos 1970. Eu comecei a dançar com 9 anos de idade, mais ou menos em 1970. No meu aniversário de 10 anos eu já escolhi músicas pra minha festa, já imitava o Tony Tornado e os Jackson 5 no espelho. Sempre curti música black, talvez por ser um gênero musical em que a dança se apresenta muito forte. Quando chegou a disco, eu era adolescente, tinha uns 15 anos… aí o bicho pegou. As festas só bombavam quando eu chegava, eu dava uma de DJ e escolhia as músicas mais legais. Ajudei as pessoas a fazerem programas de rádio tempos depois, fui criando uma discografia grande especialmente de disco funk, Parliament-Funkadelic, Kool & the Gang, Taste of Honey, esse momento, sim, foi responsável por moldar minha linguagem musical. Na Blitz também houve um momento de dança, de cantora, mas eu ainda era uma backing vocal. Foi incrível, claro. Tive uma puta visibilidade, o Evandro [Mesquita] era muito generoso e sempre botava eu e Márcia [Bulcão] ali na frente… em outras palavras foi uma escola. Mas quando saí pra fazer meu disco solo, eu tinha certeza absoluta que iria por essa onda da música dançante brasileira, queria tentar achar que música brasileira era essa. As referências que eu tinha até então eram as Frenéticas e o disco “Rita Lee” (1979), um símbolo dessa divisão de águas que seria o momento pop-rock nacional, que bombou logo em seguida. A dance music depois dessa virada de década ficou muito tempo calada. Quando chegou ‘Sla Radical’ (1990) você não tinha nada parecido, ninguém fazia música com programação no Brasil, com bateria eletrônica, com sample. Foi um risco abraçar aquela novidade e o mais impressionante nesse processo, sem dúvida, foi a parceria com os DJs. Teve gravadora impulsionando, rádio tocando ‘Você Pra Mim’ à noite, é óbvio, mas eu encontrava com a galera que fazia parte dessa cena e me diziam: ‘Finalmente, uma música em português que a gente pode botar nas pistas!’. Nesse disco ’30 Anos de Baile’ a gente se reconhece, falo com vários da época, alguns novos também. Foi uma homenagem merecida.
Então dá pra dizer que celebrar 30 anos de baile é uma forma de renovar esse pacto.
Com certeza! Apesar dos apesares, estamos vivendo um momento em que o baixo astral tem dado espaço a outras sensações, gosto muito de ter minha voz nas pistas com essa galera nova. E é um processo que começou até com Vintage Culture, em 2016, quando ele remixou ‘Bidolibido’ – vem daí o único remix não inédito. A partir de então as pessoas começaram a resgatar “Sla Radical Dance Disco Club”, “A Noite”… então acho que vai ser uma experiência incrível, estendida [risos].
Vai sair também um segundo volume, só com meninas comandando a mesa de som?
Vai! Eu quis fazer porque ainda vejo a indústria musical como um ambiente muito masculino. Na verdade, todos os gêneros musicais são. Na MPB você ainda tem um número maior de intérpretes, Maria Bethânia, Gal Costa, Simone, Joana, por aí vai. Talvez seja o nicho que tenha mais mulheres no comando, mais até do que se pensarmos a divisão de gênero existente no samba, rock, soul e o próprio funk há alguns anos… Nas pistas isso não se difere muito, rola um domínio total de DJs homens. Agora, felizmente, existem mulheres que estão entrando nas pista, em estúdio, começando a produzir seus remixes e fazendo esse trabalho de animar a noite com mais autonomia. É bom perceber esse movimento porque nesses anos todos eu acompanhei de perto uma espécie de caminhada da profissão. Em geral, eram caras que simplesmente tocavam e passavam depois a criar em estúdio. De fazer seus próprios materiais, passaram a produzir artistas pop e ganhar visibilidade. Se hoje temos o auge dos beatmakers, que praticamente dão origem às faixas, foi graças a isso.
Muito se fala sobre a mágica das pistas, essa liga necessária que um som deve ter para fazer as pessoas dançarem. Em termos técnicos, o que é indispensável num projeto como esse?
Primeiro: o que eu quis pra esse disco foi trazer uma ideia de diversidade. Fazer um projeto que não ficasse preso só no house, no eletro, no charme, no funk e no trap. Escolhi os DJs e liguei pra todos eles, conversei de perto sobre a proposta porque sei que cada um tem a sua área, a sua pista, algo que é muito claro em cada um. Mas o mais importante pra mim era a masterização. Pedi permissão pra que todos mixassem à sua maneira, mas que deixassem essa função final nas minhas mãos e de Memê. Queríamos garantir uma unidade nas frequências de grave, médio e agudo, acho que são pontos importantes. A gente também optou por dar atenção a algo que as pessoas já estão começando a rever chamado ‘nível de compressão’. Quando você comprime uma música, você aumenta o volume dela, dentro de estúdio. Você vai chapalizando a faixa, ou seja, tirando os picos de grave e agudo pra comprimi-la e aumenta o volume. Os criadores têm comprimido isso além da conta e na pista não se sente tanto o soco do grave. Conseguimos fazer um trabalho estético e sonoro muito bacana.
Não sei se tive a impressão certa… Você também regravou todas os vocais?
Sim! Perguntei pros DJs se seria interessante, o que achavam da ideia, e me disseram ‘Boa, mas queremos que seja muito parecido com o original’. Dei meu jeito, fui lá e regravei cada um de maneira idêntica. A voz de ‘Você Pra Mim’ continua com aquela pegada suave, os textos de ‘Kátia Flávia’, ‘Rio 40 Graus’ e “Space Sound to Dance” seguem no mesmo tom. Eu, na verdade, só costumo trocar isso, em especial pra cima, quando faço show. No disco em geral sai num tom mais grave. Já ao vivo, quando se tem uma pegada de bateria e as programações saem alto, gosto de subir o tom. Cuido bem da minha voz, o meu irmão é professor de canto há anos e tá sempre me orientando, fazendo exercício. Só não me considero caxias, não fico o tempo todo fazendo exercício, aula.. não rola paranoia [risos]. Tem uma coisa muito importante na voz que descobri, em 1995, quando tive uma única vez um calo nas cordas vocais: a voz falada, o jeito com que você se comunica. Na divulgação do disco ‘Da Lata’, naquele mesmo ano, dei uma batelada de entrevistas. Se você não consegue colocar sua voz respirando bem, respirando bem, você a perde. É igual um professor em sala de aula.
São muitos gêneros invadindo esta nova coletânea. Enquanto criadora, concorda com a ideia de que existe uma urgência de sempre redescobrir a música, seus gêneros e subgêneros, para poder acompanhar um determinado fluxo? O artista não assume um pouco essa função de ‘arqueólogo’?
Concordo com você. Eu, como artista, gosto de duas coisas básicas: palco, que é um trabalho totalmente diferente em que você monta e dirige um espetáculo, chama uma equipe de cenografia, coreógrafo, sonorizador, repertório e figurino pra montar uma sequência de faixas em que você vai seduzir aquele público até o fim do show. Esse é um trabalho que adoro, acho incrível. Mas o estúdio, por sua vez, é muito sedutor pra mim. Sempre gostei de acompanhar a tecnologia que vem com a música. As formas de gravar foram mudando e sempre experimentei muito, de pesquisar, de dar uma pirada nos timbres e sons. Talvez em alguns gêneros musicais isso não seja tão permitido, no samba, por exemplo, que é tão tradicional nos instrumentos. Mas é bem a minha praia.
A parte boa das plataformas de streaming é que você pôde democratizar e facilitar uma série de releituras da sua discografia, lançar coletâneas como “Lado B”. Fazer a curadoria desse projeto em questão despertou uma sensação de nostalgia? Confirmou que fez escolhas certas quanto às músicas de trabalho?
Sabe, depois de muitos anos, durante a pandemia, decidi escutar toda a minha discografia e tive uma grata surpresa. Em termos de sonoridade, principalmente, porque as músicas são muito bem mixadas e masterizadas, não tem arranjos datados, nunca fui de optar muito por modismos da época tipo caixa com reverb, que todo mundo usava no início dos anos 1990. Ouvindo hoje, acho que eu fiz muitas escolhas, sim. É claro que algumas faixas poderiam ter sido mais executadas, “Zona Norte-Zona Sul”, por exemplo.
Já que falou dessa safra, “São Paulo-SP” é outra que eu acho que deveria ter tocado bem mais.
Sim, muito mais! Ela é potente, adoro essa música também. Todo disco tem que ter as músicas experimentais, tanto em termos de letra, quanto composição e arranjo. Sempre achei importante, fazendo isso, independente, você fica com uma obra mais consistente. Mas as músicas, afinal de contas, não tocam todas. A real é que quando você põe na rua um disco inteiro, só uma ou duas vão se destacar.
A nova versão de “Jorge de Capadócia” é um exemplo de consistência, ela vibra com ainda mais força.
Esse novo remix me deixou chocada. Não quis nem ouvir o resto, já sabia que era a primeira faixa do disco [risos]. A versão de 1992, é bom deixar claro, foi a primeira música do cancioneiro da MPB que gravei. O primeiro disco teve um repertório totalmente autoral, mas quando começamos a trabalhar no segundo alguém da gravadora logo sugeriu nas reuniões que eu fizesse uma regravação. Logo pensei no Ben Jor e comecei a procurar as faixas que eu gostava. Sempre adorei essa música em todas as versões, a que o Caetano fez nos anos 1970 é incrível. Liminha e eu ficamos imaginando, pensei num refrão falado… E a minha versão original acaba sendo uma puta versão. Inclusive, foi a faixa que chamou a atenção do Bill Mowatt e o fez se tornar produtor-chefe do disco seguinte, “Da Lata“.
Como foi trabalhar e modificar uma faixa tão canônica fugindo dos riscos, das cobranças, das comparações?
Quando “Sla 2” ficou pronto, imagina, um disco com ‘Rio 40 Graus’, ‘Sigla Latina do Amor’ e ‘Jorge de Capadócia’, eu achei de caraque ‘Rio 40 Graus’ era a música que poderíamos lançar e promover. Mas aí me disseram ‘Ah, Fernanda, essa música não vai dar em nada. Ela tem 5 minutos, tem muito blah blah blah, ninguém vai conseguir cantar’. Pra gravadora não fazia sentido nenhum e fomos procurar outra música. Voltaram a me dizer ‘Ah, acho que de repente ‘Jorge de Capadócia’ pode emplacar por ser uma regravação, soa como algo mais simpático’… A verdade é que ainda era arriscado apostar só nessa faixa levando em consideração o fato de que ela é uma reza, nem todas as rádios poderiam estar dispostas a tocar. Dito e feito. Tocou um pouco, mas depois perdeu força por conta de um interesse que existia pela veia pop do meu trabalho consolidada no ‘Sla’. Logo depois, quase automaticamente, ‘Rio 40 Graus’ explodiu de forma orgânica.
O que Jorge Ben te disse quando ouviu a sua gravação original nos anos 1990?
Liguei pra ele assim que gravamos, mostrei o resultado e ele adorou. Nessa ocasião, também perguntei se ele topava participar do videoclipe e a resposta foi ‘Sim’, com a condição que fôssemos até ele. Conseguimos uma imagenzinha rápida, até. Tempos depois, pessoalmente e em uma ocasião mais oportuna, ele me disse: ‘Fernanda, ali nos anos 1990 a minha carreira tava numa fase meio morna. Quando você lançou essa faixa deu um ‘boom’. Fiquei muito grato. Antes dos meus shows eu sempre toco essa versão porque o público ama’. Fiquei chocada. Adoro também a versão dos Racionais, a do Caetano… essa música tem algo de especial. Existe uma sequência harmônica muito foda ali, é quase magnética.
Vejo você como uma das maiores observadoras e contadoras de história dessa ‘cidade maravilha mutante’ que é o Rio de Janeiro. De que forma essas coisas chegam ao seu ouvido? Recebe isso bem?
Eu acho maravilhoso. No comecinho da minha carreira me incomodava um pouco o fato de ser restrita ao Rio de Janeiro. Mas com o andar da carruagem fui vendo que isso era algo potente. O Rio, em si, é uma cidade tão forte dentro do Brasil que eu acabei virando um nome nacional mesmo com essa pegada, esse acento carioca. Cada vez mais me tornei uma marca, uma embaixadora do Rio. Foi acontecendo, fui sendo chamada pelas marcas pra ser a voz da cidade… Hoje tenho muito orgulho disso, tanto que inspirou um projeto pessoal de exposição, ainda dentro dessa celebração dos 30 anos de carreira. Não é, obviamente, uma exposição personalista falando sobre a diva Fernanda Abreu, e sim da história da música urbana no Rio de Janeiro que perpassa a minha obra. Quero falar de morro e asfalto, funk carioca, minhas referências literárias, poesia, explicar por que eu usei um manto do bispo do rosário. Nessa mostra eu conto uma história da cultura urbana carioca passando pelas minhas imagens e criações audiovisuais. Já fui ao Museu da Imagem e do Som (MIS) aqui no Rio de Janeiro, conversei com o pessoal de São Paulo, vamos ver se conseguimos emplacar isso em 2023, qual é a viabilidade. Não sinto pressa, é uma exposição que já tem um percurso interessante, o tempo pode até mesmo ajudar a atualizá-la.
Musicalmente, quais histórias ainda tem vontade de contar?
Tenho vontade de fazer um disco feminino/feminista chamado Garotas Sangue Bom. Queria fazer um feat. com essas novas cantoras que eu curto e que tenham como conexão com o meu trabalho a pista. Tem muita menina nova fazendo, Anitta, Iza, Ludmilla, Gaby, Duda Beat, Letrux, Jade Baraldo, toda a galera do rap. Tem muita mulher fazendo música que conversa com a minha linguagem musical. Veio a pandemia e interrompeu as nossas conversas, achei que não era o caso porque esse é o tipo de projeto que temos que registrar, filmar os encontros, fazer um mini-doc, e aí comecei a pensar que a ideia inicial de releituras não funcionaria tão bem. Agora a ideia é fazer um trabalho de inéditas, compor com essas convidadas. Vamos ver quem vai poder, quem vai curtir. Também tenho pensado em fazer um disco de samba, que meus fãs cobram há muitos anos por eu ter um pé ali no gênero. Gosto de cantar, já tenho uma ideia do conceito, mas preciso fazer mais pesquisa.
Você acaba de completar 60 anos e tem vários projetos em andamento. Sente que está mais sábia, mais criativa do que há 10, 20 anos, por exemplo?
Hoje eu tenho muito mais cultura do que tinha há 30 anos e isso faz diferença na hora de criar. Você tem muito mais repertório, são mais livros lidos, mais vivências, mais fotos, filmes, conversas, encontros, a gente tem um HD mais cheio pra poder acessar ideias legais e repertório pra falar o que te questionam. Agora, eu acho que a gente tem que desconstruir muito essa ideia da juventude a qualquer preço.
E com as mulheres é bem diferente. Ninguém ou quase ninguém faria uma pergunta sobre idade em relação à estética ou às pressões impostas ao Mick Jagger, por exemplo.
Você tem razão, as pessoas não estão nem aí pro Mick Jagger fazendo 60, 70, 80. O que é legal na juventude é a energia, a vitalidade que a gente tem, a vontade de fazer as coisas e sonhar, idealizar. Pra mim não tem nada a ver com a parte da beleza física. Mas por outro lado, também não acho ruim que se fale sobre isso porque tendo uma sociedade como a nossa é importante destacar pras mulheres da minha idade que elas são pessoas que seguem produzindo, são lindas e que não estão jogadas na lata de lixo. Se eu puder ser alguém em quem elas possam se espelhar, maravilha. Particularmente, não tenho nenhuma paranoia com idade. Sei que tenho 60 anos, gosto de dizer isso, pra mim é uma conquista ter chegado aqui com tudo que construí. Não tenho por que fingir que sou mais nova, não sinto essa necessidade. A minha mãe sempre me ensinou que as fases da vida são todas lindas e igualmente problemáticas. Quando você passa da infância pra adolescência, é um dos momentos mais difíceis. Você tem que se incluir em algum grupo pra não ser isolado. É uma merda, muito mais até do que ser velho. Jovens também são cobrados, você tem o desafio de ser bem-sucedido e depois de adulto precisa ter filhos, rola uma puta pressão. Eu tive filho com 30, mas desde os 25 já me enchiam de perguntas. Hoje é ‘Nossa, tem 60 anos e não vai fazer uma plástica’? Tem sempre alguém cobrando e eu acho que a gente tem que tentar viver as nossas vidas em paz. Dá uma certa tranquilidade ter chegado a essa maturidade de uma maneira com a autoestima mais consolidada, você já não liga tanto pro que as pessoas estão falando. Vejo gente sofrendo porque é xingada na internet, fazem isso comigo o tempo todo e não tô nem aí. Fico rindo. Tem gente que se abala, mas pra mim a relevância dos ataques é zero. A sociedade vai te cobrar o tempo todo, sobre qualquer assunto em qualquer momento. Por isso é legal ter seu foco, sua determinação e bora! Tem que ligar o foda-se de vez em quando.
Você acaba de inaugurar uma biblioteca que leva o seu nome. Qual é a sua ligação com a leitura e que peso tem agora, em meio a esse obscurantismo, incentivar jovens da periferia a intensificar seu contato com os livros?
Na minha carreira eu sempre fiz uma ponte entre o morro e o asfalto aqui no Rio. Não consigo ver como um artista que vive aqui também deixe de lado esse olhar mais amplo, não enxergue as riquezas que existem na favela. Quando me lancei como artista solo o funk trouxe uma conexão importante porque eu subia o morro, fazia bailes, vi muita coisa bacana. Sempre me juntei a esses trabalhos sendo parceira da CUFA, do Afroreggae, do Projeto Morrinho, da favela Pereira da Silva. Poder inaugurar essa biblioteca é um super sonho. A grande parte dos livros que eu doei, cerca de 400 livros, eram livros infantis das minhas filhas, de 1 ano até 15. Eu acho que a gente tem que incentivar essa juventude da periferia ao hábito da leitura. O livro liberta. É por aí, sabe? Se você começa a ler, você descobre mundos que você não precisa de carro, nem avião pra chegar até lá. Fiz questão ainda de entrar em contato com o Instituto Maurício de Souza porque vi nas minhas filhas como o gibi assumiu esse papel de iniciação da leitura. O gibi seduz a criança pra começar a ler. Eles foram super parceiros, doaram 300 livros pra biblioteca… Tô muito animada. Esse é um espaço de aprendizado, conhecimento, senso crítico que a gente precisa ter. É isso que vai evitar a gente se torne um bando de maria-vai-com-as-outras, ter nossa própria interpretação de mundo.
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O novo disco de Fernanda Abreu, “30 Anos de Baile”, está disponível nas plataformas de streaming.
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