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Entrevista com Griff: autenticidade, controle criativo e machismo na indústria musical

De herança sino-jamaicana, Griff é uma das grandes promessas do pop britânico. O novo single dela, intitulado “One Night”, ganhou um clipe nesta semana, justamente quando tivemos a chance de entrevistá-la por chamada de voz, enquanto estava em um café super agitado.

Vem ver o clipe!

Na nossa conversa, a artista de 20 anos refletiu sobre vários problemas atuais, como a falta de autenticidade na internet e a forma como o machismo está presente na indústria da música. Tudo isso, no entanto, com otimismo em relação ao futuro: “Eu sempre acredito que existe esperança”.

Ela — que, além de cantar, compor e produzir músicas, também faz as próprias roupas — falou sobre como é ter tanto controle criativo nas mãos e o que espera do primeiro álbum da carreira, ainda sem previsão de estreia, apesar da expectativa do público após o hit “Black Hole“.

A entrevista na íntegra você confere abaixo:

***

Papelpop: O novo single fala sobre ficar revirando paranoias na hora de dormir. Qual dica você daria para alguém que sofre com esse problema e só quer dormir em paz?

Griff: A primeira coisa que faço é provavelmente apenas chorar. Quando me sinto muito fora do controle e há coisas demais rolando, eu sempre faço toneladas de orações na maior parte do tempo. Eu também penso que as coisas passam e é algo do momento.

Mesmo nas músicas com um tom mais triste parece que você tenta ser esperançosa, mostrar uma luz no fim do túnel. Por que?

Porque é importante e honestamente acredito nisso. Acho que você acaba cantando bastante sobre coisas que acredita e eu sempre acredito que existe esperança. Além disso, há muita responsabilidade em ser compositora, cantora e tocar músicas. Eu gostaria de saber que, quando lanço uma música, as pessoas estão escutando em algum lugar, se identificando, se emocionando e acreditando que as coisas vão ficar melhores.

Uma vez você disse que “a indústria é construída a partir de homens que vendem artistas pop mulheres”. Você também tem uma visão otimista em relação a isso ou ainda há muito a ser feito? As coisas estão mudando?  

Acho que sim, de um jeito devagar. Essa mudança vai demorar mais tempo do que qualquer um de nós saiba, sabe? Ontem à noite mesmo, eu estava jantando com Anne-Marie e Mabel. É tão encorajador vê-las com empresárias mulheres e essas coisas. Então, eu definitivamente acho que as artistas estão assumindo mais o controle e mudando a situação, mas ainda, essencialmente, os que controlam gravadoras e essas coisas são todos homens. Acho que isso vai mudar, mas por um processo lento.

Pelas redes sociais, você chegou a mencionar o fato de “One Night” ter sido vazada. Outros artistas recentemente relataram problemas parecidos de forma super aberta. Na sua opinião, isso pode ser um reflexo de quanto artistas em geral estão clamando por maior controle das próprias criações? 

Sim. Acho que os artistas estão definitivamente fazendo isso agora. Mesmo quando o assunto é composição, por causa das redes sociais, todos queremos alguma coisa um pouco mais autêntica. Já foram os dias em que os cantores não sabiam o que cantavam e não acreditavam naquilo. É emocionante que os artistas agora estão chegando e cantando com as próprias vozes.

Por falar em controle, além de ser produtora musical, você canta, compõe, faz suas próprias roupas e dirige clipes. Existe alguma desvantagem em ter tanto controle criativo nas mãos? 

Claro! Muitas vezes eu me sinto sobrecarregada, tipo sinto que não consigo fazer tudo. Então, o lado ruim é frequentemente estar cansada e tentar coisas para depois achar que não funcionaram. Em um processo criativo, nunca é fácil ser precisa e acertar. Eu definitivamente acho desafiador ter tanto controle criativo nas mãos, mas talvez seja por isso mesmo que eu goste.

Como você produz músicas, queria saber a sua visão sobre outro assunto: o que é preciso para que as mulheres ganhem mais espaço nesse ramo?

Provavelmente começa com encorajar as meninas a fazerem isso. Eu nunca teria me tornado produtora se não tivesse o Logic [software de áudio] e a música ao meu redor. Então, acho que é preciso cercar as meninas com mais disso para que elas saibam da existência dessa oportunidade. Quando o assunto é o lado dos negócios, é bem diferente. Apesar disso, como criadora, produtora e compositora, acho que é mais sobre apoiar jovens mulheres.

E, só por curiosidade, você tem planos de investir de verdade em algum projeto relacionado à moda?

Sim. Isso é tipo um sonho muito grande que espero um dia se tornar real. Só que, quando acontecer, quando eu fizer isso, quero fazer bem feito. Quero que seja realmente maravilhoso. Acho que vai custar muito tempo e energia. Então, é tipo: “Foque na música. Faça isso muito bem aí um dia o lado da moda vai poder entrar em cena, com certeza”.

Nos últimos anos, temos visto cada vez mais cantoras se tornando grandes mulheres de negócios. Como enxerga isso?

É bastante encorajador e emocionante. Quando você olha para alguém como Rihanna, vê como ela completamente domina a música pop e agora está arrasando comandando a própria empresa. Pessoas assim incentivam muitas garotas como eu e todas as possibilidades em torno disso.

Para você, parece muito importante ter uma identidade própria e ser fiel ao que deseja. Você até demorou para aceitar ser definida como artista pop por parecer “que vendeu a alma para o diabo”, né? É importante que os artistas consigam se livrar dessa espécie de preconceito com a palavra para que ela possa ser ressignificada?

Com certeza. Acho que hoje em dia é emocionante que artistas possam cruzar gêneros e apenas tentar coisas novas. Não acho que isso deva ser uma caixa. Eu também acredito que os gêneros têm um propósito. Eu digo com orgulho que eu escrevo e faço música pop. É emocionante quando as pessoas estão redefinindo o significado dessa palavra.

Considerando a presença da internet, você acha que é mais fácil ou mais difícil ser autêntica no mundo de hoje? 

Acredito que seja as duas coisas de um jeito muito estranho… Talvez seja mais difícil, porque há muitas redes sociais e você acaba pulando de uma para outra. Publicar seus melhores momentos aleatoriamente faz as coisas ficarem um tanto falsas. A realidade apresentada nas redes sociais por todas as nossas celebridades favoritas e influenciadores apenas não é real. No fim, acho que é definitivamente mais difícil ser autêntica quando há tantas redes sociais em todos os lugares.

E me conta quais são os seus planos para o álbum de estreia! Já tem alguma ideia do que ele vai ser?

Eu ainda estou trabalhando nisso. Honestamente, queria apenas tirar uma folga e viver a vida novamente para ficar inspirada. Faz tanto tempo que eu fiz isso. Então, ainda estou descobrindo basicamente, mas espero ser capaz de fazer um trabalho que eu realmente produza, escreva e ame todas as músicas.

Quais artistas você tem ouvido? Eu queria saber o que pode estar te influenciando enquanto planeja o seu álbum…

Eu sempre escuto muito Whitney Houston e ABBA. Eu tenho ouvido vários álbuns novos, na verdade. Obviamente, o da Taylor Swift é um deles. Muitas coisas novas.

 

Ouça Griff nas plataformas digitais:

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